quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Sonho e Realidade


SONHO E REALIDADE
Nida Chalegre

Do sonho resta a memória

Da realidade também

Quando passa

o momento real

como no sonho

fica apenas a

lembrança


Sonhar e viver

é a mesma coisa

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Zazen


Quando praticamos zazen, nossa mente sempre segue a respiração. Quando inalamos, o ar entra em nosso mundo interior. Quando exalamos, o ar sai para o mundo exterior. O mundo interior não tem Limites e o mundo exterior também é ilimitado. Nós dizemos "mundo interior" e "mundo exterior", mas, na verdade, só há um único mundo. Nesse mundo sem limites, a garganta é uma espécie de porta de vaivém, O ar entra e sai como alguém passando por uma porta de vaivém. Se você pensa "eu respiro", o "eu" está a mais. Não há um você para dizer "eu". O que chamamos "eu" é apenas uma porta de vaivém que se move quando inalamos e exalamos. Ela simplesmente se move, eis tudo. Quando sua mente está pura e calma o suficiente para seguir esse movimento, não há nada: nem "eu", nem mundo, nem mente, nem corpo. Só uma porta que vai e vem.

Assim, quando praticamos zazen, tudo o que existe é o movimento da respiração e, no entanto, estamos cônscios desse movimento. Não devemos nunca nos distrair. Mas estar consciente do movimento não significa estar consciente do eu pequeno, e sim da nossa natureza universal, ou natureza de Buddha. Esta consciência é muito importante porque em geral somos unilaterais. Nossa compreensão habitual da vida é dualista: você e eu, isto e aquilo, bom e mau. Na realidade, tais discriminações são, elas próprias, a consciência da existência universal. "Você" significa estar consciente do universo na forma de você, e "eu" significa estar consciente do universo na forma de eu. Você e eu somos portas de vaivém. E necessário este tipo de compreensão; porém, nem sequer deveria chamar-se compreensão já que é, isto sim, a verdadeira experiência da vida através da prática do Zen.
Shunryu Suzuki

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O tempo e o zen


O filósofo japonês e Mestre Zen Eihei Dogen Zenji (1200-1253) em seu célebre texto Uji (Ser-Tempo), coloca uma interpenetração ou quase identidade entre “ser” e “tempo” e fala desse ponto do tempo:

“Tempo não apenas passa - ainda que mesmo então ele não seja separado do eu - mas ao mesmo tempo está contido em cada instante presente, mesmo aqui e agora em mim, e em cada um daqueles pontos do meu ser-tempo os outros tempos estão incluídos. Ainda que meu instante presente seja sempre um ponto na passagem do tempo, este ponto único inclui os outros pontos passados e futuros.”

Para um Zen Budista, o tempo e o ser têm uma indissolubilidade, cada ser-tempo vive seu ser-tempo e o tempo próprio é uma experiência única e distinta do ser-tempo de outros. E o tempo não passa como um fluir de ir e vir, ele apenas e completamente é. O ser, nos seus movimentos, muda, e não o tempo, no entanto ele é fluido. Este contem toda a experiência, incluindo um passado distorcido não importante e um futuro sobre o qual a afirmação de “provável” não tem sentido, apenas um "possível"de tamanho infinito. “Existe somente o presente imediato, no qual todo o tempo e todo o ser está englobado” (Dogen).

George Vittorio

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cobranças


P: O que se faz quando se quer estar com pessoas amadas (pais idosos) mas os encontros são sempre queixosos , carregados de cobranças e nos fazem sentir sempre exauridos?

R: Nos exaurimos se aceitarmos que são cobranças, se os olharmos com a compreensão dos sentimentos deles e dermos o amor que temos para dar, que não é tudo que eles querem mas que é aquilo que temos, este encontro será de doação e nossos ouvidos ouvirão as queixas mas não nos sentiremos culpados por elas. Concordamos, podemos dizer: pai , mãe , este é o presente que eu tenho para lhe dar...minha presença, estou aqui por vocês...e continuarei voltando no meu ritmo possível, porém não posso levar em conta todas estas palavras pois elas são exigências que não posso cumprir pois não tenho tanto aqui para entregar, e meus filhos me demandam mais, e para eles eu darei muito mais do que eles me darão no futuro, assim como acontece aqui entre nós...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

As três peneiras

Há muitos séculos atrás, num mosteiro budista, após a cerimônia noturna, o Monge Abade se retira para o seu merecido descanso e enquanto tomava calmamente o seu chá, à luz de apenas uma lamparina de óleo. Fazendo entreabrir a porta de correr, feita apenas de madeira e papel de arroz, entra um dos monges instrutores do templo, reverenciando profundamente o mestre.

Indagado pelo Abade sobre o motivo de sua visita a essas altas horas da noite, o monge lhe diz que o motivo de sua visita é contar ao mestre sobre alguns comentários que estão correndo no templo sobre um outro instrutor.

O Venerável Abade, então, lhe diz em sua profunda sabedoria:

- Calma! Antes de me contares algo que ouviste sobre outra pessoa, gostaria de lhe perguntar: Já fizeste passar essa informação pelas Três Peneiras da Sabedoria?

- Peneiras da Sabedoria, Venerável Mestre? Espanta-se o monge.

- Sim, as Três Peneiras da Sabedoria. Tudo o que ouvires falar sobre os outros, deve passar pelas Três Peneiras da Sabedoria, antes de ser retido, acreditado e repassado. Ouça com atenção e me responda: Tens absoluta certeza de que o que te contaram é realmente verdade?

- Não, não tenho certeza Venerável Mestre. Apenas sei o que me contaram. – Disse meio sem jeito o monge.

- Então, se não tens certeza, a informação já vazou pelos furos da primeira peneira que é a da profunda investigação da Verdade. Agora ela repousa sobre a segunda peneira, e por isso eu lhe pergunto: - O que tens a me dizer é algo que gostaria que dissessem sobre ti?

- De maneira alguma, Mestre! É claro que não! Diz o monge.

- Então tua estória acaba de passar pelos furos da segunda peneira que é a da compaixão, pois nunca deverias dizer ou fazer a alguém aquilo que não quisesses que fizessem ou dissessem de ti. Agora, tua estória repousa sobre a terceira e última peneira, e por isso lhe faço a última pergunta: - Achas que me contando essa estória sobre o seu irmão e companheiro de mosteiro, ela será útil a ele de alguma maneira?

- Não, Mestre, - respondeu já ruborizado o monge -. Refletindo profundamente, sob a Luz da Sabedoria, vejo que nada de útil poderia surgir dessas estórias e boatos.

- Então, essa estória acaba de vazar pela terceira peneira, para dissolver-se na terra. Nada restou para contar. E assim, lembra-te sempre que devemos ser como as abelhas que mesmo no mais imundo dos pântanos, buscam sempre as flores para delas retirar o doce néctar e nunca como as moscas que mesmo em um corpo sadio, buscam as feridas para delas se alimentar.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Pérola resplandecente


Todo este Universo
em todas as direções
através do espaço e do tempo
é uma pérola resplandecente.

Nem vasto, nem estreito,
nem quadrado ou redondo
não duas ou três,
mas apenas uma pérola resplandecente.

O corpo existe agora e a mente existe agora
igualmente, todo o Universo é uma pérola resplandecente
não se trata de grama ou árvores aqui ou ali,
nem de montanhas e rios em todos os pontos cardeais
trata-se de uma pérola resplandecente

Mesmo que a aparência do seu girar e do seu não girar
pareça estar mudando constantemente,
tudo é apenas a pérola resplandecente.

(Dogen Zenji 1200-1253)
(Cortesia Koun)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fim de ano



I -

No mundo inteiro é fim de ano

clamores de homens e mulheres

só, em minha choça de ervas, na calma

mais perfeita

como agradecer a Buddha?

Me sento em zazen e queimo incenso



II –

O tempo passa suavemente, é fim de ano

debaixo do céu, uma escarpa severa

dez mil montanhas, as folhas das árvores

tem caído

mil sendas, quase ninguém

toda noite queimo folhas secas

de vez em quando escuto o ruído

do vento e da chuva

olhando para trás me vem o passado

tudo não é mais que um sonho


Monje Ryokan Taigu (1758 - 1831)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Ordenação de Rui Ikkô



Com o nome monástico de Tai Zui Ikô (Monge Ikô), foi ordenado como noviço na ordem Soto Zen, o líder do grupo zen de Campina Grande, Paraíba, Rui Ikô. A ordenação foi feita por Monja Coen ao final do Rohatsu Sesshin em São Paulo. Noviços preparados, regularmente ordenados segundo as tradições, com seus crânios raspados como Ikô San, dão ao budismo zen a esperança de florescimento e propagação do Dharma sem que este enfraqueça.

Palestra e Aikidô




Hoje estarei, por convite de Monja Isshin, fazendo uma palestra na Associação RS Aikikai, para alunos de Aikidô e interessados no zen budismo das Sanghas irmãs Águas da Compaixão e Sangha Aikikai . Os que desejarem comparecer são bem vindos.

Hora: 19:00 h - início de meditação às 19:15 h, após palestra com perguntas e respostas.

Local:
Dojô Porto Alegre Aikikai da Associação RS Aikikai
Av. Cristóvão Colombo, 378
Bairro Floresta (em frente ao Shopping Total) - Porto Alegre, RS

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Escrituras budistas



Na foto acima vemos uma coletânea (Triptaka)de escrituras buddhistas, abrange os discursos de Buddha, as regras monásticas criadas por ele e comentários filosóficos, o tamanho dos textos disponíveis deixados por Buddha é impressionantemente maior do que o disponível em outras tradições, normalmente limitadas a um único volume.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Fim de ano


Fotos: Michel Seikan. Local cedido por Guilherme Gimyô.

Confraternização de fim de ano, membros da Sangha de Florianópolis passeiam no campo em Águas Mornas. No local cachoeiras, animais, montanhas. A prática centra-se na palavra correta: nada dizer que possa ferir, nem por brincadeira, não contar anedotas maliciosas, nem criticar mesmo pessoas ausentes, só falar o que eleva e produz harmonia.
Uma sequência de mais de 90 fotos aqui

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Nem esotéricos nem exotéricos


Diz Dôgen Zenji no Shobogenzo Zuimonki:

"Meu Mestre disse: Hoje aqui, amanhã desaparecidos! A questão da vida e da morte é o mais importante para nós! Se quisermos aprender ou praticar o que seja nesta vida que se esvai a cada momento, devemos praticar o Caminho. A prosa e a poesia são de uma inutilidade absoluta, para nós praticantes Zen. É melhor desistirmos dessas coisas o quanto antes! Estudando o buddhismo, não devemos nos enfronhar em muitos assuntos, menos ainda em quaisquer ensinamentos, esotéricos ou exotéricos. Isto também vale para as palavras dos buddhas e ancestrais."

Do blog Tentando não fugir

Comentário: Nem ensinamentos secretos ou públicos são importantes, o relevante é a prática, pergunta-se então porque escrevemos e falamos sobre o Dharma, é que é o único instrumento que temos. (M.Genshô)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Individualidade e ilusão


Como o carma pode funcionar para cada indivíduo, se a individualidade é apenas ilusão? A parte que me causa problema é imaginar que a individualidade é totalmente ilusória. Se o que o que o senhor diz é a verdade, parece que se anularia a noção de progresso: o universo daria sempre no mesmo. Para que ter consciência se, na cena final, na vitória final,vai-se compreender que o ego e a individualidade são sustentados pela desejo ardente de defender o ''eu''? O ser consciente chega a essa realização e a consciência, com esse valioso conhecimento e com vidas de experiência, se apaga?

Muito interessante a pergunta. Até porque é exatamente assim que o universo parece se comportar. Ele não parece ser infinito. Se o fosse, quando você saísse ao relento, à noite ,o céu seria branco, reluzente como o sol, porque para qualquer ponto que você olhasse, veria uma estrela e, na infinitude, não haveria pontos sem luz.

Para o Budismo, os universos são cíclicos e múltiplos. Não se destinam ao surgimento de seres, simplesmente acontecem ''big bangs'' e colapsos finais em que tudo desaparece, ou em entropia, ou em implosões. Mesmo assim, tais explicações não importam ao Budismo, que não tem como objetivo dar explicações científicas, mas visa à libertação. Obtida esta, o próprio Budismo deve ser abandonado, como um barco que serviu para atravessar um rio.

O carma tem repercussões nas ondas de manifestação individuais, que não são o mesmo ''eu'', tal como a chama que acende uma vela não é a mesma chama. Mas, de outro ponto de vista é a mesma chama... Assim são as vidas, chamas que são passadas, sem individualidade, mas guardando suas características.

Os tempos universais têm progresso, mas ele não é contínuo e há retrocessos. Não tenho dificuldade em imaginar a onda de um criminoso nazista se manifestando em um cachorro sarnento em um país miserável por milênios, até que seu carma se esgote... Também basta colocar o pé na Alemanha para ver que os jovens alemães de hoje sofrem o carma que herdaram do passado de seu país. Temos o carma de nosso país, de nossa família, de nossa onda individual, de nosso planeta...

A unidade a que pertencemos tem tudo. Nós é que nos perdemos nesta pequenas e limitadas manifestações individuais. Nada há para ser perdido. Nem para ser obtido. A iluminação é libertação desse eu aprisionado, limitado, sem conhecimento. Um universo cessa quando seus carmas se esgotam, quando a energia se equilibra sem distinções. Querer guardar algo, obter algo para um eu individual é a cegueira básica que impede a iluminação.

A iluminação já está aqui, agora, só não a vemos porque a ilusão do eu deseja obter sabedoria, poder, vitórias, conhecimentos, mergulhando-nos em um sonho sem fim. É por isso que despertar desse pesadelo é que faz de um homem um Buda. Buda, afinal, quer dizer, Desperto, O que acordou.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Individualidade


Se no futuro não teremos individualidade, qual a razão para passarmos, durante esta vida, por um período em que a individualidade nos parece tão importante?

Me diga por qual motivo você acha que é necessária uma razão para seu ego além do simples fenômeno.
Se bem entendo me parece que você deseja que haja um plano, um propósito para sua existência individual.
No zen diria que isto é apenas mais uma manifestação egóica, a individualidade é uma ilusão proporcionada pelo fenômeno da consciência, se assim é desejar um propósito para nossa existência é mais uma maneira de desejar sua permanência, ou seja a permanência da ilusão. Resta considerar que morrendo com nossas ilusões e desejos atuais nossos impulsos se manifestarão criando uma nova existência que de novo, ao se dar conta de si, se sentirá uma individualidade nova, já aconteceu com você, e é esta vida, repetir sem fim é o destino dos que não se libertam, a imensa maioria de nós.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

No alto do Copan.


Uma vez por mês, às 7 da manhã, um grupo de budistas da escola zen se encontra para meditar em um local inusitado: o heliponto do Edifício Copan, no centro. "Nosso desafio é ficar em estado de atenção, percebendo os barulhos internos e externos, sem reagir diante deles", conta um dos praticantes, o cineasta Bruno Mitih (o terceiro da esq. para a dir.). A sinfonia de buzinas e o vento no alto do prédio de 32 andares são desafios sublimados pela experiência de zerar os pensamentos da mente. "Não focamos um ponto, não fazemos exercícios de respiração e não repetimos mantras." A prática costuma ser encerrada com as oito badaladas do sino da Igreja Nossa Senhora da Consolação, na vizinha Praça Roosevelt. (Veja SP)

Uma vez por mês, o edifício Copan, um dos principais cartões-postais de São Paulo, se transforma num inusitado templo budista. É toda terceira sexta-feira do mês, às 7h, quando monges zen da escola Busshinji sobem os 37 andares até o heliponto para praticar a meditação sentada – zazen, sendo “za” sentar e “zen” meditação.

Em fileira, de pernas cruzadas, colunas ereta e atenção na respiração, eles têm à frente centenas de prédios e, no horizonte, o pico do Jaraguá, na zona norte. .......................

A meditação do alto do prédio surgiu com o cineasta Bruno Mitih, 41, budista há quatro anos. “A primeira idéia foi levar a prática do templo para a rua, e o edifício Copan se apresenta como a montanha dos budistas zen da cidade”.

O professor-monge Jisho Handa, 53, vê o Copan como representação de São Paulo; por isso a escolha. “No heliponto estamos num dos pontos mais altos do centro e a observamos num ângulo de 360°. Assim, expandimos nossas energias.”

O objetivo do grupo, diz Handa, é levar harmonia e compaixão ao maior número de pessoas possíveis. “Vivemos numa cidade cheia de desordem e injustiça. Queremos criar uma sintonia com toda a cidade e inconscientemente a cidade medita conosco, como se fosse uma onda de rádio.”

A meditação no alto do Copan é aberta a interessados.

Segundo o sindico do Copan, Afonso Celso dos Prazeres, 69, a idéia foi aceita já no primeiro pedido do grupo. “Sou solidário a qualquer demonstração de ajuda a cidade”, diz. “Inclusive faço meditações em casa."
(Danilo Verpa - repórter-fotográfico. Blog Sangha Margha)

sábado, 13 de dezembro de 2008

A consciência humana


Foto de Cássia Popolin

Qual seria, segundo o Buda, o papel da consciência em relação à própria manifestação da vida? O que é a consciência humana frente à dos demais seres?

Esta consciência, produzida pelo funcionamento do corpo e mente, é apenas um constructo temporário, uma ilusão que produz a sensação do 'eu'. Se é disto que estamos falando, a consciência é produto da vida, e não o contrário.

Você pensa que é 'fulano', mas isso ocorre porque sua mente esta funcionando a partir do que aprendeu, qualquer acidente, como um derrame cerebral, pode anular esse efeito e sua percepção de 'eu' com seus agregados.

A diferença da consciência humana é a sua 'clareza'. O que caracteriza os animais é a falta dela. Mas mesmo entre os animais, há muitos níveis de clareza e de percepção, assim como há entre os humanos.

Podemos imaginar o momento em que o cérebro humano atingiu complexidade suficiente para dar-se conta de sua existência, prever a sua morte. Podemos também supor que um cérebro artificial chegue um dia a essa complexidade e desenvolva uma clareza ainda superior. Talvez seja apenas uma questão de tempo.

Para o Budismo, nada impede que um ser superior seja criado por nós e nos suceda. Não nos imaginamos à semelhança de um criador. Magnífica hipótese que permitiria às manifestações cármicas instrumentos ainda superiores de compreensão e clareza.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Nagas



Os Nagas são criaturas mitológicas que aparecem frequentemente nas escrituras buddhistas hindus, e nesta cultura são representados como criaturas com corpo de serpente e cabeça humana. São diversos das representações de serpentes, que também na cultura hindu são símbolos da sabedoria ( isto surge no ocidente no símbolo da medicina também, o caduceu). Os chineses traduziram a palavra naga por lung, que significa dragão, erro que se perpetua até hoje em numerosos textos buddhistas chineses e japoneses traduzidos no ocidente, já que os nagas não são dragões.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A morte de Sudata


Stupa em homenagem a Anatapindika.


Trecho do livro Velho Caminho, Nuvens Brancas - biografia do Buddha escrita por Thich Nhat Hanh ( Editora Bodigaya 2007), nele o Venerável monge Shariputra orienta um dos principais discípulos leigos do Buddha, Sudata, também conhecido como Anatapindika (que significa aquele que cuida dos pobres e abandonados), em seu leito de morte:


“Discípulo leigo Sudata, vamos contemplar juntos assim – meus olhos não são eu, meus ouvidos não são eu, meu nariz, minha língua, meu corpo e minha mente, não são eu.”

Sudata seguiu as intruções de Shariputra. Então, este prosseguiu: “Agora vamos continuar a contemplar – aquilo que vejo, não é eu; aquilo que ouço, não é eu; aquilo que cheiro, provo, toco e penso, não é eu.”

Shariputra, então, mostrou-lhe como contemplar as seis consciências sensoriais – ver não é eu; ouvir não é eu; cheirar, provar, tocar e pensar não é eu.

Ele continuou: “O elemento terra não é eu. Os elementos água, fogo, ar, espaço e consciência não são eu. Não me encontro aprisionado ou restrito pelos elementos. Nascimento e morte não podem me tocar. Sorrio, porque jamais nasci e jamais morrerei. O nascimento não me dá existência. A morte não me remove a existência.”

(Cortesia de Kashin)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vazio é nihilismo?


Não entendo isto de tudo ser vazio. Se nada existe, tudo é ilusão, então também nao existimos?

Essa questão do vazio não é o nihilismo (nada existe). O vazio de que falamos no Budismo é um vazio de condicionalidades. Poderíamos até usar a palavra Deus como sinônimo de 'vazio', mas seria um deus que não cria, não interfere, sem pessoalidade, não seria um Algo. É naturalmente mas não existe por si mesmo, é a própria forma, só se manifesta como forma. Por isso, a palavra vazio fica melhor.

É evidente que existimos, pelo menos relativamente, e tudo que você vê também existe. O problema é que você vê através de um filtro de concepções que já estão em sua mente, assim como vemos formas nas nuvens: elas não existem, mas existem dentro de você.

Se sua mente se esvaziar de concepções, você será capaz de ver a realidade pura. Esta seria uma mente vazia, uma mente desperta, como Buda, o desperto.

Praticamos a meditação para despertar, porque estamos vivendo como em um sonho, uma vida de ilusões. Mas se ficarmos no estágio de 'limpar' a mente, permanecemos lutando contra ela e não podemos vencê-la.

Hui Neng nos deixou essa profunda lição, dizendo que mesmo a mente com a qual lutamos não passa de uma ilusão, de um agregado de pensamentos em sucessão. É preciso enxergar o 'vazio' que está além desses pensamentos. Penetrado esse segredo, todo o universo que vemos se altera, não deixa de existir, mas seu significado é outro, porque os olhos do espectador se esvaziaram das condicionalidades.

As nuvens passam a ser nuvens verdadeiramente, de uma beleza arrasadora que antes não possuíam. Ou melhor, possuíam, mas isso era invísivel para os olhos que nelas viam formas inexistentes, como em tudo: vemos significados que estão em nós, interpretações produzidas pelas nossas marcas cármicas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

É preciso imobilidade no zazen?


A imobilidade é conveniente, quanto menos movimento de corpo menos de mente.

Porém se o desconforto for muito grande toda a mente se focará nele, e então é melhor trocar de posição.

Mais adiante, na prática da meditação, existe a técnica de tornar-se “um com a dor”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Podemos escolher, a cada momento, nosso caminho?


Sim, podemos mudar de caminho a cada momento, mas na prática o impulso que tomamos, a trilha que estamos seguindo tem o poder de nos conservar em um rumo. Para o bem e para o mal precisamos tomar uma decisão e fazer algum esforço para mudar de trilha.

Sim, ninguém escolhe na hora, o que acontece é que já fizemos anteriormente muitas escolhas que geram carma e que nos arrastam, e assim parecemos ser livres, mas é mera aparência. Escolher pessoas e lugares pode mudar toda a nossa vida, por esta razão é preciso ser muito cuidadoso com aquilo com que optamos, depois de algum tempo fica muito difícil mudar de caminho.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sarkozy mostra o caminho de um líder independente



Suportando as acerbas críticas chinesas e suas ameaças de boicote comercial aos produtos franceses, o presidente Sarkozy demonstra que um verdadeiro líder sabe trilhar um caminho independente. Em contraste, o Brasil, mostra a face de um país que treme ao bater dos pés de qualquer ameaça meramente verbal. Jamais tomou uma atitude clara em favor de oprimidos se isto pode ameaçar seus interesses comerciais.
Um líder budista, como o Dalai Lama, passou no país várias vêzes sem um reconhecimento oficial, não importando seu peso moral. (Monge Genshô)

"O presidente francês, Nicolas Sarkozy, reuniu-se neste sábado (6) pela primeira vez com o Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, no porto de Gdansk, norte da Polônia, apesar de duras queixas por parte da China e da ameaça de Pequim de boicote a produtos franceses.

Sarkozy se encontrava em Gdansk, onde participou na cerimônia do 25º aniversário da entrega do Prêmio Nobel da Paz ao presidente polonês, Lech Walesa, fundador do histórico sindicato Solidarnosc.

O presidente francês se reuniu por cerca de meia hora com o Prêmio Nobel da Paz-1989, no primeiro encontro de um presidente francês com o líder tibetano, exilado desde 1959 em Dharamsala, norte da Índia."

"Desde que o encontro foi anunciado, há várias semanas, a China pressionava a França para voltar atrás, chegando a cancelar uma cúpula China-União Européia (os franceses ocupam atualmente a presidência rotativa do bloco), que deveria ter acontecido no dia 1º de dezembro em Lyon, centro-oeste da França, e uma cúpula bilateral, que seria realizada no palácio do Eliseu.

Agora, Pequim ameaça instituir um boicote aos produtos franceses. A China já havia feito pressões semelhantes em julho e agosto, quando o presidente francês informou que não sabia se compareceria à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.

Após uma visita de Sarkozy à capital chinesa no fim de 2007, empresas francesas obtiveram contratos no valor de 20 bilhões (US$ 25 bilhões) de euros com o país. Sarkozy também expressou seu desejo de que a China assuma o lugar que lhe corresponde no cenário político do mundo.

"Necessitamos da China para resolver os grandes problemas no mundo, e que a China dialogue, como el presidente Hu Jintao dialogou com o Dalai Lama", assegurou. Indagado sobre a crise entre a França e a China, o presidente francês tentou acalmar os ânimos."

"É preciso tratar tudo isso com grande serenidade, com calma. É preciso fazê-lo a longo prazo, levando em conta seu conjunto de acontecimentos e dando a importância que tiverem".

(France Press)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Novo Templo Niyngma em Três Coroas (RS)



Começa hoje consagração de novo templo em Três Coroas, ele pertence a escola Niyngma, a mais antiga das escolas budistas tibetanas, caracterizada por seus rituais coloridos e cheios de sons.

Réplica do Palácio Terra Pura de Padmasambava já está pronta para a inauguração
Do alto do topo do morro Águas Brancas, lamas e praticantes do budismo tibetano vindos da Ásia, da Europa e dos quatro cantos da América abençoam de até quarta-feira o novo templo construído no Centro Budista Khadro Ling, em Três Coroas.

A réplica do Palácio Terra Pura de Padmasambava está pronta para sua consagração, cerimônia de inauguração de um templo. Durante esses cinco dias, mestres e seus discípulos estarão reunidos em volta do Terra Pura, em tendas.

Cerimônias com até sete horas de duração estão programadas para todos os dias. Cerca de 500 praticantes do budismo tibetano no Brasil e no mundo devem presenciar o momento simbólico. A cerimônia segue um ritual: mestres e discípulos acompanham textos de mantras, oferendas e orações.

O novo templo com três andares é preenchido com estátuas que representam Padmasambava: mestre iluminado que introduziu o budismo no Tibete.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Começar de Novo


Quem escreveu este texto o fez na Argentina, após uma grande enchente, mas seus sentimentos são idênticos aos de muitos habitantes de Santa Catarina durante as catástrofes das últimas semanas.

COMEÇAR DE NOVO
Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças
com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as
outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos
solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos
anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer
a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus

Vamos começar de novo.
(Anônimo)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A você que gosta de escutar coisas inspiradoras sobre o budismo




Kodo Sawaki Roshi

Dizem: "Quando eu escuto Sawaki falar, a minha fé esfria". Agora eu vou realmente colocar a fé deles no gelo; este tipo de fé é nada mais do que superstição.
Dizem: "as palestras do Sawaki não despertam fé alguma em mim". Elas não despertam superstições, isso sim.

Não importa quanto bem se faça, tudo o que os homens fazem é mau. Se você dá, o dia todo você pensa "Eu dei!". Se você faz uma prática religiosa, pensa "Eu pratiquei, eu pratiquei!" Se você faz algo bom, nunca se esquece: "Eu fiz o bem, eu fiz o bem!" Isto quer dizer que deveríamos fazer algo mau, então? Não; mesmo quando fazemos o bem, é mal que obramos. Quando fazemos algo ruim, é pior ainda.

Se você faz algo bom, você começa a se preparar para cada coisa má que possa ver nos outros. Quando você faz algo mau, fica quieto, pois o seu traseiro coça. As pessoas não calculam somente quando se trata de dinheiro; em tudo que fazem elas tentam barganhar, para cima ou para baixo. Isto por que seus corpos e mentes não foram abandonados. Somente quando corpo e mente são abandonados é que este negócio não tem mais importância. Abandonar mente e corpo significa imensurabilidade, sem-limites.

"Faça o bem, evite o mal". Não há dúvida quanto a isto, mas é tão claro o que é bom e o que é mau? Bem e mal andam de mãos dadas.

Zazen está além do bem e do mal. Ele não é educação moral. Zazen localiza-se onde o comunismo e o capitalismo terminam.

Kodo Sawaki Roshi

(Cortesia de Lucas Brandão)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Workshop zen/psicologia em Curitiba


Workshop Zen Budista com Foco na Ancestralidade
Data: 19 ; 20 e 21 de dezembro 2008
Curitiba - Paraná

Objetivos Específicos:

• Identificar a linha ancestral de cada um
• Conhecer a ancestralidade do ponto de vista budista
• Reconhecer e desenhar a “arvore” ancestral
• Praticar a meditação zen budista
• Compreender sua ancestralidade e integrar-se a ela, ser um com ela;
• Refletir e reconhecer que você é seus ancestrais.

Carga Horária
20horas
Sexta à noite (4 horas)
Sábado dia todo (8 horas)
Domingo dia todo (8 horas)


Valor do investimento

O valor do investimento será de R$ 190,00.Este valor inclui instrutoria do Monge Genshô e da Piscóloga Renata Reginato; material didático,cofee break

Procedimento de Inscrição

Deposito bancário
Bradesco - ag. 426 cc. 126917-8
Enviar comprovante de deposito para
renata@pulsarpsicologia.com.br
Fone: (41) 3323-1009

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Posso iniciar um grupo de estudos buddhista em minha cidade?




Você quer praticar o Zen, porém em sua cidade não existe nenhum centro budista. Você conhece outras pessoas que tem interesse em começar a estudar o budismo, ou mesmo ainda não conhece ninguém. Será que você mesmo pode começar um centro de estudos buddhistas? Sim, e isso é um belo início de prática!

A prática individual é incompleta comparada à prática em grupo. Esta é mais rica e forte. A prática em grupo possibilita a troca de experiências, auxiliando a superação das dificuldades. Os praticantes mais antigos podem ajudar os mais novos, principalmente dando um bom exemplo. Os mais novos também auxiliam aos mais antigos, permitindo que esses possam treinar a prática de ajudar aos outros. Sentar em meditação em grupo é mais fácil, ver que os outros estão persistindo ajuda a não desistir. Isso aumenta a disciplina e força da prática. Ver a dificuldade dos outros ajuda a aceitar a própria dificuldade. Ver a evolução e superação dos outros ajuda a evoluir e a se superar.

A prática em grupo ajuda a despertar a mente de boddhisatva - que pratica para ajudar aos outros. Praticar para si próprio é uma forma incompleta de prática. No buddhismo Zen um grupo de prática buddhista bem estabelecido é informalmente denominado de Sangha, que é considerada uma das Três Jóias - juntamente com o Buddha e o Dharma (conjunto de ensinamentos buddhistas, a lei, a doutrina).

Criar um grupo de prática pode parecer difícil, mas os primeiros praticantes do Zen muitas vezes tinham que percorrer centenas de quilômetros a pé à procura de professores e dos ensinamentos! Hoje a tecnologia permite uma maior facilidade de acesso ao conhecimento e orientação à distância, porém a prática em grupo, o contato pessoal com professores experientes e qualificados (o tanto quanto for possível) e a participação em retiros de prática sempre serão essenciais.


2. Estudo

No Zen, a prática da meditação é o "estudo" mais importante. A prática de meditação sentada é chamada de Zazen. A técnica de meditação típica da escola Soto Zen é chamada de Shikantaza – apenas sentar-se.

O estudo de textos deve ser feito com extrema cautela. É muito fácil para um iniciante interpretar equivocadamente um ensinamento budista, seja pela inexperiência, pela complexidadade do tema ou pela tendência humana de se adicionar opiniões e interpretações pessoais a temas pouco compreendidos. Por esta razão os líderes de grupos não são considerados professores e não estão autorizados a ensinar, são organizadores e facilitadores da reunião de interessados. A melhor forma é a simples leitura dos textos, levantamento das dúvidas e encaminhamento delas para praticantes mais antigos ou preferencialmente a professores do Dharma qualificados e reconhecidos, no caso de dúvidas mais complexas. E novamente, a prática da meditação é o estudo mais importante.

(Trecho do manual para fundação de grupos de estudo, em preparo pelo Instituto Educacional Todatsu, redação de João Destri)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Existe uma "presença" subjacente ao universo?


Simplesmente, não é uma presença.
"A forma é vazio, o vazio é forma, a forma nada mais é do que vazio, o vazio nada mais é do que forma." (Sutra do Coração da Sabedoria)
Toda forma, ou manifestação, é o próprio Vazio, e este só se manifesta como forma.
Toda manifestação é vazia de um EU subjacente, permanente.
O Vazio é uma qualidade de tudo, mas Não É um Algo.