sexta-feira, 30 de março de 2012

Vendo a natureza original


P. Quer dizer que somente o nosso consciente faria parte do fluxo do meio. A única preocupação que eu deva ter é lapidar, não posso lapidar o meio, mas eu tenho que participar dele e respeitá-lo, respeitar o fluxo do meio.

Monge Genshô: O que você pode alterar é o seu canal de interpretação, o seu programa, nós já temos os sentidos, os olhos, os ouvidos, nós percebemos o mundo em volta mas tudo isto é interpretado por programas cerebrais. Estes programas que nós temos na nossa mente são influenciados pelos nossos hormônios, eles nos dão mensagens e reagem de determinadas maneiras que nos estão incutidas pela nossa própria formação biológica, pela nossa cultura, por tudo que nós aprendemos. A questão é quão verdadeira é a nossa interpretação desse mundo através destes sentidos, não é? Nós olhamos uma fruta vermelha numa árvore e sabemos que ela está madura, não só nós, os macacos também sabem, isto está embutido na nossa programação há milhões de anos e nós gostamos da cor vermelha no meio do verde e quando nós vamos ao supermercado as embalagens são vermelhas, amarelas, de cores quentes porque elas usam este condicionamento que nós temos de nos sentirmos atraídos pelas cores que significam comida madura e doce, temos todos estes condicionamentos dentro das nossas mentes e tudo isto nos impede de ver a realidade tal como ela é. É útil isso? Sim, é útil, serve para nossa operação no mundo, assim como nosso corpo serve para nossa operação no mundo, mas a clareza da mente original não é esta interpretação condicionada. Ela está além disto, quem está sentado aqui pode ouvir a cigarra e pensar ah, eu associo as cigarras com o natal e daí o som das cigarras me faz feliz, e outra pessoa, eu associo cigarras com insônia, com uma experiência desagradável que eu tive numa fazenda onde eu fiquei e aquelas cigarras me incomodavam e quando ouve cigarras se sente incomodado, onde está esta interpretação? O som em si não está na mente, só a interpretação.



P. Voltando um pouco, aceitar o outro é fácil, o problema está em a gente se aceitar...

R. Acho que são dois problemas, não é? Sartre escreveu uma frase famosa que era: o inferno são os outros. É uma frase do existencialismo. E do outro lado também nós olhamos para nós mesmos e sentimos coisas assim e às vezes para escapar da própria vida tem gente que se suicida, se mata, não aceitação extrema, e às vezes a não aceitação do outro leva a que? Ao crime, a morte do outro etc. Ora, a questão é que estas aceitações em si não são diferentes, tanto faz os outros ou eu porque esta distinção também é uma distinção falsa e ela só existe porque nós acreditamos nesta individualidade e é por isto que a gente sofre tanto com a perspectiva da morte porque nós acreditamos que isto é o fim de uma coisa preciosa que é a nossa individualidade. Imaginem cada um de vocês no seu leito de morte, pensem um pouco, estou ali e vou morrer. Esta perspectiva nunca parece agradável e a humanidade tenta arranjar alguma fantasia para escapar disso e estamos cheios de fantasias nas nossas culturas para escapar desta realidade da morte. A principal delas é a existência de uma alma que sobreviva a morte e que seja eu mesmo e que este corpo seja só uma casca e aí então está tudo solucionado porque eu passo a ser eterno e só morre o corpo e não tem problema ou eu ganho um outro corpo novinho em folha sem os problemas deste aqui que já envelheceu, mas eu continuo, sou preservado. Esta maneira de pensar é nada mais do que uma tentativa de escapar da realidade. O Budismo não olha as coisas assim, ele diz , não é isto, não é a morte que é um problema, é o nascimento que é um problema. Na verdade esta realidade última que nós estamos procurando encontrar na meditação está além de nascimento e morte porque se penetrarmos nesta realidade última, nesta natureza original não existe nascimento e morte, nem tempo, e tudo isto que nós estamos olhando aqui agora e queremos conservar, essa existênciazinha e este euzinho é apenas uma bolha, manifestação da realidade última. Nesta natureza original não existe isto. Penetrar na natureza original é tornar-se, em outros termos, a própria divindade, a própria vacuidade, além de tempo, além de espaço, além de início, além de fim e é por isso que quando a gente ouve isso pode entender claramente como é verdadeiro, porque não tem engano, não tem nenhum truque de dizer eu vou sobreviver a esta morte com a alma e o espírito, ir para o céu, o paraíso ou o inferno ou qualquer coisa assim, não é nada disto, a natureza original está além da própria existência deste universo tal como nós o vemos, tal como ele se manifesta. A nossa natureza original é ela que manifesta este universo e é isto que na realidade nós somos e sendo assim não há nascimento nem morte.

terça-feira, 27 de março de 2012

Desistir de si mesmo


P. E quando nós ouvimos uma música tocando, não é pensamento é só música, é difícil parar...

Monge Genshô: Não lute com ela, não tente parar, este tentar parar é sério problema. Tem uma piada Zen de um monge que perguntou para um mestre, o que eu faço para obter a iluminação? O mestre disse ah, isto é fácil, é só não pensar em macacos, no dia seguinte o monge, voltou tudo bem eu não quero mais nada, mas, por favor, me livre dos macacos. Se você pensar “não posso pensar nisto” este pensamento se tornará muito forte, muito invasivo, por isto não lute com nada, todos os pensamentos que se apresentarem só verifique que eles se apresentaram, e não pense que horror é isto, como eu sou mau porque sou assim, não você é assim mesmo, não tem problema, ninguém está ouvindo, você está silencioso na sua almofada nem o professor sabe o que está passando na sua cabeça nem precisa saber. Isto é você com você, não precisa enganar ninguém.Um grande problema que as pessoas tem em psicoterapia, é que eles querem iludir o psicoterapeuta, então contam estórias e representam coisas para ele. No Zen você não tem esta oportunidade de tentar enganar o professor, tudo o que você faz é sentar, o professor também não tem oportunidade de enganar os alunos porque os alunos estão olhando e aqui sentado a verdade aparece. No oryoki a verdade aparece, quem está distraído, quem não está distraído, quem está prestando atenção mesmo, não é? Quem está erecto, quem está comendo cuidadosamente isto aparece no corpo, mesmo que você tente fingir um bom tempo daqui a pouco você escorrega, não dá para fingir muito tempo no sesshin, no fim, se ficamos calados, nós vemos nos corpos, se falamos tentamos enganar com a palavra, então é nos corpos sentados e agindo, fazendo coisas, que nós vemos a verdade da prática, como está funcionando. Você pode ver em você mesmo e é muito bom quando a gente desiste de fazer qualquer representação, eu estou tão cansado que eu não agüento mais, eu vou sentar de qualquer jeito, vou trocar de posição, ah, tudo bem eu não estou tentando fazer mais nada, não estou mais tentando mostrar para o meu colega do lado que eu fico quieto, eu não agüento mais e quando você desiste isto é muito bom.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Novo Todatsu Shinbun



A última edição está disponível aqui

Todatsu Shinbun
O TODATSU SHINBUN é o boletim informativo da Comunidade Zen Budista de Santa Catarina e afiliadas.

O Instituto Educacional Todatsu é uma organização sem fins lucrativos, mantenedora da CZBSC. SHINBUN é uma palavra de origem japonesa que representa um periódico, um boletim informativo. Fique à vontade para baixar os informativos.

Agradecemos a gentileza de imprimi-los e divulgá-los.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Deixe o pensamento passar


P. Se surge um pensamento não é meio agressivo mandar parar?

R. Em vez de empurrar o pensamento, em vez de mandar pará-lo apenas volte para aqui porque ele é só uma nuvem passando, volte para cá, só retorne para este momento porque neste momento o que tem é aquele som lá fora. Volte para cá e ouça os sons que estão lá fora. É fácil no zazen. Se estamos sentados aqui e ouvimos o som, está bem, se começamos a fantasiar perdemos então não empurre o pensamento nem mande pará-lo. No máximo se dê conta ah, este é um pensamento sobre o passado. Só isto. Este é um pensamento sobre o futuro. Só isto. E volte para cá. Apenas se dê conta porque depois na vida quando nós estamos vivendo e surgem os pensamentos nós temos que nos dar conta ah, é isto, ah, é ciúme, ah, é raiva, ah, é orgulho, é ambição, ah, é isto que está surgindo na minha mente e quando você se dá conta “é isto” eles perdem a força e quanto mais eles se apresentarem e você disser ah, é só isto, eles murcham e você volta para cá. Quando você ganhar esta habilidade na vida normal, onde é mais difícil do que no zazen, aí você começou a ser dono da vida. Se alguém agride você ou insulta, você olha para ele e se dá conta ah, é a raiva na mente dele, não sou eu. Não preciso entrar no jogo. Entrar no jogo dele é a mesma coisa que ver alguém se afogando num rio de forte correnteza e nós que não sabemos nadar ou estamos com botas pesadas ou qualquer coisa assim nos atirarmos atrás. É absolutamente tolo nós fazermos uma coisa destas. É ele que está com aquele problema, é a mente dele, a sua não precisa acompanhar. Não se jogue na fogueira junto com os outros e para isto é necessário que nós percebamos o que está acontecendo, vejam quanto a humanidade não percebe, porque multidões são facilmente arrastadas para um quebra-quebra ou para atitudes de ódio. É fácil, uma nação inteira pode ser galvanizada por uma coisa. Ah, aquela ilha lá é minha, é minha, aí começamos a correr, entramos numa guerra porque aquela ilha lá é minha, meu território. É uma fantasia, não é? Não aconteceu conosco aqui perto pouco tempo atrás? Décadas atrás? Uma nação inteira galvanizada por uma questão de esta ilha é minha? E morreram centenas e centenas de homens por causa desta fantasia? São só crenças, nós não precisamos nos atirar à elas então precisamos perceber como ela surge e isto se aprende neste treinamento ali sentado. Surgiu o pensamento ah, é isso. Voltamos para cá porque a única coisa real que existe neste momento são as cigarras lá fora.

terça-feira, 20 de março de 2012

Não odeie os pensamentos, nem os ame


Vamos comentar agora o Samadhi do Celeiro da Grande Sabedoria de Koun Ejo Daioshô.

Não procure a iluminação. Não tente escutar os fenômenos ilusórios. Não odeie os pensamentos que surgirão, nem os ame, e sobretudo não os guarde. (TEXTO). Então não procure a iluminação, isto estamos repetindo sempre. Sentamos sem uma busca ambiciosa. Isto é característico da escola Soto. Nem todo o Zen pratica desta forma. Há mesmo prática com procura ativa da iluminação. Mas na nossa escola o nosso fundador Dogen disse que isto atrapalhava demais porque as pessoas ficavam orgulhosas e ambiciosas de alcançá-la, então era necessário desarmar isto e perceber que esta iluminação está agora presente, aqui, como naquela estória do discípulo que pergunta para o mestre - aonde é a porta para a iluminação - e ele diz - você escuta o barulho do regato? E o discípulo disse: sim, e o mestre disse - é ali a porta. Para nós aqui, talvez as cigarras, agora, a porta é ali. Ouçam esta cigarra, onde está o som? Como o mestre Saikawa Roshi pergunta, onde está? Quem pode responder? Um aluno respondeu: na minha mente. O Mestre prosseguiu: na realidade não é assim porque você percebe com a sua mente, mas o som não está lá, ele está também lá com as cigarras. Então não é lá nem aqui, esta pergunta é capciosa. Onde está o som? Os alunos vão ouvindo sobre a mente e respondem naturalmente: está na minha mente, como tudo está na mente, os sentimentos estão na nossa mente, tudo o que está acontecendo, nossa felicidade e a infelicidade estão na nossa mente, então é natural responder está na minha mente, mas não é isto porque a sua mente não está separada da cigarra, na realidade apenas há este som, nem lá nem cá. Simultaneamente lá, cá e no universo inteiro. Não é? Só. É só isto, paz, mais nada. Não odeie os pensamentos que surgirão, nem os ame, e sobretudo não os guarde. Isto significa também não se esforce para expulsar da sua mente os pensamentos que surgem. (COMENTÁRIO)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Planejar


P. Seria a atenção plena? Por exemplo, se eu vou trabalhar apenas sento e trabalho junto com as metas estipuladas, isto vai estar incluso...

Monge Genshô: Quando a gente consegue isto é maravilhoso, porque você diz agora eu vou ler o livro, então leia o livro. Quinze anos atrás quando eu comecei a trabalhar com consultoria eu tinha um mau hábito, entrava num avião para visitar um cliente e pensava: vou chegar lá este cliente vai ter este problema, fulano de tal quer assim e ficava pensando, e quando eu chegava não era bem assim, tinham surgido novos problemas, diferentes e alguns que eu tinha imaginado nem existiam, isto era uma grande bobagem que eu estava fazendo, então comecei a ensinar os meus consultores para fazer assim, eles sentam comigo no avião e perguntam:...nós vamos para tal lugar e como é que vai ser, digo: isto nós vamos ver quando a gente chegar lá, agora, nós estamos viajando, vamos conversar sobre coisas boas, sobre a vida, sobre literatura, o problema do trabalho quando a gente botar o pé lá dentro alguém vai nos dizer, aí sim, coloque o papel em cima da mesa e comece a anotar o problema até que ele apareça e às vezes a gente olha e não entende o problema, é muito complexo, tanto que a empresa não está conseguindo resolver e chama um consultor. Qual é a solução disto? Não sei, por enquanto nós estamos recebendo informações então vamos receber mais, mais informações, é como um mosaico numa parede você vai colocando peças, não estou enxergando nada, não tem problema, vamos colocando mais peças, mais informações, daqui a pouco começa a gente a desconfiar o que está atrás daquele mosaico, é preciso peças suficientes para resolver um problema, então não adianta se preocupar, ficar ansioso com o fato, é como as palestras, não tem que pensar nas palestras, a gente senta e diz: tem um tema para palestra aí começa, naturalmente você está impregnado do Dharma a palestra sai naturalmente, agora se você planejar e escrever aí a palestra é chata, mas se houver interação com as pessoas vão surgir as perguntas, depende do que surge e naturalmente vai sair bem, então a regra para palestra do Dharma é não prepare, se você preparar então você não está preparado.


P. Mas não tem que ter pelo menos um roteiro?

MG: Na realidade tem um texto a ser comentado como hoje, mas não é preciso isto também. Estou falando de palestras do Dharma, se eu vou fazer uma palestra como consultor aí tem que ter power point (risos) aí é diferente...

sexta-feira, 16 de março de 2012

A realidade é criada pela mente?


Pergunta: Essa realidade é criada pela mente? A estrutura de tudo que existe é puramente mental?
Se for considerado que essa realidade é criada pela mente pode-se concluir que todos nós que a compartilhamos estamos atados por um mesmo estado mental coletivo definido pelo ambiente que experimentamos?


R: Existe uma escola, a Yogachara, que preconiza a "consciência apenas", no entanto não é essa a apreciação vitoriosa no zen, a que venceu é que existe uma realidade mesmo que não existamos, no entanto a realidade que percebemos é de tal forma condicionada pela nossa situação mental que na verdade não vemos senão uma espécie de sonho. A realidade última só é percebida por uma mente iluminada.
Porem , como seres humanos temos uma determinada semelhança em nossas paisagens mentais, por esta razão podemos conversar, entender poesia, arte etc... mas mesmo assim não podemos dizer que o que vemos e sentimos é exatamente igual ao que o nosso companheiro ao lado sente e vê.


Genshô

quinta-feira, 15 de março de 2012

Metas


P. É tão importante aqui, agora, eu relacionar o passado que passou e o futuro que é incerto então eu determinar metas, por exemplo, minha vida não vai ser pensar no futuro ou ficar com a cabeça em algo que não aconteceu?

Monge Genshô: Nós temos que saber o que é operar no mundo, o que é identidade e coisas assim. A gente ensina que a nossa identidade é ilusória, mas você não vai operar no mundo sem identidade então você tem que vestir sua identidade, só tem que saber que é ilusão, não pode dar muito valor para ela, outra coisa, metas são ferramentas e você não vai ter uma empresa funcionando ou seu trabalho se não tiver uma meta, mesmo um monge se vai fazer uma escultura de Buddha ele tem que ter a meta de terminar a escultura e tem que ter disciplina de fazer aquilo de uma determinada forma, isto são operações no mundo e tem visão de futuro? Sim, tem visão, você tem que operar com dinheiro? Tem, ou uma Sangha vai viver sem dinheiro? Não. Vai ter comida no sesshin sem contribuição? Não vai ter. Natural, então você tem que saber operar no mundo, mas sabendo que é um jogo, que é um jogo quando não der certo não deu, como disse um mestre quando queimou um templo, telefonaram para ele e disseram: mestre o templo pegou fogo, incendiou e pegou fogo na biblioteca e ele respondeu as coisas são assim, as coisas queimam.


P. Agora no dia a dia, na questão de um planejamento, e eu estou aqui agora e agora vou me planejar para fazer tal coisa e decidir aquilo...

R. Aqui no sesshin não, mas na vida sim, nós tínhamos um problema na nossa casa, a minha esposa costumava todos os dias deitar e dizer amanhã a gente tem que fazer isto, tem que fazer aquilo, assim não dá. Levanta agora, pega a caneta e escreve o que nós vamos fazer amanhã porque agora vamos dormir, amanhã é amanhã eu não sei se vou morrer hoje de noite dormindo, o que adianta ? Vá agora e está resolvido o problema de amanhã. Agora, isto são hábitos, são hábitos que a gente tem que criar para conseguir ser mais livre de mente. Não é que não seja necessário ter a agenda de amanhã. Imaginem, eu sou consultor, tenho empresa de consultoria, tenho consultores trabalhando, tem agenda de viagem de um e de outro, tem que agendar e cumprir as agendas, não deu certo, não deu, deu certo deu, que bom, então no fundo você faz as mesmas coisas, mas com muito menos ansiedade, é só uma questão de como você olha, como você olha os acontecimentos e os hábitos que você faz...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Tooro Nagashi em Florianópolis




Dia 11 de março, foi realizada em Florianópolis a cerimônia de Tooro Nagashi pela Wakamiya-Maru, em memória às vítimas do Terremoto seguido de Tsunami ocorrido no Japão, no ano passado.
O lançamento de pequenas lanternas flutuantes luminosas foi feito no canal da Barra da Lagoa, às 20h, enquanto monges budistas da Comunidade Zen Budista de Florianópolis entoavam sutras.

terça-feira, 13 de março de 2012

Fé, dúvida, determinação


Visita de Senpo Oshiro Sensei à Comunidade zen budista de Florianópolis.

P. Quais seriam os três elementos?

R: Monge Genshô: Grande fé, grande dúvida, firme determinação.


P. Eu não sei se a dúvida diminui tão facilmente quanto a determinação...até que ponto a Sangha também neste momento, que falha a determinação, é importante para a continuidade do caminho...

R. É verdade, a Sangha nos ajuda muito quando a nossa determinação enfraquece...


P. Praticar sozinho é possível?

R. Praticar sozinho é terrível, precisa ter uma determinação muito forte porque qualquer desculpa você diz: eu não vou sentar, mas no sesshin existe uma pressão social, que tento acentuar, não saiam, não abandonem o grupo em hipótese nenhuma, estejam em todas as atividades sempre juntos, porque a gente começa a comer junto, para de comer junto, espera pelo outro, só começa quando todo mundo está junto, por que esta insistência? Este método no Zen? Para reforçar o compromisso, se alguém não está então todo mundo espera, aí então há vergonha, não é? Já aconteceu comigo, você chega lá, todo mundo sentado esperando, isto acontece com todos nós, aí a gente aprende o significado do compromisso com a Sangha. É por isso que a gente faz isto no sesshin várias vezes, aí todo mundo entende o significado do compromisso porque a gente depende da Sangha para ter força, se todo mundo tiver licença para sair, ah! Não, estou cansado vou esperar lá fora, ah! este zazen eu vou me deitar no quarto, acabou este sesshin, de repente vai haver três sentados e o resto já está dormindo, porque afinal de contas acordaram as quatro da manhã.


P. Mas tem uma questão que é muito forte que é a gente plasmar no universo a vontade coletiva, isto reforça o grupo...toda vez que o grupo estiver fazendo junto a gente consegue até ir além desta questão puramente social e de compromisso e consegue efetivamente atingir um nível mais elevado que não é só o social e o compromisso...

R. Sim. É uma energia mais sutil e muito forte...


P. E que inclusive já foi até objeto de estudo, pessoas que participam de grupo social, atividades coletivas às vezes conseguem ter uma sobrevida física maior...

R. Com certeza porque são mais felizes também, se algum de vocês durante o sesshin em algum momento sentou sozinho, olhou para uma janela ou teve uma sensação assim: eu estou feliz, eu queria que isto não acabasse, isto é muito interessante porque o sesshin é sofrido, mas se em algum momento você sente: ah, eu queria que isto não acabasse, então você experimentou uma outra coisa, isto é um lampejo do nirvana, porque o nirvana é esta situação de harmonia que você cria através das regras que o sesshin propicia, regras para evitar conflito, regras para reforçar-se junto um ao outro, práticas de plena atenção e sofrimento porque quem senta junto e sente dor nas pernas, e eu sinto, sente que os outros que sofreram as mesmas dores junto são companheiros de verdade.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Determinação (daifunshi)


Hakuun Yasutani Roshi

É uma dúvida que não nos deixa descansar. É como se soubéssemos perfeitamente bem que somos milionários e no entanto inexplicavelmente nos encontrássemos em extrema miséria sem um centavo nos bolsos. Uma forte dúvida, por isso existe proporcionalmente à fé firme.
Surge deste sentimento de dúvida o terceiro elemento universal, uma forte determinação (daifunshi) que brota naturalmente. É uma irresistível determinação de dissipar essa dúvida com toda a capacidade de nossa energia e força de vontade.(TEXTO)
É, são vocês, esta dúvida e sofrimento, e com grande determinação vem ao sesshim e sentam. Esta força, esta determinação vem daquela fé, mas todo tempo tem dúvida, mas vocês acreditam que dá para resolver e por isto sentam e tentam.(COMENTÁRIO) Acreditando, no âmago de nosso ser, na verdade do ensinamento do Buddha de que somos todos dotados de uma mente-bodhi imaculada, tomamos a resolução de descobrir e experimentar a realidade desta mente por nós mesmos.(TEXTO) Vocês mesmos resolvem por si mesmos sentar e achar a verdade sem confiar que vão receber esta verdade do outro porque o monge aqui ensinando não transmite isto, ele só dá dicas e cada um tem que trilhar o caminho sozinho. Não adianta acreditar no monge, na realidade nós temos que achar a solução por nós mesmos dentro da nossa mente, construir esta mente, acordar sozinhos, no máximo o que o monge faz é bater com o kyosaku...(COMENTÁRIOS)

Há poucos dias, uma pessoa que havia compreendido muito mal o estado da mente exigido por estes três elementos essenciais, perguntou-me: “Acreditar que somos Buddha é algo mais que aceitar o fato de que o mundo, assim como é, perfeito, tal como o salgueiro é verde e o cravo vermelho?” O sofisma aí é evidente. Se não perguntamos porque a ambição e o conflito existem, por que o homem ordinário age como qualquer outra coisa, menos como Buddha, nenhuma determinação brota em nós para resolvermos a óbvia contradição entre o que acreditamos como matéria de fé e o que nos parece ser justamente o contrário, e nosso zazen (se não confiamos nisto) é por isso desprovido de sua principal fonte de energia.(TEXTO) E concluindo: com fé de que é possível trilhar o caminho de Buddha, sentamos com a dúvida de vermos um mundo como nós vemos, um mundo de samsara, então acreditamos que existe o nirvana e que o engano é nosso, tentando resolver o nosso engano é que praticamos para tentar resolver a nossa mente e acordar e o elemento para isso que pode solucionar o nosso dilema é uma firme determinação de praticar sem concessões, sem aceitar nada de sobrenatural, nada de supersticioso, nada de milagroso, nada de divino, acreditando que tudo já está aqui, agora, completo.

(Comentários sobre texto de Yasutani Roshi)

sexta-feira, 9 de março de 2012

A mente iluminada


P. Não teremos também nesta questão da perfeição a questão da lei kármica atuando de que, por exemplo, não somos nós, mas alguém que morreu, alguém que está ali, que está sofrendo em função de um karma, que matou, gerou um karma, que vai para algum lugar...


M. Genshô: Do ponto de vista relativo você tem razão, do ponto de vista absoluto você é a vítima do terrorista e você é o terrorista porque dentro de nós existem estas condições kármicas, nós estamos neste mundo, você poderia ter sido um terrorista se tivesse sido criado para isto, você poderia ser uma vítima, na verdade ninguém neste mundo é inocente destes crimes... Porque, na verdade, tudo isto são atos das bolhas que somos nós, lembrem da imagem das bolhas dentro da garrafa, na verdade é perfeito porque tudo era gás carbônico e nós só estamos vendo as bolhas que surgem e desaparecem...


P Mas não é perfeito como um processo em evolução?


R. Não é uma questão de evolução, ele só não é perfeito porque nós estamos aqui olhando e daí nós construímos o samsara com a nossa visão, este mesmo samsara que nós estamos olhando, este mundo de ilusões e sofrimento é o nirvana, se a nossa mente muda é o nirvana, por que é o samsara? Porque você está sonhando e é um sonho mau, mas na verdade não há este sonho mau se você acorda, e por isso é iluminação, por isso que já disse uma vez... iluminação é você receber a notícia – seu filho morreu, e você dizer: ah, está bem, porque sabe que esta morte é ilusória, aí é iluminação completa.

P. Eu sinto que eu tenho muito para pensar.


R. Na realidade este ensinamento é muito complexo, a gente só ensina assim no Zen, em qualquer escola Buddhista você vai devagar passo a passo, é no Zen que a gente diz estas coisas assim de repente e o aluno tem que ficar pensando...

Então nós estávamos falando sobre a dúvida – daigidan, então nossa fé profunda nos diz uma coisa e a nossa mente, o mundo que nós olhamos parece imperfeito, cheio de ansiedade , conflito e sofrimento e a nossa fé nos diz que a verdade é o oposto, Buddha está dizendo: não a verdade é o oposto, a verdade é o que você vê naqueles lampejos sentado na almofada, aqueles momentos claros em que tudo é lindo, perfeito, são manifestações da mente iluminada, lampejos da mente iluminada, imagine que você tivesse uma mente que fosse assim todo o tempo, sem passado, sem futuro, consciente do momento presente vivendo tudo perfeito, então seria uma mente iluminada...

terça-feira, 6 de março de 2012

Viagem de Seigen San


Seigen San, meu irmão no Dharma, irá ao Japão em abril e permanecerá durante um ano no mosteiro de Sojiji Soin em Ishikawa. Para ajudar em suas despesas criou um site com suas magníficas fotos, aqueles que se interessarem podem visita-las aqui:
http://mitih.com.br/galeria

II Hanamatsuri em Florianópolis


Preparativos para o II Hanamatsuri

1. A Comunidade Zen Budista de Florianópolis juntamente com a Associação Nipo Catarinense, Nipo Cultura e a Sangha do Centro de Estudos Budistas Bodisatva estão organizando o 2º Hanamatsuri em Florianópolis, para levantar fundos estamos realizando no dia 18 de março um almoço (Yakisoba) na ACOJAR (Av. Madre Benvenuta - Santa Mônica em frente ao posto policial). O valor de cada convite que pode ser adquirido na nossa sangha é de R$15,00 (quinze reais).

2. Para realizarmos o 2º Hanamatsuri vamos precisar da ajuda dos membros da sangha para montar os dois altares, bem como a nossa lojnha para venda de livros e outros produtos. O evento será no dia 14 de abril na praça Getulio Vargas, das 8:00 às 17:00Hs, fazendo parte das comemorações dos 10 anos da sangha. Haverá além das cerimônias religiosas atrações de palco e stands de diversas entidades governamentais e não governamentais.


O contato dos voluntarios pode ser feito pelo e-mail monge.tokushi@yahoo.com.br


Comunidade Zen Budista de Florianópolis
www.daissen.org.br

Acordar da ilusão


Sem uma fé firme nisto que é o coração do ensinamento de Buddha, é impossível progredir muito na sua prática.
A segunda qualidade indispensável é um ensinamento de forte dúvida (daigidan). Não é uma simples dúvida, notem, mas uma dúvida maciça por que nós e o mundo parecemos tão imperfeitos, tão cheios de ansiedade, conflitos e sofrimentos, quando de fato nossa fé profunda nos diz exatamente que a verdade é o oposto.
(TEXTO) Então nós olhamos o nosso mundo cheio de sofrimento, cheio de problemas e no Buddhismo o ensinamento é: não, isto é perfeito e maravilhoso, tudo já é perfeito como é, quem está enxergando torto é você, tudo é contra a nossa experiência, é só sentando que a gente pode ver aquele lampejo maravilhoso, então talvez se possa ver tudo como maravilhoso e perfeito e atinge-se uma grande e perfeita felicidade, mas ela só é atingida passando por esta grande dúvida, porque o nosso mundo nos diz o contrário, o nosso mundo nos diz que nós nascemos e morremos e o Buddhismo nos diz o quê? Que o nascimento e a morte são delusões, que nós não temos mortes verdadeiras...

P. Mas existe um sofrimento...

Monge Gensho: Sim um sofrimento num mundo relativo, mas num mundo absoluto ele também é ilusório. Este sofrimento também é sonho, é um pesadelo, mas é sonho, se você acordar nem este sofrimento é real, as mortes não são reais, nada disto é, tudo isto é sonho interpretado, agora aquele que está dentro do pesadelo sofre, não sofre? Esta é a questão do Boddhisattva – não existem seres para serem salvos, no entanto o Boddhisattva vem ao mundo e ensina o Dharma e se esforça para diminuir o sofrimento no mundo, por quê? Porque aqueles seres que sonham estão sonhando ilusões, mas enquanto sonham sofrem terrivelmente porque quando você tem um pesadelo você sofre, não sofre? Não é completa ilusão o pesadelo? Estão torturando você, estão matando você, seus filhos estão morrendo, qualquer coisa assim, horrível, você chora e geme...

P. A angústia é a mesma...

Monge Genshô: Como se fosse verdade...você está lá gemendo, chorando e se contorcendo na cama e um amigo vai lá e sacode você e diz: acorda!acorda! E quando você desperta você vê que tudo aquilo era ilusão, não é? Muito bem, os Buddhas e Boddhisattvas são aqueles que sacodem os ombros dos que dormem, não é que aquele sofrimento não exista, por isto, por compaixão os Boddhisattvas sacodem os ombros dos que dormem, dos que tem pesadelos, existe sofrimento? Sim, Mas é ilusão este sofrimento.

(Comentários sobre texto de Yasutani Roshi em palestra)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Um fio de luz


Monge Genshô: O Buddhismo começa com a iluminação de Buddha, que ele obteve depois de um esforço ardoroso. Por esse motivo, nossa fé suprema é na experiência da iluminação de Buddha, cuja substância ele proclamou ser esta natureza humana, toda existência que é intrinsicamente total, impecável, onipotente – numa palavra perfeita.(TEXTO). Então qual é a nossa fé? A nossa fé é de que vale a pena seguir o caminho de Buddha e nesse sentido todos aqui são pessoas de grande fé porque para virem até o sesshin, sentarem e sofrerem é porque confiam que afinal de contas Buddha obteve com este esforço um resultado maravilhoso. Então existe fé na nossa prática.

P. Esta fé também não pode se basear em pequenas experiências...


Monge Genshô: Pode, aí começa a deixar de ser na realidade fé, começamos com fé, é assim: primeiro nós confiamos e por isto nós começamos a praticar, mas logo começamos a ter pequenas experiências que nos dão lampejos que nos dizem: ah, tem realmente algo para conseguir, eu vi uma réstia de luz então eu vou lá abrir aquela porta aonde tem mais luz porque eu vi um fio de luz, estas pequenas experiências que no sesshin muitas pessoas tem, é muito interessante, porque cada pessoa conta uma aventura, que é uma aventura pessoal, muitas vezes emocionante, comovente, isto é sesshin...

(Comentários sobre texto de Yasutani Roshi em palestra)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Vida universal


Dogen Zengi chamava isto de shojo-no-shu (prática baseada na iluminação). A Vida-universal é a iluminação. Baseados nisto, nós praticamos sendo o universo inteiro. Isto também é chamado shusho-ichinyo (prática e iluminação são uma coisa só).
Todos nós preferimos a felicidade ao infortúnio, o paraíso ao inferno, a sobrevivência à morte imediata. Estamos assim, sempre bifurcando a Realidade, dividindo-a em algo bom e algo mau, algo do qual gostamos e algo do qual não gostamos. Da mesma forma discriminamos entre satori e ilusão e lutamos para alcançar o satori.
Porém, a realidade do universo está muito além da tal atitude de aversão e apego. Quando nossa atitude é “qualquer que seja”, “o que quer que seja”, “onde quer que seja”, então manifestamos o universo inteiro.
(TEXTO)
E por isto na Escola Soto, Dogen já ensinou assim: sente, sem procurar atingir a iluminação, só pratique aqui sentado porque já é uma mente iluminada a mente sentada ou tem grande potencial de ser. Não tente alcançar nada porque se você ambicionar alcançar isto também vira outra armadilha. Uma mente aquisitiva, um materialismo espiritual, a tentativa de obter algo para si mesmo. Não precisa. Só sente e olhe, mais nada.(COMENTÁRIO)
Em primeiro lugar, a atitude de tentar ganhar alguma coisa é, por si mesma, instável. Quando você luta para ganhar o satori, você está, indiscutivelmente, iludido, porque você deseja escapar de um estado de ilusão.
Dogen ensinou que a nossa atitude deve ser de prática e trabalho diligente em qualquer situação, seja ela qual for. Se caímos no inferno, atravessamos o inferno; essa é a atitude mais importante para se tomar. Se encontramos a infelicidade, devemos trabalhá-la com sinceridade.
(TEXTO) Isto é uma coisa interessante e às vezes a palavra zen é muito mal usada. Quando dizemos, esta pessoa é zen. Não. Zen também é encontrar a infelicidade, o sofrimento, então devemos andar dentro do sofrimento completamente. Saber sofrer também é a prática do zen. Entender a infelicidade completamente, percebê-la inteiramente. O pensamento que vem com ela, o sofrimento que vem com ela, a angústia que vem com ela também.(COMENTÁRIO)
Apenas sente-se na Realidade da Vida, vendo o inferno e o paraíso, aflição e alegria, vida e morte, todos com os mesmos olhos. Não importa a situação, nós vivemos a vida do eu. Devemos nos sentar imóveis sobre este princípio. Isto é essencial; é isto o que significa “tornar-se um com o universo”.
Se dividimos o universo em dois lutamos para alcançar o satori e escapar da ilusão, não somos o universo inteiro. Felicidade e infelicidade, satori e ilusão, vida e morte; veja-os todos com os mesmos olhos. Em cada situação o eu vive a vida do eu - tal eu deve fazer-se por si próprio. Esta Vida-universal é o lugar para onde retomamos.
(TEXTO)

(Em itálico texto de Uchiyama Roshi, comentários de Monge Genshô em palestra de sesshin)

quinta-feira, 1 de março de 2012

A vida universal se manifesta


Se praticarmos desta forma não poderemos deixar de perceber que nossos pensamentos são, realmente, nada mais que secreções do cérebro. Assim como nossas glândulas salivares produzem saliva, nossos estômagos produzem suco gástrico, da mesma forma nossos pensamentos nada mais são que secreções cerebrais.
Geralmente, no entanto, as pessoas não entendem isto. Quando pensamos: “Eu o odeio”, odiamos a pessoa, esquecendo que o pensamento é simplesmente uma secreção. O ódio ocupa a nossa mente tiranizando-a. Ao odiar uma pessoa, ficamos subordinados a este tirano. Quando amamos alguém somos arrastados para longe por nosso apego à esta pessoa; tornando-nos escravizados a este amor. Esta é a fonte de todos os nossos problemas.
Por exemplo, nossos estômagos liberam suco gástrico para a digestão da comida. Se eles liberam demais, isso não é bom, podemos desenvolver uma úlcera ou até mesmo um câncer de estômago. Nossos estômagos liberam suco gástrico para nos manter vivos, mas em excesso é perigoso. Hoje em dia as pessoas sofrem de um excesso de secreções- cerebrais e, além disso, elas se permitem ser tiranizadas por estas secreções. Esta é a causa de todos os nossos erros.
Na realidade, os vários pensamentos que surgem nas nossas mentes são apenas cenário da vida do eu. Este cenário existe sobre o terreno da nossa vida. Como disse anteriomente, não deveríamos ficar cegos, ou inconscientes deste cenário.O zazen tem uma visão de todas as coisas como o cenário da vida do eu. Em antigos textos zen refere-se a isto como “hochino fuko” (o cenário do terreno original).
Não é que nós tomemos a Vida-universal como resultado da nossa prática. Todos e cada um de nós recebe e vive esta Vida–universal. Somos um com o universo inteiro, porém não o manifestamos como sendo o universo no verdadeiro sentido
.(TEXTO) Nós não nos manifestamos assim. Nós somos um com o universo inteiro mas não o sentimos Não percebemos assim. Nós nos sentimos como? Separados, cada um sentado na sua almofada. Por isso no sesshin a gente faz tanta pressão no sentido tudo junto, tudo junto. Não pense, não decida, não faça, vá junto com o fluxo, obedeça sinais sonoros, comece as coisas na hora junto com todos, termine junto com todos, faça reverência junto com todos, não cogite, não ache bom, não ache ruim, faça junto, só isto. Para que? Para voltar, voltar para nós mesmos porque nós nos perdemos de nós mesmos com os nossos pensamentos.(COMENTÁRIO)
Já que nossas mentes estão discriminando percebemos apenas a extremidade das secreções. Quando fazemos zazen, nós largamos os pensamentos e então os pensamentos caem. Aquilo que surgem em nossas mentes, desaparece. Aí a vida universal se manifesta.(TEXTO) Neste momento ela tem espaço para se manifestar. Então é proposital que a gente acorde tão cedo, agora chegou a hora da palestra, saiu da almofada, tem o encosto da cadeira, aí vem o sono, estamos sentados para que? O homem cansa, a gente cansa e então surge o espaço para a gente perceber a Vida-universal. Quando vocês estão em zazen prestem bem atenção, às vezes o sono no sesshin começa a tomar conta e naquele momento que o sono está chegando se a gente não se entrega para o sono e abre os olhos, aquela mente que vem a ser um pré-sono ela é uma mente muito especial, muito vazia, então este é um bom momento de agarrar aquele estado. Mas se você deixar que o sono se instale aí você dorme e entram outras fantasias.São as fantasias dos nossos sonhos que também manifestam o conteúdo da nossa mente. Então enquanto estamos fazendo zazen estamos sonhando acordados e se nos libertarmos do sonho então poderemos ver a perfeita felicidade e é a percepção da Vida-universal, da unidade. Quando percebemos isto, nosso verdadeiro eu, então nos sentimos muito, muito bem e aí desejaríamos não sair daquele estado nunca. Mas quando surge este sentimento, este sentimento também é uma armadilha porque é armadilha ficar neste estado prazeroso. E este estado prazeroso a gente começa a atingir na prática, mas também não deve se agarrar a ele, tem que ir mais longe.(COMENTÁRIO)
(Em itálico texto de Uchiyama Roshi, comentários de Monge Genshô em palestra de sesshin)