segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Diário de monja

Entrei no quarto do Hotel, soltei as sacolas, respirei fundo…. Então me perguntei: o que estou fazendo!?… Não sei, somente indo. Para que? Tão pouco sei, estou me deixando levar. Em algum momento entre a saída para o Japão e os dois primeiros meses em Kasuisai, fiz a seguinte pergunta a Saikawa Roshi ” … Posso ir lhe visitar em Yamagata Ken?”. Naquele momento não obtive resposta , então não pensei mais no assunto. Quando já preparava as malas para sair de Kasuisai, tivemos a enorme alegria de receber a visita de Saikawa Roshi no mosteiro. Nesta oportunidade, ele me perguntou mais ou menos isto: ” … você vai para Yamagata Ken quando sair(?). Você ainda quer ir? É longe e sai da sua rota. Lá não tem muita coisa para você conhecer, pois é uma cidade do Interior.” Imediatamente disse que sim. Claro que iria. Esse nada era tudo. Ali estava eu, ao longo de um dia de viagem, entrando em um quarto de hotel em Yamagata Ken. E ainda faltavam, no dia seguinte, 2 horas de ônibus e depois trem. Não sabia exatamente a que hora iria chegar… E nem exatamente para onde estava indo, para Gyokurinji ou Hosenji. Quando chegasse saberia. Enquanto isto, aproveitei a paisagem do Japão que continuava mudando … Meu pai me perguntou se não tinha medo de andar assim, sozinha, sem conhecer, com as dificuldades do idioma. Não, não tenho, não pensava nisto, somente vou. Quando não sabia perguntava… aliás perguntava o tempo todo e os Budas que encontrava no caminho me ajudavam, me mostravam por onde ir. Em alguns momentos me levavam pela mão, em outros deixavam eu me virar sozinha – para que pudera aprender andar, experimentar. Me alimentaram, com palavras, carinho e comida. Me deram passagens. Me vestiam. Só tinha que seguir. Dogen Sama e os ancestrais, viajavam o mundo a pé … Eu! De avião e Shinkansen. Dormiam ao relento e eu em quartos de hotel. Usei o computador, mandei e recebi notícias. Falei com o Roshi e com o Sensei por telefone… Bem mais fácil né ?! (Trecho de diário de monja Sodô San, do DaissenJi de Brasília)