sábado, 31 de janeiro de 2009

No último momento


P: Seria possível uma pessoa se iluminar no fim da vida, mesmo tendo vivido uma existência desregrada?

R: Teóricamente sim, a morte é um grande momento, uma oportunidade, mas precisa-se estar preparado para ela ou seremos arrastados pelos nossos condicionamentos cármicos tal como sucede nos sonhos. Na prática seria muito surpreendente alguém se libertar sem haver diligentemente elaborado isso. Construímos uma mente durante toda a vida, como modifica-la radicalmente em um instante?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

"O Centro Dentro de Nós"


"O Centro Dentro de Nós"

do Rev. Sensei Gyomay Kubose
Sensei Gyomay Masao Kubose foi discípulo do Rev.Haya Akegarasu e fundou o Buddhist Temple of Chicago, sendo seu líder espiritual até sua morte, em 29 de março de 2000, com 94 anos de idade. Foi citado muitas vezes por sua obra no âmbito da comunidade buddhista e das relações comunitárias e em 1970, recebeu o World Buddhist Mission Cultural Award. Durante toda sua vida o Rev. Kubose enfatizou e ensinou a todos o Buddha-Dharma não-sectário.
Você pode pedir um exemplar aqui

LAVE OS PRATOS (uma história zen famosa comentada em um trecho do livro)

Um noviço aproximou-se de seu mestre e disse: “Por favor, ensina-me Buddhismo”. O mestre perguntou: “Você já comeu?” O noviço respondeu: “Sim”. O mestre disse: “Então, lave os pratos”.

Esse diálogo é famoso. Após comer, é natural lavar os pratos e limpar o resto. Este modo natural é o modo buddhista. Quando a ajuda é necessária, vá e ajude naturalmente - sem nenhuma sensação de obrigação ou dever.

Nuvens aparecem no céu de acordo com causas e condições. Elas se movem como devem se mover. A água flui de um plano superior para um inferior. O homem é parte da natureza. Por que não vivemos naturalmente? Quando nosso ego aparece, há tanta artificialidade e pretensão! Sim, a vida algumas vezes é dura - muito dura. Mas a vida deve ser vivida. Não podemos escapar. Ficamos doentes. Sem ninguém para ajudar. É a vida. Encare a realidade de frente e não seja derrotado. Não seja arrogante. Quando for difícil, agüente. Ajude os outros e seja ajudado. Esta é a forma natural.

Quando fazemos coisas, por menores que sejam, que possamos fazê-las cem por cento. Não cometemos muitos enganos nas coisas grandes da vida; cometemos nas coisas pequenas. A vida, no final das contas, é composta de coisas pequenas colocadas juntas. Cada ação deve ser feita cem por cento, de modo que, no final do dia, não haja arrependimento. Uma vida buddhista é uma vida sem arrependimentos.

Lavar seus pratos após ter comido é algo comum, uma coisa natural. O Buddhismo não é algo especial. Viva como o vento; viva como a água que flui. Faça tudo sincera e completamente - sua vida se tornará perfeita. Perfeita sem comparações, pois não há algo como um critério geral. Cada um vive sua verdadeira vida. Isto é o que o mestre queria dizer quando falou: “Depois de comer, lave os pratos”.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Dharma com Pipoca - O Curioso Caso de Benjamin Button


O sonho de rejuvenescer sempre se mostra tão insatisfatório quanto o fato de envelhecer. A alegoria do filme vira o tempo no sentido contrário e esta impermanência produz sentimentos surpreendentes na platéia.

A Comunidade Zen Buddhista de Florianópolis convida a todos para participarem do "Dharma com pipoca no cinema", com o filme O Curioso Caso de Benjamin Button - que será exibido na sala 3 do Shopping Iguatemi, nesta quinta-feira (29/01), pontualmente às 19hs. Após o filme haverá um bate papo informal com o monge zen buddhista Meihô Genshô, sobre passagens pertinentes do filme.

O Curioso Caso de Benjamin Button
Warner Bros
The Curious Case of Benjamin Button - 2009
EUA / 167 min / 12 anos / Drama / Legendado
Direção: David Fincher.
Elenco: Brad Pitt, Tilda Swinton, Cate Blanchett, Elle Fanning, Elias Koteas, Julia Ormond, Jason Flemyng.

Sinopse: Baseado em um romance homônimo de F. Scott Fitzgerald, escrito na década de 20, o drama conta a bizarra história de um homem que nasce com 80 e poucos anos e começa a rejuvenescer. Bejamin Button nasce em 1918, no final da I Guerra Mundial, e com o passar dos anos torna-se cada vez mais jovem, ultrapassando os anos até chegar ao século 21.

Aguardamos todos na quinta-feira, às 18:30h em frente a sala 3.

Qualquer dúvida manter contato por e-mail ou pelo tel. 9982.1969 com Michel Seikan.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Venerável Uttaranyana Sayadaw em São Paulo



O Conselheiro do Colegiado Buddhista Brasileiro
Venerável Uttaranyana Sayadaw ensinará em São Paulo

Jan 24th, 2009 by salvarez

Palestra e Workshop Buddhista: Meditação Vipassana e o Caminho do Meio

No dia 13/02/2009 - Palestra das 20h às 21h30 - O que é o Buddhismo?

No dia 14 e 15/02/2009 - Workshop das 9h às 17h. - Instruções e práticas de Meditação Vipassana e ensinamentos sobre o Nobre Caminho Óctuplo.

* Contribuição Sugerida: sexta, sábado e domingo: R$120,00; Sábado e domingo R$ 110,00; apenas sábado ou domingo R$ 70,00.

* Contato: (11) 9309-6400 (Noriko) noriko@superig.com.br; ou (11) 8485-9458 (Fernando) emporio56@uol.com.br

*** O Evento será realizado no Espaço Projeto Oásis - Rua Michigan, 333 - Brooklin Paulista.

Sobre o Venerável:

O Venerável Uttaranyana Sayadaw é Conselheiro do Conselho Consultivo do Colegiado Buddhista Brasileiro e é o atual abade do Birmingham Buddhist Vihara. O Bhante nasceu em Myanmar em 1949, e desde sua infância é monge theravada. Além de sua formação monástica, dedicou-se ao estudo acadêmico, tendo recebido em 1998 seu PhD. Atualmente é professor da International Buddhist University, onde leciona Gramática Pali, Majjimanikaya, Abhidhamma e Meditação Vipassana.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Yamagataken



Este é um mapa que mostra a província de Yamagata no Japão. Neste local está o templo zen de Saikawa Roshi, o Superior da Soto Shu para a América Latina (Sookan). Cedendo seu templo, para registrar os monges brasileiros oficialmente, Saikawa Roshi obtem uma unificação rara no ocidente, da qual o Brasil se torna paradigma, e que deve se consolidar em julho/2009.
Pertencendo a mesma organização central, a Soto Shu, os monges brasileiros, de todas as linhagens, passam a ser irmãos no Dharma, partilhando os mesmos templos, obtendo uma irmandade pacificadora, e acesso a treinamento padronizado internacionalmente. A união dos mestres que propiciam esta iniciativa é a lição principal para os alunos, que assim aprendem o ensinamento básico da busca da harmonia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Reações


P: Não resisto a responder e devolver as palavras ásperas que ouço, minha prática de meditação é incipiente e tendo a insultar. O que devo fazer?


R: Há que considerar que existem pessoas que, tendo muitos maus sentimentos dentro de si, os expressam tentando provocar reações. Isto é uma falta de disciplina mental e um grande impedimento ao progresso espiritual, são estes os incendiários do mundo, eles só podem dar aquilo que possuem, se tivessem em seu coração amorosidade e compaixão seria isto que sairia de sua boca.
Você que deseja praticar não deve entrar no seu jogo, as pessoas que tem raiva ou ódio são como atiradores de brasas, são os primeiros a serem queimados quando tentam joga-las em alguem, quando houver oportunidade devemos desperta-los para isso, mas isto não é possível reagindo da mesma forma. Brasas se consomem sozinhas se não colocarmos mais combustível junto a elas. Se você as olhar como flores e ajuda para seu progresso, as brasas serão como lotus em suas mãos.
A ordem das ações é pensamento-fala-ação, assim o que você deve fazer é tentar que o pensamento de reagir não surja, ouça apenas, como isso é difícil você tem a oportunidade de, embora surgindo pensamentos e emoções, fechar firmemente sua boca e nada dizer, faça o propósito firme de agir assim e se ponha em teste, quanto mais vezes conseguir mais fácil ficará, depois comece a tentar mudar seus pensamentos, vigie-os e não deixe que eles sejam seus senhores, seja você o senhor de sua mente.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Entrar em um mosteiro zen


P: Como se entra em um mosteiro zen? A organização provê o sustento? O monge recebe algum estipêndio? Como se aprende o Dharma? Que facilidades terei se quiser isso?

R: Quanto a aprender o Dharma vou contar a antiga tradição para ser admitido em um mosteiro zen no Japão, nada tem a ver com dinheiro mas muito quanto as questões, constrangimento, facilidade etc..que são preconizadas pelos novos praticantes:

O postulante deveria ficar três dias sem comer em frente ao portão do mosteiro, sem se afastar, urinando por ali mesmo. Após estes três dias, sem que ninguém lhe perguntasse nada, o porteiro o interroga, pergunta o que quer, o postulante diz que deseja ser monge, o porteiro diz que o mosteiro é muito ruim para uma pessoa como ele, fina assim, que vá a um lugar melhor. Se o postulante insiste é então levado a uma sala, chamada Tangaryô, que nada tem exceto lugar para meditar e uma porta aberta que dá para a rua, o porteiro lhe leva uma tigela de arroz com um picles e água. Durante sete dias ninguém fala com ele, o postulante deve ficar meditando sentado em frente a parede todo o tempo, caminhando em meditação em volta da sala para relaxar as pernas. Se após este tempo, não tiver saído pela porta, pode entrar no mosteiro, durante um ano será subordinado de todos os veteranos, sem nunca protestar.
(O sistema da sala Tangaryô é usado até hoje nos mosteiros zen do ocidente)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Rituais que papel tem no buddhismo?


Os rituais foram na realidade desenvolvidos com o tempo, em diferentes culturas de forma diversa e representam auxílios a prática, no entanto elas não são o coração da prática do Buddha, podem ser adequados a uma pessoa e estranhos a outra. Os professores procuram enxergar isso e adaptar a cada aluno o que é mais correto para ele dentro da escola que tem tantos aspectos diferentes. Tudo para dizer que zen significa literalmente meditação, e que o cerne da prática em nossa escola é o zazen, à medida que vamos convivendo na comunidade vamos aprendendo outras técnicas da escola e nos tornando proficientes em alguns outros pontos, o professor observa e troca os alunos de atividade dando a eles oportunidades de se expressar e mostrar na ação o que a meditação está produzindo internamente. Quanto aos métodos de outras escolas eles certamente foram desenvolvidos em contextos que os exigiram e são os melhores para certo tipo de pessoas, assim como os do zen são para os alunos que se sentem atraídos por este, não são superiores ou inferiores, corretos ou incorretos, somente riqueza e diversidade do budismo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Manifestação/ renascimento


P: Qual o motivo de nascermos com determinadas características?

R: Numa imagem metafórica, é como perguntar por que uma onda de água, ao bater num rochedo, reflui para o mar com igual força. Isso ocorre porque um "quantum" de energia tende a se propagar, e se manifestar com a mesma força e mesmas características básicas do fenômeno que o antecedeu. Percebemos, assim, que o "eu", sendo um fenômeno temporário, uma construção aparente, não pode ser permanente, e,
portanto, não pode se manifestar novamente como o mesmo eu. Apesar disso, sua energia acumulada, sua onda "cármica", esta sim, manifestar-se-á de novo, com características semelhantes. Logo, não existe "um mesmo ser" ou "um eu" para reeencarnar. Prefiro mesmo a palavra "manifestação" a "renascimento", o "re" leva à crença em um nascimento que se repete, do mesmo indivíduo, tese do filósofo Senika que Buda refutou.

Uma imagem normalmente usada no Budismo: uma semente de manga produz uma mangueira que produzirá mangas do mesmo tipo (Nagasena responde assim ao rei Milinda). Não são as mesmas mangas, mas são uma continuidade semelhante, determinada pelas características anteriores. Nesse entendimento podemos dizer que um "eu" particular não renasce, pois sua existência é uma delusão. Porém, a carga cármica de cada ser manifesta-se novamente, mantendo sua força e características anteriores. No Zen Budismo, praticamos para alterar o carma e, até mesmo, a extingui-lo, voltando ao seio de nossa natureza última, não distinta nem perturbada por marcas particulares, nem pela crença em um "eu" separado, que é a ignorância fundamental.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Em que nos concentramos no zazen?


Se EU ficar concentrado, como é que me libertarei deste EU? Se há alguém observando quem é este que observa? Como nos libertaremos do eu se estamos reforçando-o lhe dando um papel?

Eis porque o zazen não tem foco nem concentração em nada, porque isto serve como âncora para um eu se solidificar.

Naturalmente, no início da prática várias técnicas são usadas para ajudar a obter estabilidade, tais como contar respirações, no entanto este ainda não é o zazen propriamente dito. Abaixo um texto de 750 anos atrás explica melhor. (Atualmente o termo Hinayana não é mais usado por não haver mais nenhuma escola sobrevivente a que ele possa ser aplicado, a palavra Hinayana reflete um conflito existente 2000 anos atrás entre diferentes propostas de prática budistas. Dogen indica também que o zen não se enquadra como método Mahayana )

"Dogen Zenji (1200-1253) diz no Eihei-koroku (Coleção Formal de Discursos e Poemas de Dogen Zenji), vol.5: “Em nosso zazen, é de fundamental importância sentar-se na postura correta. A seguir, regular a respiração e se acalmar. Na Hinayana, há duas formas básicas (para a prática do iniciante): uma é contar as respirações, e a outra é contemplar a impureza (do corpo). Em outras palavras, um praticante Hinayana regula sua respiração ao contá-la. A prática dos budas e ancestrais, porém, é completamente diferente da prática Hinayana. Um mestre ancestral disse: ‘É melhor ter a mente de uma raposa enganosa do que seguir o caminho de auto-controle Hinayana’. Duas das escolas Hinayana (praticadas) no Japão hoje são a Shibunritsu (a escola dos preceitos) e a Kusha (a escola baseada no Abhidharma-kosa).

Existe também a maneira Mahayana para regular a respiração. E essa é saber que uma respiração longa é longa, e que uma curta é curta. A respiração atinge o tanden e se inicia ali. Apesar da inalação e da exalação serem diferentes, ambas passam pelo tanden. Quando você respira através do abdômem, é fácil perceber a transitoriedade (da vida), e harmonizar a mente.

Meu falecido mestre Tendo disse: ‘O ar inspirado atinge o tanden; porém, não é que esse ar venha de algum lugar. Por esse motivo, ele não é curto, nem longo. O ar exalado sai do tanden; porém, não é possível dizer para onde esse ar vai. Por esse motivo, ele não é longo, nem curto’. Meu professor explicou dessa forma, e se alguém me perguntasse como fazer para harmonizar a repiração, eu responderia dessa maneira: apesar de não ser Mahayana, é diferente da Hinayana; e apesar de não ser Hinayana, é diferente da Mahayana. E se eu fosse questionado mais além em relação ao que é em última instância, eu responderia que inalar ou exalar não são nem longos, nem curtos.”

Mais detalhes no site oficial da Soto Zen aqui

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O que é Samadhi ?


“Samadhi é o estado de profunda concentração. É obtido na prática de meditação. Com o corpo imóvel, a respiração profunda e inicialmente observada, a expiração lenta sob tensão do abdomen, a musculatura relaxada, o corpo como uma estátua, a mente 'como um leão prestes a saltar', em completa atenção, longe de qualquer fantasia, criam-se as condições para o samadhi. Quando ele surge nada mais é observado, a mente se torna livre de pensamentos obsessivos e invasivos, de seqüências associativas, a percepção do mundo em torno fica cada vez mais nítida.”

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O zen tem o cânone como base?


Sim, o cânone, o Triptaka, reunião das escrituras mais antigas, originalmente registrada em língua Páli,consolidada 300 anos após a morte de Buddha, que tem várias versões e traduções, é básica para o budismo zen. Também usamos muitos sutras posteriores mahayana, como o Sutra do Diamante , (na foto acima) e ainda os escritos de grandes mestres zen.
Porém o zen se considera uma transmissão "mente a mente" além das escrituras, assim essas tem o valor relativo de um mapa, não são o caminho em si, esse cada um tem que trilhar, com o auxílio de um mestre, seguindo os preceitos, cultivando a mente compassiva. É melhor andar do que ser erudito dos textos.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Posso contatar a Realidade Suprema ?


Não existe uma "realidade suprema" só uma realidade... as coisas são como são, não devemos nem mitifica-las nem nega-las. A iluminação nada tem a ver com crenças, estas não sobrevivem a sabedoria...

P: Surge-me medo quando medito, por que?

R: Medo normalmente provem de sentimentos de aniquilação do ego, há erro na meditação, o ego é necessário para viver e transitar no mundo, não precisa ser destruído. Descubra: de onde vem este medo?

P: O que o senhor pensa sobre o Sutra do Lótus?

R: O Sutra do Lótus é um sutra tardio, escrito provavelmente séculos após a morte de Buddha, deve ser lido com espírito crítico. Ele também é lido em cerimônias zen budistas, mas considere que no zen todas as escrituras são relativamente irrelevantes, pois são o conhecimento de outros e o que importa é nossa experiência pessoal não a discussão sobre escrituras.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Misturas de trilhas


P: O Sr. acha impróvavel que alguém consiga a liberação tendo influências mistas? Falo de um buscador sincero que entenda que muitas tradições ensinam o desapego e a existência de uma "outra perspectiva". No meu entendimento, o Cristianismo (quando realmente compreendido) e o Hinduísmo (Advaita Vedanta) também ensinam o Dhamma. Gostaria de saber sua opinião.

R: Acho mais provável quando a senda que a pessoa segue não é uma “salada” de diferentes coisas, a moda atual de pegar o que se gosta de cada lado criando uma mistura sem coerência filosófica, a imagem é que subir uma montanha se faz por uma trilha, não seguindo pedaços de trilhas, e, sim, tenho certeza que pessoas no cristianismo e no vedanta , por exemplo, podem atingir a iluminação.
No entanto tenho sérias dúvidas sobre pessoas que pegam pedaços de cada coisa e fazem sua própria colcha, ou de divulgadores pop que fazem do caminho espiritual um show. Sim, o Dharma não é exclusividade do budismo, se fosse os Budhas não o achariam por si. Veja que não nego a posssibilidade da seriedade de buscadores que criam seu próprio sistema alcançarem a liberação, mas a experiência mostra demasiadas imposturas entre esses.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Nissin Cohen


Nissin Cohen - nota de falecimento



"Lamentamos informar que o Sr. Nissim Cohen (Upasika Dhammasari) faleceu no dia 3 de janeiro de 2009 após prolongada doença. Até os últimos dias sempre demonstrou seu entusiasmo e paixão pelo Budismo enquanto trabalhava ao mesmo tempo no segundo volume de sua antologia "Ensinamentos do Buda - a Meditação Budista".
(Celso Carrera)

O Prof. Nissin Cohen foi um incansável defensor do Dhamma, atuando na área da tradução e produção de textos por muitas e muitas décadas. Natural da Turquia, em 1958 mudou-se para o Brasil, e vivia na cidade de Jacareí/SP. Sua paixão pelo Dhamma e pela língua pali o levou a publicar textos e livros artesanais, muitos dos quais guardo com carinho em minha biblioteca. Sua é a melhor tradução do clássico Dhammapada existente em português, feita diretamente do pali. E no ano passado sua dedicação culminou na publicação da obra "Ensinamento do Buda", uma antologia hercúlea dos ensinamentos do Cânon Pali com 570 páginas de ensinamentos preciosos. Um segundo volume já estava anunciado.

Possam os benefícios do Dhamma recair sobre ele que tanto se dedicou com afinco e carinho à divulgação dos sublimes ensinamentos.
Prof. Ricardo Sasaki
Copiado do blog Folhas do Caminho (Link ao lado)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ALJAZZEERA, declaração cita os budistas.


Neste vídeo, cujo link está abaixo, de 2006, em árabe, legendas em inglês, a psicóloga árabe-americana Wafa Sultan corajosamente diz, na tv árabe, o que pensa sobre as ideologias de vingança e imposição da "verdade" sobre os outros, tudo que seu oponente consegue fazer é acusa-la de herética. Ao final do vídeo ela diz: "estátuas de Buddha foram transformadas por muçulmanos em escombros, não vimos um único budista, queimar uma mesquita, matar um muçulmano ou queimar uma embaixada" não retaliar é realmente o espírito do budismo, o ódio não termina com o ódio, o ódio só pode cessar com o amor.

Veja aqui

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Joshu (778—897)


Certa vez, um homem encontrou Joshu, que estava atarefado em limpar o pátio do mosteiro. Feliz com a oportunidade de falar com um grande Mestre Zen, o homem, imaginando conseguir de Joshu respostas para a questão metafísica que o estava atormentando, lhe perguntou:
"Oh, Mestre! Diga-me: onde está o Caminho?"
Joshu, sem parar de varrer, respondeu solícito:
"O caminho passa ali fora, depois da cerca."
"Mas," replicou o homem meio confuso, "eu não me refiro a esse caminho."
Parando seu trabalho, o Mestre olhou-o e disse:
"Então de que caminho se trata?"
O outro disse, em tom místico:
"Falo, mestre, do Grande Caminho!"
"Ahhh, esse!" sorriu Joshu. "O grande caminho segue por ali até a Capital."
E continuou a sua tarefa.

(A data após o nome está certa, Joshu foi muito longevo e morreu lúcido com 119 anos)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Foco no zazen


P: Existe foco de atenção na meditação zazen? Se existe, qual?

Pode haver sim, principalmente no início. Usa-se mais de uma técnica. Pode-se começar com a técnica de atentar para o numero de respirações, contando-as, mais tarde isto deve ser abandonado em favor de um procedimento natural de respirações profundas. No caso de distrações pode-se usar sistemas como o de interromper a expiração quando a mente se dispersa, por um segundo cada vez que isto ocorre, o chamado método do bambu. Pode-se concentrar a atenção nos sons circundantes, apenas ouvindo-os sem considerações quaisquer. Em todos esses casos há um foco. Porém quando se atinge samadhi, uma concentração profunda, apenas se fica sentado sendo um com tudo, sem julgamentos e sem esforço, por esta razão a prática é sem esforço, mas isto só se atinge com esforço. Então o zazen usa foco de atenção para chegar ao ponto de não usar nenhum foco.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Sofrimento


P: Por que, ao acabar essa luta contra o ego, o sofrimento acaba?

Não é por ter lutado com o ego que o sofrimento desaparece. É por ter ampliado seu ego a ponto de não haver mais separação entre ele e qualquer outro ser do universo. O universo, na sua totalidade, é perfeito, sofrimento só existe onde há ego individual, o engano fundamental.


P: Uma idéia que me sacudiu foi a de que ninguém está supervisionando ou apreciando seu desenvolvimento. Essa verdade cortante doeu dupla e profundamente: produziu em mim uma imensa sensaçao de solidão e provou o quanto que o 'eu' aínda reina em mim, pois eu não teria tido a sensação de solidão se a minha personalidade não almejasse aceitação, apoio e aprovação. O que o senhor me diz disso?

R: Nós estamos sozinhos. Mas, de outro ponto, de vista não há ninguém sozinho no mundo; só nos julgamos sozinhos porque pensamos em termos de 'eu'. Quando nos livrarmos disso, não existirá nenhuma solidão possível, porque nossa consciência é o próprio absoluto inteiro e abrange todos os seres. Onde poderá haver solidão sem o 'eu'?


P: Como transitar pela vida reduzindo o sofrimento?

R: Seguindo o caminho do Buda, compreendendo a impermanência, a interdependência e, enfim, passando além da noção de EU. Nesse momento, há desconexão entre a ação e os desejos e apegos e, então, pode haver libertação do sofrimento, porque não haverá mais ninguem para desejar, nem nenhum eu para se apegar e sofrer com o fim de todas as coisas impermanentes.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O que renasce?


P:Se não existe nada para reencarnar, obviamente tudo se extingue após a morte. Sendo assim para que buscar a iluminação?

R: Nem tudo, o carma persiste, o que se extingue é o ilusório eu, a energia cármica, os impulsos que nos animam não podem se extinguir simplesmente, eles continuam e prosseguem se manifestando, gerando novas manifestações de vida.
Você busca a iluminação para acordar e escapar do sofrimento causado pelo fenômeno vida sem clareza em que você está aprisionado, a iluminação é a felicidade plena, e ela pode ocorrer aqui, agora.
Uma iluminação completa extingue completamente os impulsos de manifestação, por esta razão, por definição, um Buddha não retorna mais.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Luz, Paz e Amor para você


Luz, Paz e Amor para você, era a saudação de Celeste, ela está nesta foto de dez anos atrás, com a postura de sempre, olhando carinhosamente para alguém. Procurei hoje, meio dia depois de seu falecimento, alguma foto sua olhando para a câmera, mas não há nenhuma, ela sempre está olhando para os outros.
Tinha que caminhar com uma bengala e não tinha bens materiais, kardecista convicta uma vez foi assaltada por um rapaz e fez-lhe um longo sermão conseguindo interromper seu crime e arrepender-se de seu caminho. Narrei sua história muitas vezes, pois no meio de tantas pessoas que se expressam com palavrões achando isto uma moda de expressão, ela era uma ilha de termos belos, simples e carinhosos, uma fonte de beleza e afeto.
Perdeu seu filho único, alguns anos atrás, mas mesmo assim continuou achando todas as coisas maravilhosas e vendo beleza em tudo. Quando a encontrava narrava suas longas orações que incluíam a todos. Sua saudação era o exemplo de sua fala correta que nunca se expressava contra ninguém. O que mais dizer? Luz, Paz e Amor para você Celeste!

Uma pequena história de Celeste:
A levamos para conhecer o templo budista tibetano de Três Coroas, lá estava o já também falecido mestre tibetano Chagdud Rimpoche, o grande incentivador da escola Niyngma no Brasil. Nada havia sido marcado com ele, e o mestre não recebia pessoas sem agendar.
Pedimos para ele recebê-la, os auxiliares disseram que ele estava muito ocupado, ia viajar...mas mesmo assim foram falar com o Rimpoche (Jóia preciosa).
Para surpresa de todos ele a recebeu e ela emocionada foi curvar-se e beijar sua mão, mas ele se levantou antes que ela pudesse fazer isso, curvou-se e beijou a mão dela..
Ficaram sorrindo um para o outro num grande silencio e ela saiu .. feliz, com os olhos cheios de lágrimas e disse:
- Conheci um anjo! Obrigada pelo presente que me deram!

Foto de Chagdud Rinpoche

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sesshin de Carnaval



Clique na imagem para ampliar o cartaz.


SESSHIN DE CARNAVAL 2009

Estamos iniciando as inscrições para o Sesshin de Carnaval (retiro Zen) conduzido pelo Monge Genshô. O Sesshin é um retiro de meditação Zen, e dentre as atividades incluirá: o Zazen (a meditação sentada), o kinhin (a meditação andando), o samu (atividades de limpeza), o uso dos Oriokis nas refeições formais, Cerimônia formal (recitação de Sutras) e Teisho (palestras).

(Todas as atividades tem instruções para iniciantes e estes tem atenção especial e facilidades, tais como cadeiras, se tem dificuldades para meditar em almofadas.)

O retiro iniciará no dia 21 de fevereiro (sábado) às 12h e terminará no dia 25 de fevereiro (quarta) às 12h.

O pacote inclui hospedagem e refeições:

R$240,00 para membros colaboradores (que contribuem mensalmente com mais de R$50,00)
R$300,00 para contribuintes (que contribuem mensalmente com qualquer valor abaixo de R$50,00)
R$360,00 para não contribuintes (que não contribuem mensalmente)

Forma de pagamento:

ESTAMOS REALIZANDO PARCELAMENTO ANTECIPADO EM 3 VEZES.

Sendo uma parcela no mês de dezembro, outra em janeiro e a terceira na data do retiro.
Inscrição deverá ser feita através e-mail centrozenfloripa@gmail.com (Juliana Sussetsu). A confirmação da inscrição será realizada somente com o depósito até dia 18 de fevereiro.

Banco para depósito - Favor informar por e-mail o depósito.

DEPÓSITO EM CONTA CORRENTE
BANCO DO BRASIL – Instituto Educacional Todatsu
AG 4550-0
CC 5709-6
CNPJ 04.189.002/0001-21

Local do Retiro: Casa de Retiro Morro das Pedras. Florianópolis - SC

Coordenação Monge Genshô
Comunidade Zen Budista de Florianópolis
Escola Soto Zen
http://www.chalegre.com.br/zendo/

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Zen e ancestralidade em Curitiba



Em dezembro um grupo de praticantes do zen, formado em Curitiba, dedicou-se a um seminário abordando a ancestralidade (dinâmicas a cargo da Psicóloga Renata Reginato) e a prática do zen budismo, meditação, palestras e caminhadas meditativas.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pesca, diversão, remorso


Quando tinha ao redor de 8 anos, um amigo de meu pai levou a mim e meu irmão a pescar em um riacho no campo. Não sabíamos o que era aquilo direito. Com um caniço de bambu, uma rolha como bóia, aguardei o momento em que um lambari mordiscasse a isca. Conforme as instruções puxei firmemente a linha e um fragmento de prata faiscou ao sol da manhã.
Gritei eufórico, minha primeira pesca, era meu aquele peixe, minha vitória arrancada do fundo das águas, meu prêmio de predador.
Na pedra da margem examinei minha presa, o anzol, ao meu puxão, entrara na sua boca e se projetava pela sua face vazando um dos olhos. Uma sensação de horror pela minha maldade me tomou de imediato. Sentimento que me acompanha até hoje mais de cinquenta anos passados. Larguei caniço, anzol, irmão, e voltei para casa sem que me entendessem. Era irremediável meu ato, jamais poderia devolver aquele olho, nem refazer aquela vida que minha interferência destruíra. Assim construímos nosso carma, passo a passo, crueldade por crueldade.
Espero que os que me leem compreendam porque causar tal sofrimento a um ser que nadava feliz no remanso da correnteza, se tornou uma lição sobre a natureza do que os seres humanos chamam de diversão.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Yengo


"Está presente diante da tua face, e neste instante tudo te é oferecido. Para uma pessoa inteligente uma palavra basta para convencê-la da verdade, mas, apesar disso, ainda incorre em erro. O Zen se afasta muito mais de nós quando tentamos explicá-lo com papel e tinta, prendendo-o numa armadilha verbal e lógica. A grande verdade Zen é possuída de todos. Olha o teu próprio ser e não o procures através dos outros. Tua mente está acima de todas as formas, É livre, calma e suficiente. Eternamente se imprime a si mesma nos teus cinco sentidos e quatro elementos. Em sua luz tudo é absorvido. Abandona o dualismo do sujeito e do objeto. Esquece-os. Transcende o intelecto. Afasta-te dele e penetra diretamente no âmago de identidade da mente de Buda. Fora dela não há realidades." Quando Bodhidharma veio do Ocidente, a única coisa que declarou foi: "Apontando diretamente à própria alma, minha doutrina é única, e não é assolada por ensinamentos canônicos. É a transmissão absoluta do verdadeiro sinal". O Zen não tem nada a ver com letras, palavras, ou sutras. Só requer que te encaminhes diretamente ao ponto onde hás que encontrar a morada da paz. Quando a mente é perturbada e a compreensão incitada, coisas são reconhecidas, noções entretidas, espíritos fantasmagóricos conjurados, e os preconceitos crescem sem controle. O Zen será perdido para sempre nessa selva.O sábio Sekiso (Shim-shuang) disse: Refreia todos os teus desejos. Deixa crescer o mofo nos lábios. Transforma-te numa peça de seda imaculada. Deixa que teu único pensamento seja a eternidade. Procura assemelhar-te às cinzas mortas, frias e sem vida, ou sé como um velho incensório num santuário abandonado de uma aldeia!

Põe tua fé nisto e disciplina-te. Deixa que teu corpo e tua mente se tornem objeto da natureza, tal uma pedra ou um pedaço de madeira. Quando um estado de perfeita imobilidade e inconsciência é obtido, cessarão todos os sinais de vida e mesmo os traços de limitação. Nenhuma idéia te perturbará a mente. Até que, súbito, descobrirás uma luz brilhando no seio de urna alegria imensa! É como cercar-se da luz no meio das trevas. Como receber um tesouro na pobreza. Os quatro elementos e os cinco agregados não mais se assemelham a pesados fardos, tão leve e tão livre tu estás. Tua própria existência foi libertada de todas as limitações. Estás aberto, leve e transparente. Ganhaste uma visão iluminadora da verdadeira natureza das coisas, que te aparecem agora conto flores fantásticas sem realidade concreta. Aqui se manifesta o ser sem sofisticações, que é a face real do teu ser. Aqui é mostrada, em toda a sua nudez, a paisagem do teu nascimento. Há somente uma paisagem direta e desobstruída internamente. Isto ocorrerá quando entregares tudo - teu corpo, tua vida, tudo enfim que pertença ao teu ser mais intimo. Ai, sim, alcançarás a paz, a tranqüilidade na ação e deleites inexprimíveis. Todos os sutras e sastras nada mais são do que comunicações deste fato. Os sábios antigos e modernos esgotaram o seu engenho e imaginação para apontar esse caminho. É como o destrancar da porta de um tesouro. Quando chegamos à entrada, cada objeto que a vista alcança é nosso, cada oportunidade que se apresenta está disponível para o nosso uso. A caso não poderão ser obtidas todas as posses dentro do ser originário de cada um de nós? Cada tesouro aguarda apenas que o descubras e utilizes. Isto é o que significa: "Uma vez ganho, eternamente ganho, até o fim dos tempos'. Todavia, nada foi ganho. O que obtiveste não é ganho. No entanto, há algo que foi realmente ganho."

Yengo (Yuan Wu)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Divina Consolação



MEISTER ECKHART - PARTE DO LIVRO DA DIVINA CONSOLAÇÃO

“E digo mais, que todo sofrimento provém do amor àquilo de que a perda me privou. Portanto, se a perda de coisas exteriores me faz sofrer, eis aí um indício seguro de que tenho amor às coisas exteriores e, por conseguinte, de que na verdade eu amo o sofrimento e o desconsolo. Com efeito, que há de estranhável em que eu me depare com o sofrimento se amo e busco o sofrimento e o desconsolo? O meu coração e o meu amor apropriam à criatura o Ser-Bom que é propriedade de Deus. Volto-me para a criatura, fonte natural de desconsolo, e viro as costas a Deus, fonte de toda consolação. E acho estranho que entre a sofrer e a sentir-me triste. Em verdade, nem Deus nem o mundo inteiro seriam capazes de proporcionar verdadeira consolação ao homem que procura consolo nas criaturas. Mas quem na criatura só amasse a Deus e só em Deus amasse a criatura, este encontraria, em toda a parte, consolação verdadeira, merecida e sempre igual.”

Troque a palavra amor por apego, Deus por unidade, consolação por despertar e você terá um texto muito próximo a um escrito buddhista.