terça-feira, 31 de maio de 2011

Inauguração de templo em Ryumon Ji



Saikawa Roshi inaugurou um novo templo em Ryumonji. O abade é Olivier Sensei, meu irmão no Dharma desde que recebeu a transmissão na mesma linhagem. O vídeo foi legendado por Eleonora e Seikan na Comunidade Zen Budista de Florianópolis.

Monge Genshô

O sétimo passo (cont)


Perdido o boi, fica somente o homem, é o sétimo passo. “Agora a iluminação, o kensho, o zen mesmo, estão esquecidos. Qualquer sensação de santidade ou o maravilhoso estado mental que se experimente começará a ser um peso desde o momento que se comece a pensar ou a tomar consciência dele. Aquela experiência do kensho quando surge, ele já não toma consciência dela, torna-se natural, é como se estivesse o tempo todo vivendo em kensho. Os acontecimentos ocorrem quando querem e ele simplesmente deixa-os fluir. Quando as coisas ocorrem, ocorrem. Quando se foram, se foram. No momento em que uma pessoa se acostume a ver as coisas de uma maneira fixa, já começa a decadência. Sem morar em nenhuma parte deixa que trabalhe sua mente. O verso sobre a transmissão do Dharma de Buda Vipasyn o primeiro dos sete Budas passados diz; “Vício e virtude, pecado e bendição, tudo é vão, mora
no nada”.” Nós estamos falando aqui num estagio que a experiência de kensho torna-se
praticamente permanente. Não há consciência da existência de uma mente a ser controlada, nem uma mente que vai ou vem. As coisas ocorrem simplesmente fluindo. O homem age de acordo com a necessidade, sem se deixar mobilizar pelos acontecimentos externos. Ele está flutuando por fora dos acontecimentos. Nesse estagio, segundo os comentários de Sekida, reina o shikantaza, shikantaza quer dizer simplesmente sentar-se. Já não se presta atenção particular a respiração, a postura e as demais coisas, inclusive deitado em sua cama pode entrar em samadhi absoluto.
O homem muda a atividade habitual da consciência trabalhando, falando, mesmo sacudido pelo movimento de um ônibus não perde seu samadhi positivo. Antigamente ele e o samadhi eram separados, eram dois, as vezes tinha samadhi, as vezes não tinha, era uma coisa que ele possuía ou não. Agora samadhi e ele são uma coisa só. Antes alcançava o samadhi com esforço, trabalhava num sistema dual. Fazia o zazen e procurava o samadhi através de ficar no momento presente e abandonar todas as
considerações. Mas agora não é assim. O reino da mente foi submetido ao domínio do
homem, por isso perdido está o boi, resta somente o homem.

Perguntas – Eu não entendi bem essa parte do perdido está o boi.

Monge Gensho – Não tem mais mente, não esta mais sentado na mente, tentando controlar, tentando fazer alguma coisa. A mente está em samadhi, então não há boi a ser controlado. O boi é a metáfora para mente.

Nos antigos textos hindus havia a presença de um elefante e os passos eram em numero de oito. Os nono e décimos passos surgiram com o zen.

Pergunta – No livro Tao Te Ching, a capa tem um boi, uma criança sentada nele e uma outra pessoa na frente do boi. Seria essa a mente de principiante, a questão da criança sobre o boi?

Monge Gensho – Estamos lidando aí com uma metáfora num nível anterior, porque tem
alguém ainda conduzindo e algo sendo conduzido. Quando chegamos aqui, agora, tudo
que significa mente está abandonado, mas ainda se pode ir mais longe. A oportunidade de se fazer isso num sesshin é muito maior que no zendo, ou na sangha, por que nesta o tempo é muito curto, temos somente um zazen de quarenta minutos e tardam a levar à um acumulo suficiente para se ter uma experiência. Enquanto que no sesshin isso é possível. É claro que um sesshin de apenas dois dias também não é suficiente, seria ideal um sesshin de pelo menos quatro dias. Por que é a partir do terceiro dia que a pessoa começa a se livrar mesmo dos problemas do seu dia a dia. Mas isso não significa que experiências ou vislumbres não aconteçam assim no primeiro dia. E isso é muito importante por que a partir do momento que se tenha a experiência não é necessário mais acreditar em nada. Normalmente os alunos que vem a um sesshin são os que permanecem no treinamento do zen. Os que não fazem sesshin, praticam por um tempo, vem para resolver um problema pessoal, se acalmar, aprender uma técnica de meditação, e ficam por aí, mas esse não é o objetivo do zen, embora seja útil ensinar meditação para as pessoas que se agitam, o objetivo do zen mesmo e
atingir a iluminação, é isso que nós estamos procurando, por isso é tão importante dar esse ensinamento que só é possível num sesshin, para que vocês vejam os próximos passos.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

PALESTRA COM O PROFESSOR DO DHARMA SHANTUM SETH



PALESTRA ABERTA COM O PROFESSOR DO DHARMA SHANTUM SETH

Shantum Seth tem contribuído em alguns livros do mestre zen Thay, incluindo "Caminhar com o Buda”, “Eu cheguei, estou em casa" e "Voluntários contra o conflito”. Ele também foi consultor em filmes como "A vida do Buda”, produzido pela BBC e Discovery, "A História da Índia” produzido pela BBC e PBS, e está atualmente está trabalhando em uma produção de Hollywood, intitulada "Buddha".

Shantum é graduado em Estudos de Desenvolvimento, com a sua tese em A Economia de Gandhi. Shantum trabalha no setor de Desenvolvimento Social e há quinze anos faz parte do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e da UNESCO, gestão de programas de promoção de voluntariado, educação para a paz, patrimônio da humanidade e programas de subsistência sustentáveis​​.

Ele vive com sua esposa, duas filhas e os pais em Noida, próximo a Nova Delhi na Índia.

Leia mais aqui: www.buddhapath.com

Confirme sua presença através do email centrozenfloripa@gmail.com ou (48) 9982.1969

Comunidade Zen Budista de Florianópolis
www.daissen.org.br

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cavalgando o Boi ( cont)


No sexto passo, a figura mostra um homem sentado cavalgando o boi de volta pra casa, sobre o boi sem rédeas e tocando uma flauta.” O boi agora é manso, obediente e mesmo sem as rédeas ele segue tranqüilo cavalgando para casa na quietude de um entardecer”.
Vamos descrever o processo de entrada em samadhi; a pele e os músculos estão sempre mudando de tensão e em grande medida por meio dessa mudança se mantém a sensação da existência corporal. Porem na Postura imóvel do zazen não há apenas mudança da tensão muscular e cutânea, vai-se também desenvolvendo a sensação de saída. A pele reage muito sensivelmente ante essa nova experiência, nota-se como uma
sensação de tremor que corre através do corpo, é como uma espécie de vibração musical,delicada e deliciosa que vem acompanhado de um estado mental apaziguado e de uma formosa corrente de emoção que parece brotar do coração. A sensação de saída vem muitas vezes anunciada por uma espécie de tremor vibrante que aparece primeiro nas partes mais sensíveis do corpo como orelhas, pescoço, braços e que finalmente desce ao longo de todo corpo para desaparecer em poucos minutos. A paz e a quietude começam então a ocupar o corpo inteiro. O samadhi desenvolve-se a partir dessa quietude, mas com larga pratica já não aparece aquela deliciosa sensação corporal. A pessoa senta-se simplesmente e cai em samadhi.
Quem tiver dificuldades com os pensamentos, pode sempre retornar para a técnica
do iniciante que é contar a respiração. Com essa ancora é mais fácil de escapar de
pensamentos invasivos freqüentes. Um samadhi brilhante pode surgir rapidamente com a
contagem das respirações. Outra técnica é a respiração em bambu, quando há uma tentativa de pensamento, um impulso que vem trazendo um pensamento, isso tem um nome técnico,chama-se NEN. Quando surge o NEN, o impulso desencadeador do pensamento e você o percebe nascendo, você para de respirar um instante, isso cria uma tensão que corta o pensamento e você pode voltar a respirar.O que corre na realidade dentro do corpo quando se produz um samadhi precedido desses fenômenos? Devem estar ocorrendo certas mudanças químicas, sabemos que o corpo produz constantemente toda classe de compostos químicos. Se acaso o samadhi resulta da produção de certos elementos químicos do corpo, isso não quer dizer que nós podemos através de químicos produzir o samadhi, por isso o uso de drogas é inútil. Mas embora, eventualmente, uma droga possa provocar uma sensação semelhante ao samadhi, é pelo seu efeito alucinógeno que isso ocorre. Ela entra no seu corpo, produz uma sensação, mas
você não é dono da sensação. A sensação é boa e a pessoa quer voltar a senti-la, por isso volta a usar a droga, pois com a droga é muito fácil de consegui-la. Só que o uso de drogas causa múltiplos problemas e não leva à uma realização espiritual, leva simplesmente à uma fantasia química. Mas não se pode objetar que o treinamento do zazen modifica de algum modo o metabolismo de maneira que produza certos químicos que facilitam a chegada do samadhi.
O fato de tais substâncias serem geradas internamente é uma fonte de energia, as drogas ministradas externamente nos debilitam e nos fazem dependentes. Quaisquer que sejam as bases fisiológicas do samadhi nessa fase de Cavalgando o boi de volta para casa, o estudante alcançou a maturidade e goza de liberdade de corpo e mente. A grande mudança é que agora ele não precisa mais fazer tanta força, quando ele senta o samadhi se instala com certa rapidez e a pratica começa a se transportar para a vida. Um fenômeno interessante é que a expressão facial muda, a pessoa é a mesma, porém sua expressão mudou. E isso é identificável, é visível. Também nesse estagio os comportamentos que antes permaneciam inalteráveis, agora tornam-se perceptíveis à outras pessoas. Não é mais o mesmo comportamento. Em meio as turbulências a pessoa permanece impassível, anormalmente calma e tranqüila. Isso ainda não acontece sempre, mas já na maioria das vezes.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O quinto passo - Domando o Boi - (cont)


No quinto passo, Domando o boi, “depois de muitos esforços o boi começou por fim a tornar-se manso. Na figura anterior o homem segura o boi pelo rabo, nessa o homem segura o boi com uma argola presa ao seu nariz. E agora o domador julga que o animal está já dominado e pode ir ensinando-lhe já alguns truques”. Quando por fim agarrou o boi crê que já o tinha retido para sempre, ele pensa - Peguei, dominei e isso agora é para sempre, dominei minha mente – Lembrem-se que passamos já pela experiência do kensho, embora ela não nos tenha alterado em nada, continuamos na vida sendo tão ruins quanto antes, mas dizemos – Já tive uma experiência espiritual! – E aqueles que vivem conosco irão dizer – Mas como, se ainda perdes a paciência?! – Esse pensamento de domínio também é uma espécie de ilusão, na verdade não é assim. As vezes ele consegue entrar em samadhi, em outras tenta e não consegue. Parece que há quietude no corpo e na mente, mas ainda não controla os pensamentos errantes. Você pensa – Não pode ser isso o samadhi – mas não há remédio senão experimentar de novo uma e outra vez. Repetir o samadhi, a concentração
e experimentar outros kensho. A colheita do ano passado, é a colheita do ano passado, não é desse ano. A deste ano tem que ser de novo ganha com luta e trabalho. Dessa forma a luta se renova outra e outras vezes mais. Ou seja, você chegou lá, teve a experiência, pode até mostrá-la para o seu Mestre em determinadas ocasiões, mas você não mudou e precisa continuar trabalhando. Samadhi, concentração, zazen, momento presente, retornando sempre e tendo experiências de kensho de vez em quando como se uma janela se abrisse e de repente você pudesse ver, estava tudo escuro e você não enxergava nada com nitidez, e ao abrir-se a janela tudo fica claro. Kensho. Cada vez mais, com repetições dessa experiência, o kensho torna-se maior que poucos segundos, podendo prolongar-se até por horas. Mas você sempre perde e não sabe quando irá conseguir. E também as vezes sentado, você perde o zazen inteiro em pensamentos, em vazios, simplesmente não consegue agarrar um samadhi constante, não
consegue sentar e permanecer em concentração pura sem cogitações, mergulhado na percepção do momento presente.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Final de retiro zen



Foto do final do sesshin realizado na Reserva Passarin, o próximo será em 22,23,24 de julho no Morro das Pedras, e não terá a limitação de vagas que tivemos neste, devido as instalações que não comportam maior numero.

Reflexão


Sesshin de outono, caminhada meditativa, um lago.

Lago quieto
As sombras das árvores imóveis
Estremecem

Fotos do retiro aqui

terça-feira, 24 de maio de 2011

Todatsu Shinbun 4



Foi publicado o Todatsu Shinbun 4, com notícias, fotos e textos, a edição está disponível aqui

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Agarrando o boi


O quarto passo é Agarrando o boi. Em um antigo desenho vê-se um homem segurando o rabo do boi. “Ao chegar a essa etapa o kensho foi confirmado, mas como podemos ver no desenho o boi tenta tenazmente escapar e o homem deve sujeita-lo com toda sua força, de fato agora já tem experiência bastante para compreender o dito “o céu, a terra e eu somos a mesma raiz, todas as coisas e eu mesmo somos da mesma fonte. Mas na sua vida cotidiana não pode controlar sua mente como gostaria”, ele compreende, tem o kensho, seu mestre reconhece nele – Ah, você experimentou um experiência genuína, você enxergou - porém nos passos anteriores nós vimos o que acontece com o principiante, com aquele que começa a sentar, que começa a praticar e sabe que existe a experiência mística e que pode vislumbrá-la, quando essa experiência realmente se aprofunda, é mais marcante, mais prolongada, nós podemos mostrá-la para o mestre, você vai ate o mestre e mostra sua experiência para ele. Uma vez Saikawa Roshi me disse que os alunos vão para as entrevistas para fazer perguntas e ele queria que eles fossem lhe dar uma resposta – Encontrei isso – e mostrassem para ele, mas as pessoas chegam com perguntas. Então, nessa quarta etapa ele agarrou a mente, agarrou o boi firmemente “o céu a terra e eu somos a mesma raiz, todas as coisas e eu somos da mesma fonte”.
Ele compreende então sua natureza original, que ele não é um eu separado mas é um com todas as coisas. “Mas, na sua vida cotidiana ele não consegue controlar sua mente como desejaria, as vezes arde em cólera , outras vezes se vê possuído pela cobiça, cegado pelos desejos e assim sucessivamente. Os pensamentos indignos e as ações vis seguem aparecendo como antes. Ele se vê esgotado de lutar contra suas paixões e desejos que parecem incontroláveis, é algo que não contava e apesar de haver alcançado o kensho sua alma parece seguir sendo tão ruim como antes. De fato o kensho parece ter sido a causa de novas aflições”, por que agora ele deseja comportar-se de certa maneira e se vê fazendo o contrario, compreende, sabe o que é certo, mas acontece uma circunstancia e ele explode em raiva, por exemplo. E aí ele pensa – Ah, eu não sou o que desejaria, todo esse trabalho, toda essa compreensão e ainda não sou quem eu desejaria, minha boca continua falando quando não deveria, minhas ações continuam as mesmas e meus pensamentos estão continuamente sendo chamados pelas paixões e continuam turbulentos, embora eu saiba com nitidez que eu o céu e a terra somos a mesma coisa e que entre mim e os outros não há diferença alguma.” A sua cabeça está no ar mas seu corpo tem um pé no precipício. Mas ele não pode soltar as rédeas do boi e se esforça em ter sob seu controle sua mente, embora pareça que algo acima
de suas forças.”

O quarto estagio, agarrando o boi, se reproduzirá com uma experiência deste tipo;
Imaginem um zazen, quanto tempo passou, ele não sabe, quando volta a si, se sente como se se encontrasse na mais baixa profundidade do mar, tudo está em silêncio, tudo está escuro, estava dormindo? Não, sua mente está clara e desperta uma força interna que parece ir desabrochando, nota como se estivesse revestido de uma pesada armadura, será que foi a isto que outros patriarcas chamaram “montes de prata e rios de ferro”? Sua mente está tão tranqüila e solene como as encostas nevadas do Himalaia, sem alegrias, sem penas, se é noite ou dia, ele não sabe. Algum dia vocês terão esta experiência. E um dia, quando ela emergir levantando-se do zafu cruzando o umbral, olhando as pedras e as árvores do jardim, ouvindo um som qualquer, levando uma taça aos lábios, ou passando os dedos por um corrimão, de pronto verão que o céu e a terra se vem abaixo com estrépito. Ao chegar ao ultimo extremo na prática do zazen será como o efeito de uma figura reversível. Uma figura reversível é aquele tipo de figura que existem duas formas em uma, dependendo do ângulo que olhamos, quando se vê uma não se vê a outra. Muitas situações na nossa vida se parecem
como uma figura reversível. Quantas vezes encontramos com alguém, perguntamos como ela está e a resposta é, muito mal, está tudo horrível. Alguns dias depois, a mesma pergunta, e tudo mudou. A situação é a mesma, mudou a forma de encararmos o fato. Algumas pessoas conseguem observar isso e mudar o foco, mas para que isso aconteça é preciso ser senhor de sua mente. É como a história do homem pendurado em um precipício, abaixo dele um leão, acima um tigre. Então ele olha para o galho em que está agarrado e vê frutinhas, ele as pega e come, então exclama - que frutas deliciosas!- Esse é um exemplo de uma mente com capacidade de reverter uma situação, de aceita-la. Uma mente preparada, mesmo sabendo da aproximação da morte se mantém calma e impassível, uma mente agitada e confusa entrará em pânico. Acontecem muitas situações no nosso dia a dia que envolvem e necessitam de uma mente calma e preparada para lidar com problemas, tristezas ou desilusões. Diante desse
quadro é muito comum o desespero tomar conta da mente e perdermos a capacidade de
raciocinar. Isso não significa não se emocionar, significa perdi o controle? Entrei em surto? Mesmo com tudo que está acontecendo ainda sou capaz de raciocinar? Isso é muito importante, não perder a capacidade de raciocinar. Pode-se fazer coisas muito insensatas no momento em que não se está senhor de sua mente. Pode-se matar uma pessoa, pode-se dizer coisas que desejaria não ter dito e que não se consegue mais
retirar. E essa figura reversível será, então, revelada a você como uma nova vista, assim, a pressão interna ocasiona um novo desenvolvimento dimensional do mundo. Um critico hostil poderia dizer que isso é uma questão de auto sugestão, mas, de fato, assim que nos desprendemos do modo habitual da consciência, e ela opera num novo modo de cognição independente do tempo e do espaço e da causalidade. Agora você e os objetos externos estão unificados, você sabe que teve a experiência, que não é auto sugestão, alias, essa experiência aparece como experiência repentina e é completamente nítida e clara e diferente para cada pessoa, o fator desencadeador pode ser bem diferente. É multifatorial. Pode ser algo corriqueiro como um raio de sol entrando pela janela e batendo no zendo. Algo normal que de repente surge completamente diverso do normal. Você sente que os objetos externos e
você estão unificados, é certo que os objetos externos estão fora de você, mas você e eles se interpenetram mutuamente, é como dizer que não há resistência espacial entre você e aquela experiência. Quando éramos crianças, nossa vida estava cheia dessa forma decognição, mas quando crescemos a atividade elaborada da consciência foi consolidando um modo habitual de operar, com o uso da linguagem, da compreensão, do gosto e não gosto, da manifestação de preferências, e nos distanciamos da experiência pura. Constrói-se um mundo de diferenciação e discriminação. Mas no momento do kensho, essa forma rotineira cai e você se vê desperto e num novo mundo, isso é o kensho. Ken, significa ver em algo e Sho significa a verdadeira natureza. Então, ver em algo a verdadeira natureza. Você encontra sua verdadeira natureza dentro de si mesmo e ao mesmo tempo no mundo exterior”.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)

domingo, 22 de maio de 2011

Novo Templo em Ryumonji - Alsácia

Veja vídeo aqui

Inauguração de novo templo na Alsácia francesa por Saikawa Roshi, Olivier Sensei, o abade, é discípulo e sucessor de Saikawa Roshi e meu irmão no Dharma.
Genshô

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vislumbrando o Boi (cont)


No terceiro passo "vislumbrando o boi", “por fim se encontrou o boi, mas lhe viu apenas o rabo e as patas, teve uma experiência do tipo de kensho. Mas se lhe perguntam de onde vem e para onde deve ir, não sabe dar uma resposta clara. Desde o principio sempre houve muitos tipos de kensho. O satori de shakyamuni Buda foi a criação de um novo mundo, antes de seu tempo ninguém sequer sabia que existia tal acontecimento, a experiência sem precedentes ocorreu subitamente a Buda atravessando-o como um raio e todos os problemas resolveram-se no mesmo instante. Se Buda não estivesse tão adiantado no treinamento não teria podido explorar de maneira criativa aquela região que nunca havia sido visitada por nenhum ser humano. Antes dessa experiência, Buda havia passado pela sétima e oitava etapas de nossa seqüência e havia alcançado a nona, ele teve então um kensho completo que é a iluminação
real. Desde seu tempo tem havido muitos mestres zen que tem completado o curso de
treinamento antes de ter a experiência de kensho. Muitos precisaram de quinze a vinte anos para que isso ocorra.
Aos estudantes modernos do zen, nós lhes dizemos ao começar, que há um acontecimento chamado kensho,iluminação, uma experiência mística que os está aguardando. Quando cruzam o caminho desse terceiro estagio o tomam naturalmente como se fosse a experiência de Buda, como se tivessem chegado ao cume da pratica do zen, vão subindo por rochas e arbustos desejando essa visão e a primeira olhada gritam - É isto, cheguei! – certos de que o que vêem não é falso.
Mas há uma grande diferença entre sua experiência e a de Buda em conteúdo, beleza e
perfeição.” Isso tem acontecido bastante, pessoas que tem uma primeira experiência um
pequeno vislumbre e se crêem iluminados e saem se auto intitulando mestres iluminados e saem a propagandear “mestre iluminado vai dar um curso no final de semana e você poderá alcançar a iluminação em dois dias”. Hoje, nesse sesshin, nós temos outra situação, nem mestre iluminado, nem ninguém irá alcançar a iluminação, teoricamente poderia acontecer, e também pode acontecer uma situação como esta, um primeiro vislumbre, é que o primeiro vislumbre embora espetacular para quem o experimenta não significa estar iluminado, significa só - Olhei o rabo e as patas, nem vi o boi inteiro. A observação de Sekida é que nesse estagio Vislumbrando o boi, se experimenta em algumas ocasiões certo tipo de samadhi, mas ele é instável e carece de segurança.
Ainda sim o mestre pode tomar a mão do aluno que tenha tido essa experiência e conduzi-lo até a sala de meditação dizendo - É isso, é isso – isso faz parte da estratégia do mestre, o qual se adapta a capacidade e necessidade do estudante. Alguns mestres não são muito estritos e dão credito ao aluno mais facilmente, outros menos, todos tem sua forma individual de ensinar e há razão em seus métodos. Falando em geral quando o estudante é promovido adquiri certa confiança e sua pratica começa a andar nos trilhos. Entretanto há exemplos de estudantes que tem estudado de baixo de mestres estritos durante dez ou quinze anos sem que hajam recebido alguma confirmação de seu adiantamento e que um dia explodem com uma iluminação genuína, isso se chama satori (iluminação), repentina e direta e aquele que vivencia uma experiência exaustiva e profunda tem uma experiência igual a que teve Buda Shakyamuni. O método de adiantamento gradual passo a passo chama-se zen escalonado quando comparado a iluminação súbita e direta, mas tanto se vamos gradualmente como se vamos de um salto tudo depende da própria determinação de alcançar o topo, não duvidem,se requer um esforço desesperado para alcançar uma iluminação genuína.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito.)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sesshin de Inverno 2011 - Templo Busshinji



Sesshin de Inverno 2011
Retiro de Inverno - informações gerais

Para ver o cartaz ampliado clique aqui

O Templo Busshinji de São Paulo realizará no período de 03 a 09 de julho de 2011 o Sesshin de Inverno.

O Templo Busshinji dispõe de 30 vagas para acomodação que serão disponibilizadas de acordo com a ordem de efetivação das inscrições.

Aos interessados solicitamos que encaminhem as informações abaixo por email para o seguinte endereço:

busshinji_sp@hotmail.co.jp

Nome :
Email:
Tel.
Cel.
Restrições Alimentares:
Nome Búdico:
Mestre:
Data da Ordenação:
Templo ou Dojo:
Número de vezes que participou de Sesshin no Templo Busshinji de São Paulo:


Regras Fundamentais:
1 - O Sesshin de Inverno começa no dia 03 de julho e termina no dia 09 de julho de 2011;
2 - O valor é de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais);
3 - Os inscritos devem ingressar até as 10 horas da manhã do dia 03 de julho;
4 - Após o ingresso no Sesshin, a permanência é obrigatória até o dia e hora de encerramento - 09 de julho ao meio-dia;
5 - Em caso de desistência, após a inscrição ou no decorrer do Sesshin, o valor pago não será devolvido;
6 - Não há a possibilidade de participação intercalada durante o Sesshin;
7 - Convidamos a todos os praticantes a participarem do Sesshin. Mas, desestimulamos àqueles que não tenham treinado zazen suficientemente;
8 - É obrigatório manter silêncio durante o Sesshin, inclusive nos momentos de outras atividades;
9 - Não será permitido utilizar o telefone, inclusive os celulares (Em casos de extrema necessidade, o templo fará o recebimento das ligações e o devido encaminhamento);
10 - O alimento oferecido durante o sesshin é fresco e vegetariano, todos devem aceita-lo sem discriminação;
11 - Durante o período do Sesshin, não será permitido deixar o local para cuidar de assuntos pessoais;
12 - Recomendamos o uso de roupas pretas com calças mais largas, dogui ou similar;
13 - O templo não disponibilizará roupas de cama, portanto recomendamos que tragam lençóis e manta (as temperaturas costumam cair bastante à noite). Recomendamos também, para uso pessoal, toalhas, um par de sandálias de borracha, produtos de higiene pessoal e outros de sua necessidade;
14 - Com exceção do dia 03 de julho as atividades terão início às 5h45 e término às 19h30;
15 - O despertar será às 5h30 e o recolhimento às 22h00.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Encontrando as pegadas


O segundo passo é "Encontrando as pegadas". “Praticando o zazen e lendo a literatura se adquiri certa compreensão, ainda que, todavia, não se haja experimentado o kensho, uma experiência mística. Na primeira etapa, quando se começa a busca, pode haver duvidado se poderia alcançar o objetivo olhando nessa direção, mas agora tem confiança que se seguir esse caminho alcançará sua meta.” Encontrar as pegadas é encontar uma prática espiritual que tem algo a ver com a gente, com o qual temos conexão, então surge a confiança que posso seguir naquele caminho e chegar a algum lugar. O comentário de Sekida para esse dois passos é que “começar a buscar o boi é qdo o principiante se inicia em como sentar-se, em como regular a respiração e a atividade mental. Nesse estágio ele é ingênuo, submisso e intensamente impressionável, o som do sino chega absolutamente puro e parece que penetra profundamente em seu coração purificando-o, todas as coisas criam em sua mente
uma forte impressão, até um leve movimento da mão, ou dar um passo, tudo ele faz com
gravidade e isso é muito importante e precioso mesmo que ele não possa se dar conta disso, é superior a um kensho pobre e comum.
Essa devoção do principiante não deveria perder-se nunca, mas desgraçadamente muitos estudantes a perdem mais tarde, substituindo-a por alguns de seus logros meritórios e dessa forma começam a se dar muita importância”. A primeira coisa é quando o praticante aprende algo, daí quer mostrar que sabe, quer mostrar que sabe para os novatos, para o professor, quer sempre mostrar que sabe alguma coisa, não se pode lhe ensinar nada sem que ele acrescente algo pra mostrar que sabe – Áh, isso eu já sei – isso é ter perdido sua inocência, a sua mente de principiante, ele sente-se um veterano. “Por isso uma instrução importante é não mostre que sabe, ao estudante do zen se pede que abandone a religião dos méritos, para entrar na de nenhum mérito”. Isso pode ser percebido na pratica. Um principiante quando realiza uma tarefa ou cerimônia e erra, não se importa muito com isso por que ele sabe que pode errar, ao passo que quem perdeu a inocência envergonha-se por ter errado, ou justifica-se pelo erro , ou fica chateado pelo erro.
Os comentários de sekida para o segundo passo; "quando a pratica do zazen começa a
encaminhar-se, ou seja, o primeiro passo, encontrando as pegadas, ele vê como a mente
começa a aquietar-se e, vê agora com surpresa, que durante todo o tempo seu estado
mental normal era revolto e agitado e não se dava conta disso, começa a perceber que tem estado sofrendo de um vago e inquieto sentimento cuja origem não conseguia precisar.
Porem, agora que pratica zazen se acha livre desse estado em grande medida, vê que o
zazen pode ser um meio de aquietar uma mente preocupada. Quando deu começo a pratica
na simples técnica de contar a respiração, ficou perplexo ao ver que não era nada fácil, mas depois de esforços tenazes vai sendo capaz me manter focada sua mente dispersa e gradualmente começa a por em ordem a atividade de sua consciência, se dá conta que uma nova dimensão mental começa a atuar, mas ainda esta longe de experimentar um kensho genuíno. Quando começamos no zazen, esse segundo estagio pode demorar muito tempo, por que basta que nos sentemos em zazen e nos acostumemos a nos distrair, a pensar, a viajar para trás e para frente e podemos continuar fazendo isso durante anos, sentar em zazen para se acalmar, mas a mente viaja pra frente e pra trás e nós deixamos e não conseguimos ficar no momento presente só ouvindo os sons, só entrando em samadhi, em concentração, por isso que a primeira prática é conseguir um estado de samadhi, sentar e ficar aqui, pegar a mente viajante e a cada instante trazer de volta, isso é muito difícil. Então não basta sentar quieto, é
necessário esse esforço mental, uma luta real pra trazer de volta, trazer de volta, trazer de volta, estar aqui, estar aqui, não se deixar distrair, no sesshin é o melhor momento, pois repetimos um zazen após outro.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito.)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os dez passos em busca do boi


Vamos estudar um texto muito famoso do zen e os comentários feitos por Katsuki Sekida.
O texto é “Os dez passos em busca do boi”. Temos aqui o boi simbolizando o que seria a mente. O primeiro passo é Começando a buscar o boi, na literatura budista se compara o boi com nossa própria natureza verdadeira, buscar o boi é investigar essa natureza verdadeira,o primeiro estágio é o começo dessa investigação. Consideremos um jovem no umbral do caminho, a sua imaginação espera muitas coisas do futuro, umas vezes alegre, outras pensativo, espera que a vida tenha destinado pra ele algo, mas não sabe o que ocorre na realidade, na verdade ele mesmo não sabe bem o que deseja da vida. A imagem é um homem no caminho, ele não enxerga o boi que ele está procurando, poderia abrigar a idéia de trabalhar para os demais negando a si mesmo, se sacrificando - Quero fazer algo grande, quero saber como se constitui o mundo e que papel há de ser o meu, quem sou eu, que posso esperar de mim - pode ser que pense assim, então ele poderá iniciar seus estudos em algo que possa levá-lo a cumprir seus objetivos e sonhos, em qualquer direção que vá tende a encontra-se com uma intrincada rede de trafego, uma espécie de grande labirinto.
Trabalhando numa situação que não havia previsto originalmente, vai andando e de repente o caminho está fixado, mesmo assim surge a sensação de que algo falta. É nesse momento que as pessoas procuram uma religião . O zazen é o treinamento para converter-se em Buda, para voltar a ser um Buda posto que a pessoa não percebe que é um desde o principio, então ele encontra-se no estágio de iniciar a busca do boi. Essa é praticamente a descrição de todos que chegam a uma prática espiritual. Aconteceu algo, parece que a rede da vida não é suficiente ou está incompleta, não nos realizamos completamente.
(continua)

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito.)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O balde de Meng Min



Meng Min do final da dinastia Han esteve em Taiyuan em uma de suas viagens. Uma vez, enquanto carregava um balde, este caiu no chão, mas ele seguiu andando, sem se voltar. Guo Linzong testemunhou isto e lhe perguntou o por que, Meng Min replicou: - "O balde já estava quebrado, de que adiantava eu me voltar?" Linzong o considerava incomum por causa disso e o encorajou a estudar. Esta história revela a pura e instantânea compreensão dos fatos: ele andava, o balde quebrou, ele nem se voltou, continuou andando. Olhem e rememorem suas próprias vidas. Quantas vezes perdemos algo, mas, voltamos para trás, voltamos para a memória daquilo que perdemos, lamentamos, sofremos, reconsideramos, por que fazemos isto? Porque estamos profundamente agarrados as coisas, e o extraordinário neste caso é que ele não se voltou nenhum instante, simplesmente continuou andando. Se fossemos capazes de estarmos tão desapegados que quando algo assim sucede, pudéssemos continuar andando, sem voltar atrás e remoer aquilo que perdemos, aquilo que se quebrou, então estaríamos profundamente livres.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

II Semana de Arte e Cultura Tibetana



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O Daissen Restaurante Vegetariano da Comunidade Zen Budista de Florianópolis é um dos patrocinadores e onde almoçarão os palestrantes durante a semana.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Felicidade


P: Felicidade existe?

R: Sim, existe.

Será possível dizer de uma pessoa que afirma "sou feliz" que ela está enganada?

R: Sim, porque enquanto ela pensa "sou" ela está enganada. Não podemos ser felizes enquanto pensamos que existe alguém separado de tudo e que somos nós mesmos.

P: Na tragédia de Goethe, Fausto experimenta um instante de plenitude e pede que aquele instante, tão belo, perdure eternamente. Por que tudo que é belo é transitório?

R: Tudo é impermanente, tanto o belo quanto o feio. Um instante de plenitude só é possível quando esquecemos de nós mesmos e engolimos o universo, a plenitude.

P: Esse lugar em que sou "peixe entre peixes, pássaro entre pássaros", que está "do lado de fora", e não "do lado de dentro", seria justamente um estado de inconsciência, sem memória, de completa comunhão com o instante?

R: Sim, está bom isto.

P: É por isso, talvez, que o passado nos parece sempre mais feliz. Recordamos o passado como se o tivéssemos vivido em estado de plena e total imersão em cada minuto. Pensamos que naquela época só existia o presente para nós. Evocamos um dia feliz do passado, mas não nos lembramos daquilo de que nos lembrávamos naquele dia. Ou seja, esquecemo-nos da memória que tínhamos, e que nos pesava certamente.


R: Esta memória é um dos constituintes do que pensamos "nós", um homem sem memória, acorda no hospital e pergunta "quem sou eu?"

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Zazenkai de maio



Foto dos que ficaram após o filme "Entre Deuses e Homens". Zazenkai é um dia de meditação e confraternização na Sangha, em Florianópolis temos um dia por mês desta prática tradicional das comunidades zen budistas.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inconsciente e Sincronicidade


"Não há o inconsciente para o budismo?
Os fenômenos mentais são todos diretamente acessíveis. No caso da mente deludida, eles são acessados através dos filtros da delusão, o que produz todo tipo de sofrimento e confusão. No caso da mente lúcida, ela se auto-reconhece e reconhece todos os fenômenos como projeções adventícias.
Portanto, não há.

O conceito junguiano de ´sincronicidade´, coincidências aparentemente muito significativas, se encaixa de alguma maneira no Budismo?
Para alguém que detém sabedoria completa, todos os fenômenos podem ser vislumbrados completamente em um único fenômeno particular qualquer. Isso corresponde aos conceitos hindu da rede de Indra e matemático de supersimetria.
Para quem tem sabedoria parcial, alguns fenômenos podem parecer ter mais relação com outros, e isso pode ser usado também como um meio hábil.
A noção de interdependência diz respeito a como todas as coisas dependem umas das outras, e portanto qualquer coisa contém qualquer outra coisa. Para tornar isso útil no caminho espiritual, no entanto, é necessário desenvolver as qualidades incomensuráveis e as paramitas.

Carl Jung foi um importante estudioso do budismo, do taoísmo e da alquimia chinesa. Para ele a supressão do ego seria prejudicial ao ocidental no processo de individuação, assim trabalhando para um alinhamento entre o Self e Ego. Qual sua opinião?
Conheço um pouco do trabalho de Jung. A idéia de que há alguma diferença essencial entre um ocidental e oriental faz parte do pensamento de sua época—mas não é corroborado pelos professores budistas, ocidentais ou orientais. Essa talvez seja a influência mais nefasta do pensamento junguiano no millieu intelectual que tenta interpretar o budismo e outras tradições orientais. Esse é um ponto que ele reitera vez após vez em todas as suas introduções e escritos sobre o oriente. Se embasa num racismo, as vezes às avessas, e talvez fizesse sentido em meio a um mundo onde a tradição tinha peso—hoje, nem no ocidente nem no oriente a tradição tem peso: vivemos num mundo secular por todos os lados—e ocidentalizado. Mas isso não é um obstáculo para o budismo e suas técnicas, e ele continua servindo para qualquer um que possua emoções perturbadoras e uma natureza búdica, isto é, qualquer um.
Por outro lado, não há supressão do ego no budismo: ele é reconhecido como realmente é, isto é, um engano. Suprimir o ego é acreditar nele.
A noção de self e assemelhadas são consideradas um equívoco de segunda ordem para o budismo—embora no hinduísmo talvez haja noções de "eu superior" que se equiparem a noção junguiana."

Igarashi Roshi

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Homens e deuses


No Dharma com pipoca deste mês de maio teremos a exibição do filme francês "Homens e Deuses", vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2010, que ocorrerá no próximo sábado dia 07/05 às 15:30 durante o 'Zazenkai de Maio'. Para aqueles que não puderem participar do zazenkai, poderão vir para exibição do filme. Contribuição sugerida de R$:5,00.


Sinopse
Inspirado em fatos reais, ocorridos na Argélia em 1996, "Homens e Deuses", do diretor francês Xavier Beauvois, retrata a vida monástica de um grupo de oito monges trapistas franceses que vivem em um mosteiro localizado no alto de uma montanha ao norte da Argélia. Liderados por Christian (Lambert Wilson), eles vivem em perfeita harmonia com a comunidade muçulmana local. O exército oferece proteção contra as ameaças que surgem, mas os monges a recusam. Preferem levar sua vida de forma simples, dando continuidade à sua missão independente do que vier a acontecer com eles. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2010, "Homens e Deuses" detalha a vida despojada destes religiosos que, dedicam seu tempo a orações, cânticos e trabalho agrícola, numa atmosfera de silêncio e contemplação.
A atitude ascética não os impede de atender a necessidades mais urgentes da empobrecida população local, que faz diariamente enormes filas para procurar o irmão Luc (Michael Lonsdale), único médico e fornecedor de remédios num raio de centenas de quilômetros na cordilheira do Atlas.
Com inteligência sutil, o filme permite que se reflita sobre essa benevolência do Ocidente diante das populações do antes chamado Terceiro Mundo - que a França, entre outros países, colonizou, instituindo um modelo de dependência e pobreza em diversas dessas ex-colônias, inclusive a Argélia. Quem verbaliza este sentimento, não por acaso, é o prefeito local, que não esconde a rejeição aos franceses, monges ou não.
Num filme que fala sobre a leitura que tanto católicos quanto muçulmanos fazem de seus escritos sagrados, e a responsabilidade que essa leitura acarreta, Homens e Deuses parafraseia o salmo que, nos créditos iniciais, havia servido de epígrafe: "Vós sois deuses / Todavia morrereis como homens".

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Ego à flor da pele


Tão sensíveis somos, tão a flor da pele está nosso ego, que é fácil com uma única palavra ferir, perturbar, causar desconforto, causar atrito e quebra de harmonia.

Tanta insistência temos no seshin para não falar, porque quando fazemos uma observação a alguém ou quando respondemos a alguém, automaticamente ai se criou uma tensão. E essa tensão redunda na quebra de harmonia. Quando quebramos a harmonia, sentimos nosso ego ferido ou inflado, nosso orgulho tocado, e instantâneamente nos perdemos e voltamos mais profundamente para o vício do eu. E quando presos neste redemoinho, com nosso eu exacerbado, não podemos mais ver a unidade de todo o universo, não podemos mais ser um com as ondas do mar lá fora, não podemos ser ondas no zazen, não podemos ser chuva caindo no jardim, não podemos ser a unidade da sangha comendo juntos, meditando juntos, sofrendo juntos, porque de repente nos tornamos eus separados.

Esta vida, aqui, esta sala, é uma sala de sonhos, nós somos seres de sonhos, estou falando para seres de sonhos, palavras de sonhos, estamos perdidos nos nossos eus exatamente neste momento, só um profundo despertar nos levaria a escapar disso e sentir a unidade de todas as coisas, e aqueles que sentem a unidade, não podem ser feridos, não podem ser perturbados, não há lugar onde o orgulho possa se agarrar, onde a vaidade possa se localizar porque não há nenhum suporte pra ela, nosso eu é o gancho no qual se pendura o orgulho, a vaidade e a sensibilidade. É sobre isso que Bodhidharma estava falando quando disse “vazio” e quando disse não há nada de sagrado, nesse mesmo momento ele integrou todas as coisas, porque ao mesmo tempo este chão é profano, ao mesmo tempo este chão é sagrado. Não há nada de sagrado no mundo, não há nada que não seja sagrado, nem o menor grão de arroz, nem a menor porção de molho perdida dentro da tigela na nossa refeição de oryokis (refeição nas tigelas dos monges), por isso a lavamos com água quente e bebemos a água, porque tudo é sagrado.

Trecho de palestra no Hossenshiki de 2008. Monge Genshô

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Vazio e conceito budista


Origamis na festa do Hanamatsuri, Florianópolis 2011.


P: Sempre encarei o vazio budista como uma “condição” (na falta de uma palavra melhor) onde não havia eu individual, apenas uma “coisa/eu” (na falta de palavra melhor) universal abarcando tudo (até o próprio universo). Eu não consigo explicar direito, mas, é como se fosse um quadro branco onde qualquer coisa pode ser desenhada. Não há desenho algum, e qualquer desenho não possui existência própria, podendo ser apagado e dar lugar a um novo desenho. Mas o quadro está lá. Então existe sim alguma coisa. Um quadro branco de infinitas possibilidades aleatórias. E essa tela branca seria um tipo de “eu infinito” onde vários pequenos “eu/desenhos” podem aparecer e desaparecer. E esses pequenos desenhos podem pensar “eu existo, eu estou aqui” mas na verdade ele não é nada além de um risco no quadro branco, que por sua vez é tudo. O desenho não é desenho... é quadro branco... mesmo sem ele se dar conta.

Eu pensava que iluminar-se seria “perceber” que “você” não é um ou vários desenhos nessa tela branca onde se manifesta o universo, mas a própria tela branca. Um tipo de “consciência” (não consigo achar outra palavra) una e infinita. Perceber que você é cada um e todos os desenhos ao mesmo tempo, e algo além deles. E um buddha seria a própria tela branca consciente disso.

Mas, li há alguns dias um livro do atual Dalai Lama. Nele o Dalai disse que o vazio era simplesmente a ausência de existência inerente. Confesso que essa idéia foi perturbadora, porque restringiu minha idéia de vazio ao simples estado de falta de existência. Como se o vazio se transformasse apenas em uma característica das imagens manifestas.

O Sr. poderia me ajudar a compreender melhor essa questão?

R: Como disse o Dalai Lama e esta é a perspectiva também do zen, o vazio não pode ser reificado, transformado em algo, ele é apenas uma qualidade dos fenômenos , de serem desprovidos de um eu inerente. Embora sua visão fosse próxima, e a analogia interessante, ela reificava o vazio.
A idéia melhor está expressa no Sutra do Coração da Sabedoria: o vazio é forma, a forma é vazio, ou seja o vazio se manifesta como formas, retiradas as formas vpcê retira o vazio, na sua analogia seria como se não houvesse quadro, e os riscos manifestassem, fizessem surgir, o próprio quadro.

Genshô

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Além do pensar e não pensar


A costura budista de mantos é uma forma de concentrar-se no momento presente.

P: Estou tentando me livrar do turbilhão de pensamentos que me acompanham diariamente e viver o momento presente. Porém, quando tento me livrar dos pensamentos, tenho sentido uma sensação de vazio e as vezes de medo, parece que as coisas ficam sem sentido e fica faltando algo.
Gostaria de saber se o processo é assim mesmo ?

R: Tentar se livrar dos pensamentos é um erro, apenas os deixe passar, não lute com eles nem procure ficar vazia de pensamentos, volte para o presente prestando profunda atenção ao que está fazendo, mas deixe sua mente livre, ela vagueará com os pensamentos que surgem, deixe que eles venham e deixe que se vão, a medida que você não os segue com associações eles enfraquecem e se tornam menos mobilizadores o que lhe dará mais serenidade. Estar presente prestando grande atenção é uma forma de pensar além do pensar e não pensar, que produz com o tempo uma sensação de contentamento e maravilhamento com todas as coisas, portanto não é um esvaziar-se mas um preencher-se de presença absoluta, de percepção aos detalhes, de sensação atenta.

Gasshô
Genshô