terça-feira, 31 de maio de 2011

O sétimo passo (cont)


Perdido o boi, fica somente o homem, é o sétimo passo. “Agora a iluminação, o kensho, o zen mesmo, estão esquecidos. Qualquer sensação de santidade ou o maravilhoso estado mental que se experimente começará a ser um peso desde o momento que se comece a pensar ou a tomar consciência dele. Aquela experiência do kensho quando surge, ele já não toma consciência dela, torna-se natural, é como se estivesse o tempo todo vivendo em kensho. Os acontecimentos ocorrem quando querem e ele simplesmente deixa-os fluir. Quando as coisas ocorrem, ocorrem. Quando se foram, se foram. No momento em que uma pessoa se acostume a ver as coisas de uma maneira fixa, já começa a decadência. Sem morar em nenhuma parte deixa que trabalhe sua mente. O verso sobre a transmissão do Dharma de Buda Vipasyn o primeiro dos sete Budas passados diz; “Vício e virtude, pecado e bendição, tudo é vão, mora
no nada”.” Nós estamos falando aqui num estagio que a experiência de kensho torna-se
praticamente permanente. Não há consciência da existência de uma mente a ser controlada, nem uma mente que vai ou vem. As coisas ocorrem simplesmente fluindo. O homem age de acordo com a necessidade, sem se deixar mobilizar pelos acontecimentos externos. Ele está flutuando por fora dos acontecimentos. Nesse estagio, segundo os comentários de Sekida, reina o shikantaza, shikantaza quer dizer simplesmente sentar-se. Já não se presta atenção particular a respiração, a postura e as demais coisas, inclusive deitado em sua cama pode entrar em samadhi absoluto.
O homem muda a atividade habitual da consciência trabalhando, falando, mesmo sacudido pelo movimento de um ônibus não perde seu samadhi positivo. Antigamente ele e o samadhi eram separados, eram dois, as vezes tinha samadhi, as vezes não tinha, era uma coisa que ele possuía ou não. Agora samadhi e ele são uma coisa só. Antes alcançava o samadhi com esforço, trabalhava num sistema dual. Fazia o zazen e procurava o samadhi através de ficar no momento presente e abandonar todas as
considerações. Mas agora não é assim. O reino da mente foi submetido ao domínio do
homem, por isso perdido está o boi, resta somente o homem.

Perguntas – Eu não entendi bem essa parte do perdido está o boi.

Monge Gensho – Não tem mais mente, não esta mais sentado na mente, tentando controlar, tentando fazer alguma coisa. A mente está em samadhi, então não há boi a ser controlado. O boi é a metáfora para mente.

Nos antigos textos hindus havia a presença de um elefante e os passos eram em numero de oito. Os nono e décimos passos surgiram com o zen.

Pergunta – No livro Tao Te Ching, a capa tem um boi, uma criança sentada nele e uma outra pessoa na frente do boi. Seria essa a mente de principiante, a questão da criança sobre o boi?

Monge Gensho – Estamos lidando aí com uma metáfora num nível anterior, porque tem
alguém ainda conduzindo e algo sendo conduzido. Quando chegamos aqui, agora, tudo
que significa mente está abandonado, mas ainda se pode ir mais longe. A oportunidade de se fazer isso num sesshin é muito maior que no zendo, ou na sangha, por que nesta o tempo é muito curto, temos somente um zazen de quarenta minutos e tardam a levar à um acumulo suficiente para se ter uma experiência. Enquanto que no sesshin isso é possível. É claro que um sesshin de apenas dois dias também não é suficiente, seria ideal um sesshin de pelo menos quatro dias. Por que é a partir do terceiro dia que a pessoa começa a se livrar mesmo dos problemas do seu dia a dia. Mas isso não significa que experiências ou vislumbres não aconteçam assim no primeiro dia. E isso é muito importante por que a partir do momento que se tenha a experiência não é necessário mais acreditar em nada. Normalmente os alunos que vem a um sesshin são os que permanecem no treinamento do zen. Os que não fazem sesshin, praticam por um tempo, vem para resolver um problema pessoal, se acalmar, aprender uma técnica de meditação, e ficam por aí, mas esse não é o objetivo do zen, embora seja útil ensinar meditação para as pessoas que se agitam, o objetivo do zen mesmo e
atingir a iluminação, é isso que nós estamos procurando, por isso é tão importante dar esse ensinamento que só é possível num sesshin, para que vocês vejam os próximos passos.

(Monge Genshô, texto decupado da gravação de palestra por Ápio San, ainda carente de revisão para transformação em texto escrito. Citações do livro "Zazen Training" de Sekida)