segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Saikawa Roshi em Porto Alegre


Saikawa Roshi esteve em visita, em fevereiro, às Sanghas de Porto Alegre, todos se reuniram juntos para ouvir sua palestra de Mestre. Sendo o Superior Geral para a América do Sul ele é atualmente um dos mais importantes Mestres Zen em atividade no mundo, não é de admirar que tantos praticantes se reunam para vê-lo e ouvi-lo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Vazio



P: O vazio é uma entidade autônoma?

R: O Vazio não é uma entidade, é uma qualidade intrinseca de tudo, ou seja , tudo é vazio de um EU inerente, todas as coisas são interdependentes e interconectadas.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desenvolva sua intuição - Sesshin



ABRA SUA INTUIÇÃO

“O objetivo do sesshin é desenvolver a prática estável. No sesshin, não há comunicação com palavras, mas o fato de estar com outras pessoas é um grande estímulo. A comunicação verbal tende a ser superficial, mas quando não há fala, uma comunicação mais profunda será estimulada entre todos, e sua mente se tornará muito sutil. Ficar em silêncio abrirá sua intuição.
...
Portanto, para abrir sua natureza inata e sentir algo do fundo do coração, é preciso permanecer em silêncio. Por esse tipo de prática, você terá uma compreensão mais intuitiva do ensinamento. Não conversar não significa ficar surdo e mudo, mas ouvir sua intuição.
...
Apenas sente-se e veja o que acontece. Tente manter a postura correta, de acordo com as instruções, seguindo as regras. Seguir as regras permite que vocês se encontrem. As regras permitem que vocês saibam que horas são, quando comer e como caminhar. Se não houver regras e ninguém cuidando de vocês é bastante difícil praticar. Assim as regras serão de muita valia. É muito melhor do que não ter nenhuma regra e sentar-se num canto durante cinco dias sem fazer nada. As regras não são algo para limitá-los, mas algo para dar amparo à sua prática.”

SUZUKI, SHUNRYU. Nem sempre é assim: praticando o verdadeiro espírito do zen. São Paulo : Religare, 2003. Págs. 103-104.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fazendo o Voto Altruísta


Fazendo o Voto Altruísta

Despertar a mente da iluminação significa fazer o voto de não atravessar para a outra margem [da iluminação] antes que todos os seres já tenham feito o mesmo. Tanto o leigo quanto o monge, vivendo no mundo dos deuses ou dos humanos, sujeitos à dor e ao prazer, todos devem fazer este voto rapidamente. Apesar da aparência humilde, uma pessoa que tenha despertado a mente da iluminação já é um mestre para toda a humanidade.

Até mesmo uma pequena menina de sete anos pode se tornar mestra das quatro classes de buddhistas e se tornar a mãe compassiva de todos os seres, pois homens e mulheres são completamente iguais. Este é um dos princípios mais elevados do caminho do Buddha.

Após ter despertado a mente da iluminação, até mesmo vagar pelos seis reinos da existência e pelas quatro formas de vida se torna uma oportunidade para praticar o voto altruísta. Portanto, mesmo que até agora você tenha passado o tempo em vão, deve fazer rapidamente este voto, enquanto é tempo. Apesar de você ter conseguido mérito suficiente para realizar a natureza de Buddha, você deve colocá-lo à disposição de todos os seres para que eles realizem o caminho.

Desde um tempo imemorável, existem aqueles que sacrificaram sua própria iluminação para que todos os todos seres se beneficiassem, ajudando-os a cruzar primeiro para a outra margem.

Há quatro tipos de sabedoria que beneficiam os outros: oferendas, palavras amáveis, bondade e equanimidade, todas elas sendo as práticas de um bodhisattva.

Dar oferendas significa não cobiçar. Apesar de ser verdade que, em essência, nada pertence ao ser, isso não nos impede de dar oferendas. O tamanho da oferenda não importa, mas sim a sinceridade com a qual ela é dada. Então, deve-se estar pronto para compartilhar até mesmo uma frase ou verso do Dharma, pois isto se torna a semente do bem, tanto nesta vida quanto na próxima. Também é o caso dar de seus tesouros materiais, mesmo que seja uma única moeda ou uma folha de grama, pois o Dharma é o tesouro e ou tesouro é o Dharma.

Existem aqueles que, sem procurar recompensa, ajudam bondosamente aos outros. Fornecer uma balsa ou uma ponte são atos de generosidade, assim como ganhar seu viver e produzir bens.

O significado das palavras amáveis é o de que, ao observar todos os seres, fica-se cheio de compaixão por eles, dirigindo-se a eles afetivamente — isto é, vê-los como se fossem seus próprios filhos. O virtuoso dever ser elogiado e o não-virtuoso dever ser apiedado. Palavras amáveis são a fonte para superar o ódio de seus amargos inimigos e para estabelecer amizade com os outros. Ouvir diretamente as palavras amorosas ilumina a face e aquece o coração. Porém, uma impressão ainda mais profunda é feita ao ouvir palavras amáveis ditas na sua ausência. Você deve saber que as palavras amáveis têm um impacto revolucionário nos outros.

Bondade significa encontrar meios para ajudar os outros, não importa qual seja a sua posição social. Aqueles que ajudaram uma tartaruga indefesa ou um pássaro ferido não esperavam qualquer recompensa por sua assistência, mas simplesmente agiram por seus sentimentos de bondade. Os ignorantes acham que seus próprios interesses vão sofrer se colocarem o benefício dos outros em primeiro lugar, mas eles estão errados. A bondade abarca tudo, beneficiando igualmente a si e aos outros.

Equanimidade significa não-diferenciação, não fazer distinções entre si e os outros. Por exemplo, é como o Tathagata [Buddha Shakyamuni] humano que viveu a mesma vida que nós humanos. Os outros podem ser identificados com um eu, e o eu com os outros. Com o passar do tempo, tanto o eu quanto os outros se tornarão um. A equanimidade é como um mar, que não rejeita água alguma, sem se importar com qualquer que seja a sua origem; portanto, todas as águas se juntam para formar o mar.

Pense quietamente no fato de que os ensinamentos anteriores serem as práticas de um bodhisattva. Não a trate levemente.

Honre e respeite seu mérito, que é capaz de liberar todos os seres, permitindo que cruzem para a outra margem.

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Trechos extraídos do Shôbôgenzô de Dôgen Zenji (1200-1253).
Adaptado da tradução da rev. Coen Murayana (Comunidade Budista Soto Zenshu)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Acolhida


Estátua de Buda em templo Vietnamita, CA, EUA. Note-se figura de Buda menino ao colo da estátua grande, influências chinesas são visíveis na decoração interna.

Acolhida

Se eu tiver passado pela vida tendo enxergado o suceder das estações – o cair das folhas no outono, as baixas nuvens no inverno, os vendedores de rosas no trânsito, anunciando a primavera, e a intensidade do verão banhando de suor os trabalhadores urbanos...

Se eu tiver sorrido para os estranhos em tom de acolhida e amado sinceramente meus amigos...

Se eu tiver valorizado mais as pessoas do que as coisas e puder contabilizar um saldo positivo de palavras gentis e gestos carinhosos e economizado na impaciência e rispidez...

Se tiver percebido o sol poente colorindo as nuvens poluídas de um rosa improvável, em meio ao cinza triste dos prédios...

Se eu tiver ouvido os pássaros ao longe, em meio ao caos urbano e sorrido intimamente com a alegria dos homens nos bares de esquina, ao assistirem o gol do seu time em mesas regadas à chope, no fim das tardes...

Se eu tiver perdoado, mais do que acusado, e se tiver feito mais bons julgamentos do que maus juízos...

Se tiver sabido entregar inteiramente meu coração a alguém, sem dúvidas nem perguntas...

Se tiver praticado o bom sexo, encontro pleno entre duas pessoas...

Se tiver sabido o que é família e me dedicado a ela, cultivando os afetos com devoção e não obrigação, com amor e sem cobranças...

Se tiver respeitado a memória dos que já se foram e aprendido a ouvir os que já viveram o suficiente para saberem-se pequenos, imperfeitos, finitos...

Se eu tiver feito mais perguntas do que afirmações e assumido, com honestidade, franqueza e coragem, minhas dúvidas e inseguranças...

Não terá sido suficiente?

O que estamos esperando, afinal, das nossas realizações? O que mais devemos exigir? Quanto mais é justo que nos cobremos? De que mais sucessos quereríamos nos orgulhar?

Já não bastaria?

Vivemos um mundo exigente demais, cuja tônica mais forte é a cobrança e a culpa permanente de não estarmos correspondendo, de nunca sermos eficientes, capazes, disponíveis o suficiente...

Por que nos permitimos ser reféns de nossas próprias cobranças? A quem queremos satisfazer? O que queremos provar?

O quê, de fato, buscamos? Sucesso ou felicidade?

Nessas palavras, busco um pouco mais de acolhida, de condescendência, de compaixão conosco: um auto-olhar terno, de quem, conhecendo seus limites, sabe-se um sobrevivente. De quem assumiu os riscos e arriscou. De quem perdeu às vezes, ganhou às vezes, e olha com candura para o próprio saldo, sabendo-o positivo. Sabendo-o, sobretudo, valioso.

Precisamos encontrar em nós mesmos o colo da avó perdida: a acolhida amorosa, que nada cobra, que orgulha-se de nós em nossos menores feitos, que nos acha vitorioso mesmo quando pensamos ter fracassado. E quem dera, um dia, podermos ser essa avó, que de fato surpreende-se com a perfeição do mundo, com o milagre de ver aqueles seres incríveis em que se tornaram seus netos – que transitam com tanta desenvoltura em um mundo tão transformado, tão mais rápido, tão mais exigente.

Que não nos deixemos atropelar.

(Texto escrito por Valéria Chalegre após falecimento de uma avó querida)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Correspondência entre monges - Karen Armstrong


> A publicação simultânea de Em Defesa de Deus,da teóloga Karen
> Armstrong, e do autobiográfico Hitch-22, do rebelde Christopher Hitchens,
> traz à tona novos argumentos para o debate religioso.
>
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110219/not_imp681716,0.php>

> - Gasshô
>
> Rev. Wagner (Sh. Haku-Shin)


Caríssimos Irmáos no Dharma,

A postagem dessa excelente matéria me estimula a fazer algumas considerações:

Conheço muito bem a obra da Profa. Karen Armstrong e a considero muito mais uma Historiadora das Religiões do que uma teóloga. Digo mais: uma excelente historiadora das religiões, uma digna continuadora e sucessora de Mircea Eliade, talvez o maior historiador das religiões do século XX. Ela foi freira católica, perdeu a fé, deixou o convento e, através do seu trabalho de pesquisadora e divulgadora da História das Religiões, ela recuperou a fé, mas não mais aquela fé convencional presa a uma determinada confissão religiosa. Trata-se de uma fé dirigida a uma religiosidade que transcende religiões constituídas e dogmatismos, uma Fé no Sagrado além de suas formas e manifestações convencionais, diria eu. Quem ler sua autobiografia espiritual "A Escada Espiral" perceberá mesmo que sua fé tem uma dimensão esotérica ou iniciática: a "Escada Espiral" é um velho tema iniciático. Esse livro nos permite entender a própria vida da autora como um percurso iniciático marcado pela experiência cde "morte-e-renascimento", ou, como prefere dizer a Autora, pela ascenção da Escada Espiral.
Dentre as várias obras de Karen Armstrong, recomendo a meus irmãos budistas sua biografia do Buda Histórico Shakya Muni: "Buda", Coleção "Breves Biografias", Rio, Editora Objetiva, 2001. É um livro bastante objetivo com uma bibliografia muito bem atualizada.
"Last, but not the least", confesso que gosto muito de ler autores ateus inteligentes como Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris e Michel Onfray. Recomendo particularmente o livro mais recente de Sam Harris, "A Morte da Fé", em que ele se mostra bastante próximo do budismo, a respeito do qual desenvolve uma argumentação extremamente interessante. Os ateus funcionam como uma espécie de espelho em que nós religiosos podemos ver refletidas nossas mazelas.

Gasshô,

Shaku Riman
(Shaku Riman é o nome monástico do Rev. Prof. Dr. Ricardo Mário Gonçalves)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A vida se mostra a cada passo


Cabana para residentes, mosteiro de YokoJi, CA, EUA.

P: Me sinto cheia de temor, pavor, tenho medo de recomeçar de tentar novos caminhos ou mesmo velhos. Voltar atrás também me amedronta.

R: Entendo perfeitamente o que você narra. Isto é uma prisão no passado, cada momento é completamente novo, e se soubermos descartar o passado como um mero sonho podemos continuamente recomeçar, porque viver é somente isso, transcorrer por um tempo que não cessa. Porem o tempo é um ponto no qual tudo está contido, nele o passado só existe porque o acalentamos como memória, e o futuro é mera estimativa, assim a consistência de tudo é a de um sonho que ocorre em nossa mente. Por esta razão a vida é feliz para quem abandona passado e futuro, e simplesmente anda sentindo o caminho embaixo de seus pés. O título do blog é O Pico da Montanha, porque este momento é o pico e o auge da vida, nenhum evento para recordar e nenhum para ambicionar, a vida é só andar, e se você a perceber como o Pico da Montanha, seus pés estarão sempre no topo do mundo e tudo já está plenamente realizado, pode-se morrer agora mesmo sabendo que nossa vida está plena. Pratique zazen e se aprofunde até que tudo se torne claro, a felicidade se instalará independente de qualquer coisa que haja sucedido.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Como se estivessem brincando


"Somente aqueles que não possuem um único sistema de Dharma podem formular todos os sistemas de Dharma, e aqueles que podem entender o significado (deste paradoxo), podem se valer de tais sistemas. É indiferente para os que perceberam a Essência da Mente formularem todos os sistemas de Dharma ou dispensarem todos eles. Eles estão em liberdade para ‘vir’ ou para ‘ir’. Eles estão livres de obstáculos ou impedimentos. Eles executam ações apropriadas de acordo com as circunstâncias. Eles dão respostas satisfatórias de acordo com o temperamento do buscador. Eles percebem contemplativamente que todos os Nirmanakayas são unos com a Essência da Mente. Eles atingem a liberação, os poderes psíquicos (Siddhis) e o Samadhi, que os permitem executar a árdua tarefa da salvação universal tão facilmente como se estivessem apenas brincando. Eis como são os homens que perceberam a Essência da Mente!”
Hui Neng - Sutra da Plataforma

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sono, Shikantaza, Hishiryo


Estátua na Índia, Buddha em austeridade, blog Folhas do Caminho.

P: Eu gostaria de saber se existe algum problema de se praticar zazen antes de dormir e se isso atrapalha o sono.

R: Nenhum problema, e ajuda o sono. Existe mesmo uma prática de dormir mantendo a mente do zazen, chama-se kaitin. Deita-se na posição do leão, a mesma das estátuas de Buda morrendo, sobre o lado direito.

P: Tambem gostaria de saber se existe diferença entre shikantaza e hishiryo .

R: Shikantaza significa apenas sentar, sem objetivo.

Texto de T. Deshimaru sobre hishiryo:
Que é Hishiryo? É pensar sem pensar, não pensar, mas pensar. É o além do pensamento, o pensamento absoluto. Não pensamos, mas o inconsciente se eleva, e pensamos inconscientemente, a partir do tálamo, do cérebro central. O verdadeiro pensamento aparece, o pensamento sem pensamento, para lá de todo pensamento.

Querer cortar os desejos, as ilusões é impossível, a nossa vontade, por si só, é impotente. Por intermédio do zazen, todavia, os desejos, pouco a pouco, deixam de perturbar-nos, diminuem por si mesmos, inconscientemente, naturalmente. Não se deve tentar nem cortá-los, nem segui-los. Nem cortar, nem seguir: isso é Hishiryo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Instituição no zen


Vista de terreno doado para construção de um monastério em Florianópolis.

Sempre tivemos uma natural divisão entre os que se ligam a instituição e os que seguem caminhos independentes, históricamente, no entanto, são as instituições que trouxeram o budismo até os dias de hoje, preservando os textos, transmitindo, impedindo os mais variados exageros, mas com o peso natural de suas burocracias e autoridades.
Os centros do Dharma em si, também são instituições. E vemos os benefícios de suas paredes, biblioteca e evidentemente sua organização.
Pessoalmente não vejo um bom caminho senão na vinculação com uma instituição séria, e no procurar os que foram bem formados dentro dela, minha experiência com grupos mais independentes e caóticos não foi boa, são justamente neles que se estabelecem as mais acirradas lutas por poder e a falta de diretrizes básicas acaba criando situações tristes e quebra dos preceitos.
Uma leitura caótica dos textos pode induzir a uma crença libertária sobre o budismo, no entanto os grandes mestres fundaram mosteiros, preservaram a ordem e a hierarquia e ainda escreveram muito.
Infelizmente lemos textos não originais e praticamente ninguém leu o Vinaya Pitaka.
Acho o debate interessante mas já resolvido pelo zen budismo, cuja tradição narra que no seu primeiro Concílio, foi Mahakasyapa escolhido como Primeiro Patriarca, e o zen preserva a linhagem e a recita justamente para que a legitimação e a instituição seja preservada. Buda também esmerou-se na criação do Vinaya, expulsando da ordem os que não aceitavam as regras, isto era chamado de Prajika, ou seja " derrota", quando não conseguimos seguir a ordem e as regras isto significa que fomos derrotados no caminho. É uma história de 2 600 anos, não imagino que discutiremos uma caminho consolidado a tanto tempo, mas, é claro, visões diferentes são naturais, muitas vezes já ocorreram, apenas não sobreviveram a prova do tempo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Infernos existem ou não?


P: "Por acções manifestamente contrárias à Lei - entenda-se Lei do Karma,
que é como a vejo referida pelos mais altos e respeitáveis representantes do
Budismo - os seres segundo alguns SUTRAS sofrerão horríveis tormentos
em sucessivos infernos, por intermináveis kalpas e éons. "

Agora não sei que palavras usar para fazer a pergunta de forma a que
não seja mal interpretada. Porque é que os sutras descrevem isto?

R: Porque os seres, gerados pelo carma, sofrem sucessivos tormentos causados pelas ações pregressas, dos seres que geraram o carma que ocasionou o impulso que os gerou.

P: É porque aqueles seres desconhecem o não eu?

R: Porque desconhecem a ilusão do eu os seres geram carma que produz outros seres, se há iluminação completa este ciclo se extingue.

P: Tudo aquilo é irreal?

R: É irreal por que sua substância é a ilusão, mas o sofrimento é real, mesmo que seu pesadelo seja irreal vc sofre e geme.

P: Quando o Senhor Buddha se referia aos seres que iam para os infernos,
era só por pura poesia?

R: Não, porque nossa ilusão cria os infernos, uma pessoa mergulhada em raiva já está no reino dos infernos. Um iluminado, mesmo aqui neste mundo, já está no nirvana.

P: Não existem causas cujo efeito é a criação de infernos?

R: Sem dúvida, o exemplo acima é o da raiva.

P: E se existem quem vai para lá?

R: Aquele que está com raiva e ódio já está lá.

P: Se não existem porque se fala neles e se os descreve?

R: Porque existem, mas não são propriamente lugares, apenas se seu entendimento for estreito esta compreensão é a única que surge, e dependendo do público é conveniente ensinar assim.

P: Não é a mente ultima, mas sim o eu, que vai para o inferno?

R: Não há um eu que sobreviva à morte, o eu é uma operação mental, o que sobrevive e continua é o carma.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cancelada a Vinda de Moriyama Roshi ao Brasil

Cancelada a Vinda de Moriyama Roshi ao Brasil

Infelizmente informamos que o Mestre Moriyama Roshi cancelou sua vinda ao Brasil (que seria de 11 de fevereiro a 15 de março de 2011), por problemas de saúde. Até onde fomos informados não é nada muito sério, ele será submetido a uma bateria de exames, mas considerando sua idade (73 anos) e a longa viagem Japão/Brasil os médicos lhe recomendaram, por precausão, ficar no Japão, neste momento.

O Mestre envia seu pesar por não poder vir ao Brasil desta vez e lamenta pelo transtorno, afinal sabe de toda a mobilização com sua chegada.

Certa da compreensão de todos, agradeço o apoio que tivemos.
Em Gasshô,
Monja Shoden

A vida cotidiana


Irmãs, praticantes do Dharma, em evento da Comunidade de Florianópolis.

"Isolar o Dharma da vida cotidiana é a pior falha do budismo hoje. Os mais experientes fiéis parecem não conseguir se libertar da cobiça, da raiva e da ignorância, mesmo os mais letrados na doutrina ainda se flagram fofocando a respeito do que as pessoas consideram certo ou errado.
Se o budismo se alienar da vida real, o Dharma deixa de suprir nossas necessidades e de ser nosso guia; se não enriquecer o conteúdo de nossa vida, sua existência perde o significado. Os ensinamentos do Buda visam à melhoria da vida, à purificação da mente e ao aprimoramento do caráter. É um budismo relevante para a vida e o viver que eu quero difundir.
A vitalidade do budismo depende do quanto conseguimos estar em harmonia com os ensinamentos do Buda enquanto dormimos, conversamos, caminhamos ou exercemos qualquer tipo de atividade. O Buda falou sobre a determinação da mente. Para aplicar tal ensinamento, a mente deve ser resoluta na forma como conduzimos nossa vida diária, nossa maneira de dar e, em geral, nossa maneira de praticar o budismo. Dormir com uma intenção torna o sono mais reparador; ingerir com atenção torna o alimento mais saboroso; andar com resolução torna a estrada mais suave; enfrentar um problema com determinação torna-se um desafio prazeroso.
A determinação da mente é um aspecto do ensinamento do Dharma que é útil na harmonização de todos os níveis de relacionamento humano. Não é apenas uma retórica filosófica. O Dharma deve ser exercido e praticado da forma mais ampla possível. Não há como separar o Dharma da vida." - Venerável Mestre Hsing Yün, em sua biografia Espalhando a Luz, publicada pela Cultura Editores Associados, 2002.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Irmão no caminho espiritual




Padre Columbar, monge da antiga ordem católica dos Columbares, ( sec VI) esteve em visita ecumênica a nossa Sangha e teve a oportunidade de comparar, para os praticantes, as práticas espirituais monásticas católicas com as budistas.
Surpresos muitos se sentiram com as enormes similaridades entre os dois caminhos monásticos que já foram explorados nos livros de Thomas Merton, o monge trapista que estudou o budismo do sul da Ásia e comparou os dois monasticismos.
Conhecer o Padre Columbar, meditar com ele e ouvi-lo dialogar em público com os monges budistas foi uma experiência enriquecedora, eivada de erudição, tolerância e caridade mútuas, um verdadeiro privilégio para todos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Os que portam rakusu


Almoço informal em zazenkai na Sangha de Florianópolis.

Os portadores de rakusu, aqueles que fizeram votos e receberam a miniatura de um manto budista para levar ao peito, são os ossos da Sangha budista. Eles assumiram o compromisso dos 16 preceitos na cerimônia de Jukai, um mestre lhes deu nomes do Dharma, e um dos preceitos a que se comprometem é o de não sonegar ajuda material ou espiritual quando necessária.
Assim os rakusus, como normalmente são chamados, vão até a comunidade para participar das meditações e cerimônias, tentam ser exemplos de comportamento para os iniciantes, e com sua presença criam o ambiente necessário para que a Sangha exista. Eles assumem tarefas, por menores que sejam, com o objetivo de fazer a comunidade continuar e subsistir, feita como é de pessoas e pequenos atos. Por esta razão eles são os ossos da Sangha, que sem eles fica amorfa e sem vitalidade.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Competição


"É positivo querer chegar primeiro desde que a intenção seja abrir caminho para outros, tornar mais fácil o caminho deles, ajuda-los ou mostrar-lhes o caminho.
A competição é negativa quando desejamos derrotar os outros, empurra-los para baixo para podermos subir"
Dalai Lama

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Meditação altera estrutura do cérebro


Moriyama Roshi, mestre zen que estará no sul do Brasil neste início de ano, conversa com praticantes de Florianópolis no evento de 50 anos do Templo Busshinji, SP.

Meditação altera estrutura do cérebro em oito semanas

Redação do Diário da Saúde

Este estudo reforça resultados de pesquisas anteriores ao eliminar outros efeitos e

documentar que as diferenças foram efetivamente produzidas pela meditação.

Massa cinzenta

Dois meses de prática de meditação são suficientes para gerar mudanças mensuráveis nas regiões do cérebro associadas à memória, ao sentido de si mesmo, à empatia e ao estresse.

Em um estudo que será publicado na revista Psychiatry Research, uma equipe liderada por cientistas do Hospital Geral de Massachusetts (MGH) relata os resultados deste que é o primeiro estudo a documentar alterações na massa cinzenta do cérebro produzidas pela meditação.

Os praticantes de meditação sempre afirmaram que, além da sensação de relaxamento e tranquilidade física, eles experimentam benefícios cognitivos e psicológicos de longa duração.

Os cientistas agora confirmaram essas alegações e demonstraram que elas estão associadas a alterações físicas reais no cérebro.

Meditação que altera o cérebro

Estudos anteriores de vários grupos encontraram diferenças estruturais entre os cérebros de praticantes de meditação experientes e de indivíduos sem história de meditação, sendo observado um espessamento do córtex cerebral em áreas associadas com a atenção e a integração emocional.

Este estudo reforça essas conclusões ao eliminar outros efeitos e documentar que tais diferenças foram efetivamente produzidas pela meditação.

O estudo usou imagens de ressonância magnética do cérebro dos participantes.

Os participantes relataram também redução do nível de estresse, que foram correlacionados com a diminuição da densidade da massa cinzenta na amígdala, que é conhecida por desempenhar um papel importante na ansiedade e no estresse, mas também na sociabilidade.

Plasticidade do cérebro

Por muito tempo os cientistas acreditaram ter "evidências" de que o cérebro era uma estrutura fixa, com um número de neurônios que só fazer decrescer ao longo da vida.

Hoje já é reconhecido não apenas que o cérebro é dotado de uma incrível plasticidade, mas também que mudanças no cérebro podem ser induzidas voluntariamente.

"É fascinante ver a plasticidade do cérebro e que, praticando a meditação, podemos desempenhar um papel ativo para mudar nosso cérebro e aumentar o nosso bem-estar e nossa qualidade de vida," diz Britta Hölzel, da Universidade de Giessen, na Alemanha, coautora do estudo.


Fonte: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=meditacao-altera-estrutura-cerebro&id=6138&nl=nlds

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Espontaneidade no zen


Kotoku San, monge de S. Francisco, EUA, e um grande amigo no angô oficial de formação de professores em Yokoji, CA. A toalha na cabeça é tradição para os monges durante os períodos de samu (trabalho).

Cleary coloca que:
«Durante séculos tem havido uma tendência bastante marcada nos círculos zen para identificar velocidade com espontaneidade, graças ao uso da primeira como uma
imitação ou substituta para a última. É a ilusão que o mestre zen Takuan alude aqui [na última citação, não mencionada por mim]. (...) Ela também foi promovida no
Ocidente pelo popular autor D. T. Suzuki, o qual freqüentemente dava a impressão de que o Zen depende da rapidez intelectual, a ponto de bastar qualquer tipo de declaração ou ação absurda, contanto que seja tão rápida que pareça espontânea.
Como resultado dessa tendência, torna-se confusa a diferença entre reações automáticas (tais como dizer ou fazer o que quer que venha à mente no momento) e a
resposta desperta e precisa da consciência fluida, conforme originalmente desenvolvida no Zen autêntico.
A convicção manifesta de D. T. Suzuki, qual seja, a de que a iluminação zen é irracional, também ajudou a proteger esse tipo de percepção errônea da análise
crítica no contexto do próprio Zen conforme tornou-se conhecida através de suas obras no Ocidente.
(...) A fascinação pela réplica perspicaz já havia sido repudiada pelo grande mestre zen chinês Dahui cinco séculos antes de Takuan, mas as escolas zen
japonesas orientadas para os samurais parecem ter restaurado o culto da velocidade, devido a sua própria preocupação com a prática das artes marciais.
Entretanto, a espontaneidade genuína, proveniente da imediação da consciência aberta e centrada (em vez do reflexo condicionado), é valorizada não apenas pelos
guerreiros zen, mas por todos os que procuram aplicar a consciência zen às situações reais da vida.»
Cleary continua analisando o ensaio "Onde fixar a mente" de Takuan, onde ele fala de como transcender a fixação mental."
(Contribuição de Emerson)


MG: A prática formal do zen, que aparentemente tão rígida está sempre condenando os aprisionamentos inclusive aos rituais, e quando você começa a praticar como monge é praticamente impossível fazer tudo certo tal a quantidade de detalhes.
Mas tenho um mais um exemplo: quando vemos um concerto de música clássica o executante está tocando uma obra complexa com milhares de notas e instruções completamente escritas, no entanto ele deve fazê-lo de cor, somente sabendo tão profundamente que apenas os dedos toquem pode-se dar interpretação, não há tempo para decidir isto aqui, este dedo acolá, a fluidez deve ser absoluta, aí há espaço para o que chamamos interpretação, quando toda a forma é instintiva, livre do pensar, existe um outro mundo a ser descortinado.