quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Palavras e poesia


P. Quer dizer então que nós fazemos parte deste imenso fractal?

R. Sim, isto mesmo. Nós fizemos isto, esta idéia do fractal que é que cada pequeno pedaço repete a fórmula anterior, como numa árvore em que cada pequeno galho é como uma árvore inteira. Imaginamos isto muito mais amplo em todo universo e nós vamos ver que as bordas de uma folha seguem as mesmas leis de distribuição matemática da costa de um país e quando vemos isto então percebemos esta imensa unidade de concepção, de expressão que tem o nosso universo. É que normalmente não conseguimos entender.

P. O dualismo então seria gerado pela pobreza das palavras?

R. Sim, pelas pobrezas da linguagem que estão implícitas na linguagem como ferramenta mas ao mesmo tempo são a única maneira que uma linguagem tem para funcionar.

P. Não seria possível existir uma linguagem perfeita?

R. Não, uma linguagem perfeita não, pela própria característica da ferramenta linguagem. Uma outra maneira de entender isso é assim: um anatomista pode examinar, abrir um homem, examinar e descrever com perfeição seu coração, seus nervos, seu cérebro, seus neurônios até a medula, mas isto não diz nada sobre a sensação do amor porque esta análise está num nível inferior, você precisa subir um degrau de expressão para ir para o degrau superior. Por exemplo, as palavras permitem a poesia, mas a gramática não explica a poesia. Um dicionário não explica a poesia, a poesia está num outro nível. Ela está fora deste nível de análise inferior, tudo no mundo é assim, nós temos níveis diferentes, quando nós tentamos analisar a espiritualidade com as palavras não pode funcionar, é impossível funcionar.

P. Neste caso uma poesia seria menos dual, uma boa poesia?

R. Sim, uma boa poesia seria. O que a poesia realmente faz? Ela cria paradoxos, ela burla as leis da própria linguagem, usa as entrelinhas, usa coisas para poder expressar um sentimento, mas só entende o sentimento que está na poesia aquele que já o vivenciou, pegue uma poesia e leia uma poesia de dor de cotovelo para uma criança que nunca teve isto, pegue uma música desta sensação que é talvez a mais presente na nossa música popular brasileira, pegue esta música, uma letra de boa qualidade e leia para uma criança com uma boa compreensão de 12 anos, mas que nunca tenha vivenciado isto, ela não tem muito significado para ela, mas quando ela ficar adulta e sofrer o mal de amor e você colocar a música no rádio e ela ouvir então ela sente a emoção, ela chora, ela entende. Por que? Porque as palavras não explicam. Você pode ser “recordado” dos sentimentos através das palavras.