sexta-feira, 29 de junho de 2012

Esquecer de si mesmo é mais espetacular



Pergunta: Numa situação em que a gente está com dor de ouvido. A dor de ouvido pertence ao eu ou não pertence?
Monge Genshõ: A dor de ouvido pertence a um dos agregados, a forma, e realmente dói. A questão é ela dói em alguém ou ela é uma dor separada da identidade e a identidade foi construída? Quando a gente vê aquelas fotos, por exemplo, de um monge Zen meditando e sendo consumido por fogo, queimando vivo, mas sem se mexer, a dor existe ou não? Sim, a dor existe, mas ele pode ver a dor como separada da sua identidade e não precisa reagir se não quiser, não precisa perder o controle, sair gritando e pedir apaguem, apaguem. Não, pode morrer queimando, tranqüilo, ser um com o fogo. É isso que aconteceu várias vezes na guerra do Vietnã, certamente vocês já viram as fotos e o mundo todo não podia entender o que exatamente estava acontecendo. Mas não é nada de fantástico. Na prática do zazen você pode adquirir condições para deixar a dor do lado de fora, ou mesmo ser um com a dor, e isto é muito interessante porque é uma condição que você pode ter para o resto da vida. Mero treinamento, subproduto, vamos dizer assim, da prática. Parece espetacular para os que olham do lado de fora. Mas na realidade não é tão espetacular assim, extinguir o eu é muito mais espetacular.

Vale esclarecer que não é um suicídio em si, mas sim a doação de sua vida para beneficiar os outros seres, para tentar modificar uma situação política de grande crise.