quarta-feira, 18 de julho de 2012

A vida é que nos vive




(Cont.)

De modo que Maha Prajna Paramita significa
que a sabedoria se revelou agora,
não apenas como você, mas como toda a vida,
de tudo.
E nós a estamos vivendo!
E nós somos vividos por ela!
Isso é o que significa mahaprajnaparamita,
e é isso o que o Bodisatva Avalokiteshvara faz.


Neste trecho, há um conceito que originalmente em língua japonesa parece mais claro, que faz mais sentido. Na tradução para o português, assim como para o inglês não faz o mesmo sentido. A pergunta é: nós estamos vivendo ou é a vida que está nos vivendo? De certa maneira nós estamos vivendo, mas de outra maneira mais ampla a vida inteira está nos vivendo. Nós somos apenas parte da vida. Nós é que pensamos que somos especiais, indivíduos que precisam se iluminar para ver as coisas tais como são. Se vocês olharem pela janela e perguntarem, mas e esta árvore ali fora no meio de toda esta floresta ela precisa se iluminar? Não, ela não cogita, não pensa. Ela vive naturalmente. Como ela vive naturalmente nem teme a morte. Ela partilha a existência dela com a floresta. Ela não é indivíduo. É a própria floresta. Quando ela morre dela nascem outras árvores. Ela aduba o solo. Coisas assim acontecem. 
A floresta é que é o ser, o grande ser e as árvores em si nascendo e morrendo não tem muita importância. Existe um equilíbrio nisso. Nós conseguimos entender isso olhando para a floresta. Nós temos enorme dificuldade para entender olhando para os seres humanos. Quando morre um ser humano nós choramos ou nos entristecemos. Quando nascem nos alegramos, é assim porque nós vemos todos os seres humanos como indivíduos, porque olhamos para nós como separados. Se nós apagássemos esta noção de que somos indivíduos separados, e nos sentíssemos a humanidade, ou mais do que a humanidade, os seres sencientes, ou mais do que os seres sencientes, nos sentíssemos como - a vida; nascimento e morte não teriam mais importância. Por não conseguirmos enxergar assim é que tememos a morte, por isso nós sofremos, ficamos na margem de cá, porque a margem de lá seria a percepção com sabedoria de Prajna Paramita. A percepção da outra margem não tem essas angústias. Porque ela também não tem mais a noção de um eu. Budismo parece muito complicado. Falamos muito, ensinamos muito sobre muitos aspectos filosóficos, mas se nós fossemos resumir o budismo seria com isso – não há um eu. Não há um eu intrínseco a coisa alguma. Se nós conseguíssemos desconstruir esse eu particular tudo estaria resolvido. (Comentário de Monge Genshô)