sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O céu não é perturbado pelas brancas nuvens que passam



Pergunta – Isso que é o não eu?

Monge Genshô – Se conseguir ouvir o sons como se eles se apresentassem e passassem sem nenhum julgamento, não haveria nenhum eu julgando. Isso é um treinamento para a plenitude, é o samadhi. É necessário transportar essa mente da meditação e levá-la para fora. Treinamos sentados primeiro porque é mais fácil, ficamos quietos, imóveis, nosso corpo não se move então não geramos carma de corpo, ficamos em silêncio, então não geramos carma de fala. Silenciamos nossa mente simplesmente aceitando até nossos próprios pensamentos, que eles se apresentem e que vão embora, não lutamos com eles, não os seguimos, não fazemos associações, não criamos histórias, ficamos aqui sentados e aceitamos os pensamentos da nossa mente como meras nuvens passando no céu. O céu não é perturbado pelas brancas nuvens que passam. Se apenas aceitarmos sem nenhuma reação, como estamos treinando aqui, nos levantarmos e levarmos essa mente para fora e aceitarmos as palavras das pessoas, os acontecimentos com a mesma equanimidade que treinamos sentados mas se quando sentados formos bons praticantes, mas ao levantarmos nos transformarmos em pessoas reativas, não aconteceu nada, não levamos a prática para a vida ainda.

Por isso é necessário que o praticante aja, que ele treine e lide com o mundo, senão o zen tornou-se inútil. Como a história do monge que foi para a montanha e meditou tranquilamente sozinho durante anos e sentiu-se perfeito em sua tranqüilidade e serenidade. Um dia ele desceu até a cidade e foi até a feira. Lá um homem pisou no seu pé, ele virou-se com raiva e nesse momento  entendeu que sua prática tinha sido falha,  é claro que podemos ver quando sentados em meditação, pelos pensamentos que se apresentam, qual o estado de nossa mente. Mas, testar de verdade tem que ser na vida. Não tem como dizer que um monge é superior a um leigo, isso não existe. A questão é como eles agem no mundo, como são suas mentes, suas ações, então podemos dizer e o mestre irá reconhecer essa superioridade de prática. Quando estivermos sentados poderemos olhar e dizer quem ele é, quando estiver andando, falando ou comendo, nós poderemos ver, então aparece a qualidade espiritual. Nas ações. Não existe melhor para ver quem é uma pessoa do que um sesshin (retiro). Levantar de madrugada, comer com tigelas, os oryoki, ficar cansado no zendo (sala de meditação), horas e horas meditando com a boca silenciosa. Ele não precisa falar nada, olhando as pessoas podemos ver qual é o estado de seu treinamento, ninguém consegue esconder.