sexta-feira, 8 de março de 2013

Mente e corpo transparentes


(continuação)
Pergunta - Poderia se dizer que esse eu que desapareceu se somou a vacuidade?

Monge Genshô – Ele já era a vacuidade, só não podia perceber que era a vacuidade porque estava perdido nas fantasias de sua elaboração mental.

Pergunta – Mas na vacuidade muitos outros se tornaram divindades. Então, eu me somei, ou, eu sou uma soma...

Monge Genshô – Por isso que a analogia não fica muito perfeita se usamos uma soma, porque, desde o inicio já era assim, o que havia era uma ilusão que impedia de reconhecer. Então o que fazemos quando calamos a nossa mente na meditação é criar terreno e possibilidade para poder reconhecer o que está perante nossos olhos, mas jamais vemos, porque estamos perdidos na nossa noção de identidade própria.

(texto)”No segundo caso, quer dizer, na interiorização do exterior, o que até agora foi considerado exterior ao nosso ser é subitamente vivenciado como interior à mente. Então tudo quanto se experimenta e se observa no chamado mundo exterior é percebido como uma operação da mente, autodeterminação particular e todo acontecimento exterior se percebe como acontecimento interior.”

(comentário) É outra maneira de observar o mesmo acontecimento. Pois assim como você se dissolve na vacuidade do seu eu, e percebe que é, que se expandiu até os limites do universo, assim também todo esse universo esta contido dentro desse interior, esse interior também contem tudo. São duas formas de observar a mesma coisa.

(texto) “O ser humano sente que mente e corpo se fizeram totalmente transparentes, perderam sua opacidade existencial. Uma opacidade que enfrentava e se colocava contra tudo que viesse de fora. Se sente a si mesmo, segundo a expressão do Mestre Hang Chang do século XVI, “como um grande todo que ilumina, infinitamente lúcido e sereno”. “

(comentário)Nós estamos aqui fazendo o impossível, tentando descrever com as palavras dos Mestres, experiências que são intraduzíveis com palavras. São meras aproximações. A essência mesmo é a experiência na almofada. Só que ouvindo falar das experiências dos mestres, nós sabemos como é o caminho e podemos reconhecer com mais facilidade cada estado que se apresenta. Quando vocês aqui em zazen no sesshin, subitamente, com a mente calada virem – Como é bonita essa sala, como é maravilhoso o momento – quando sentirem esse contentamento, essa alegria, isso já é uma primeira experiência, uma primeira experiência espiritual, já é um insight, ele não precisa ser espetacular, não precisa ter fogos de artifício, na realidade é uma experiência calma, embora maravilhosa. E estamos praticando para que ela surja, não devemos procurar, se apenas sentar, sem ambições, ela se apresenta. Se sentamos e queremos alcançar algo, essa mera ambição, reforça nosso ego, e ao reforçar nossa noção interna, nos impede de nos expandirmos e abarcarmos o universo ou de deixar que o universo se manifeste integralmente dentro de nós.