terça-feira, 23 de abril de 2013

A vida é como é



Pergunta – Como um psicólogo pode lidar com o que é levado até ele?

Monge Genshô – Bom, o psicólogo tem suas próprias técnicas. Ele trabalha num outro âmbito. Ele trabalha com “eus”, com a relação de um indivíduo com o mundo, tenta construir um ego estruturado que possa se relacionar bem no mundo. Mas não é assim que o zen trabalha. O objetivo de um mestre zen é na verdade destruir. É tirar o tapete de baixo do eu. Deixa-lo solto, sem nada onde se agarrar. É um processo completamente diverso e não é para ser aplicado para qualquer um, somente para aqueles que queiram se libertar, para uma pessoa que já apresente algum tipo de problema pode ser perigoso.

Então a prática do zen é uma prática para pessoas que estejam razoavelmente equilibradas, pois serão apresentadas à uma crise onde você não tem suporte. De repente você perde os deuses aos quais os homens sempre se agarraram. Se você tentar se apoiar no seu professor, ele não o apoiará, ele o apresentará à uma crise ainda mais aguda, colocando você em problemas mais difíceis, ou mesmo fazendo perguntas que você tem muitas dificuldades em responder.

Esses dias um homem me escreveu perguntando sobre a ordem subjacente do universo. Porque a matéria se organizava de maneira a fazer vidas, “eus” e coisas assim, um mundo como o nosso perdido dentro de uma imensa galáxia, que é apenas uma dentro de bilhões de galáxias, parece tudo sem sentido, ele queria uma ordem subjacente, e eu lhe perguntei, “uma ordem criada por quem, com qual objetivo?” Na verdade ele não vai encontrar o sentido ou objetivo, porque afinal esse próprio universo irá se dissolver com o tempo em entropia, as estrelas se apagarão, a matéria irá se desorganizando, a energia vai se espalhando de formas não aproveitáveis de modo que um dia esse universo se apagará, e você quer um sentido? Uma resposta zen é, “a vida é como ela é e as coisas são como são”.