quinta-feira, 25 de julho de 2013

Estou aqui para puxar o tapete de baixo de seus pés



Porque temos uma mente que pensa, pensamos “eu sou”. Por isso Descartes disse, ”penso logo existo”. Para o Budismo a frase correta é, “Penso, por isso penso que existo”. Somos uma ilusão ambulante com um cérebro fabricando continuamente a noção de um “eu”. Por estarmos continuamente fabricando a noção de um “eu” nos perdemos da interconexão, interdependência e da unidade de todas as coisas.

Voltando à analogia da onda. Somos uma onda e não percebemos que somos mar. As ondas surgem e desaparecem, o mar não. As pessoas ficam tristes quando vêem uma onda morrer na beira da praia? Não, as pessoas olham o mar e dizem -”Que lindo”. Quando as pessoas olham as ondas quebrando, elas vêem o mar e sua verdadeira natureza, e sabem que as ondas são manifestações que surgem e desaparecem na sua superfície, sempre retornando a ser mar, a única realidade verdadeira. A dimensão suprema do oceano é o próprio oceano. As ondas vivem numa dimensão histórica, surgem e desaparecem, surgem e desaparecem continuamente. Isso é muito claro sobre o mar, não é? Mas não é igualmente claro sobre nós mesmos.

Vemo-nos como ondas, pensamos que existimos e temos medo de morrer na beira da praia. Porque não nos vemos como o próprio oceano, perdemos de visão nossa verdadeira natureza, só percebemos nossa natureza temporária, que surge e desaparece, sofremos e temos medo de morrer. Por termos esse medo e essa angústia existencial, inventamos religiões. As religiões existem para dar uma crença na continuidade do “eu”. Por isso inventamos almas e espíritos imortais. As religiões sempre fizeram isso. Os egípcios mumificavam seus corpos para sobreviver à morte. Os gregos acreditavam que após a morte os bons iriam para uma ilha onde a comida caía do céu e poderia se passar tempo discutindo filosofia. Para os Vikings o céu era uma eterna guerra de muitas batalhas e saques. Em todas as religiões há uma solução para salvar o “eu” após a morte.

O Budismo não se encaixa facilmente como uma religião porque não tem nenhuma crença desse tipo para oferecer. O Budismo lhe diz: “Você está iludido e estou aqui para puxar o tapete de baixo de seus pés”.