terça-feira, 10 de setembro de 2013

Saber estar aqui



Pergunta – Não há uma contradição quando o senhor diz para vivermos no agora, mas sem pensar na questão de causa e consequência, já que essa consequência será no futuro, mas não tenho que viver o agora, como é isso?

Monge Genshô – Não. Viva o agora, perceba o agora, mas saiba que você é responsável por tudo no futuro, da mesma forma que tudo que acontece com você agora é consequência de um passado. A proposta não é não pensar nas consequências, viver o agora implica em “saber estar aqui”, é como beber chá. Provavelmente quase ninguém hoje bebeu chá. Beber o chá é segurar a xícara, sentir seu calor, sentir o aroma do chá, colocar o chá na boca, sentir o sabor e engolir e, mesmo depois de engolido, senti-lo descer pela garganta, isso é beber o chá e exige grande presença, sem presença você não bebe o chá verdadeiramente, apenas executou um ato automático e é assim que a maioria das pessoas vive hoje em dia, ligadas no automático e por essa razão não vivem, apenas passam pelo mundo como uma espécie de zumbi.

Observem as pessoas nas ruas, são sonâmbulos e alguns até falam sozinhos. Sequer sentem o chão abaixo de seus pés nem escutam os pássaros, não estão vivos realmente. Muitas pessoas logo ao chegar em casa ligam a televisão, elas precisam de algum tipo de ruído. Eu tenho esse tipo de experiência a todo o momento. Quando pego um taxi, por exemplo, o motorista está sempre com o rádio ligado, mas ele deseja conversar com você, se eu peço que desligue o rádio, em poucos minutos ele automaticamente liga novamente, não pode ficar sem o ruído de fundo.

As pessoas usam a desculpa da distração ou da diversão, mas na realidade é não viver o agora, é viver alguma embriaguez. Nos mosteiros Zen é o oposto, não tem música, televisão ou celular para se distrair ou divertir. Se você pega um instrumento para trabalhar deve estar totalmente presente na sua obrigação daquele momento. Por quê o zazen é de frente para a parede? Para diminuir até o último grau, qualquer distração ou diversão. Imobilizamos o corpo com o objetivo de parar a mente, fazê-la ficar ali naquele momento.