quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Nenhum todo com o qual se unir



Pergunta – Se formos levar ao pé da letra o termo “Shikantaza” (apenas sentar-se), de onde viria a motivação para sentar em meditação?

Monge Genshô – No início você senta por causa do sofrimento, porque tem alguma angústia existencial ou está a procura de algo, esse é o primeiro movimento das pessoas, quase todas vem com uma mentalidade aquisitiva. Shikantaza é apenas sentar sem tentar adquirir nada, adquirir algo da meditação é materialismo espiritual. Muitos chegam aqui com desejos de serenidade, paz, calma ou felicidade, isso é um desejo de adquirir algo e é um impeditivo para o despertar, pois você trouxe a mentalidade aquisitiva para a prática espiritual. A verdadeira prática espiritual é uma desistência. É muito bom quando o aluno diz que não sabe mais porque senta, mas isso é muito sutil, pois as pessoas normalmente praticam para obter algo, algum mérito. 

Pergunta – Seria porque o ato de adquirir sugere trazer algo de fora para dentro? E isso não é adequado, pois não há a necessidade de se trazer nada?

Monge Genshô – Por ser um ato egóico. Até poderia ser visto sob esse aspecto, mas não é por isso. O ponto principal é que o “eu” é uma ilusão e a partir do momento que você deseja adquirir coisas para ele, você está apenas reforçando essa ilusão. O desejo de adquirir coisas espirituais também é para seu “eu”. “Eu quero ser santo”, “Eu quero ser puro”, “Eu quero ser uma pessoa respeitada e admirada”, todas essas coisas que são para o “eu” são materialismo espiritual. Esse não é o verdadeiro sentimento elevado, a vida espiritual é morrer para si mesmo, é esquecer-se de si mesmo. 

Pergunta – Esquecer-se de si mesmo no sentido de se juntar ao Todo, se sentir o Todo?

Monge Genshô – Não há um todo com o qual se unir. Se você pensa “eu sou o Todo” ainda está pensando em um “Eu”.