quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Dor na meditação


1) O que eu vivi hoje foi uma dificuldade muito grande em razão da dor. Gostaria de uma instrução de como lidar com a dor durante o zazen.

Monge Genshô – Você sempre pode trocar de posição. Se ainda assim continuar doendo, pegue uma cadeira. Você tem a opção de escapar da dor, mas por outro lado o sofrimento é bom. O caminho mais curto para a realização espiritual é o sofrimento físico e emocional. As pessoas que não sofrem têm grandes dificuldades. Havia uma pessoa que tinha todas as facilidades, havia nascido numa família sem dificuldades financeiras, era inteligente, boa saúde, bonito e o seu mestre lhe disse, “Eu oro para que a vida lhe traga muita dificuldade”. O que ele temia é que com tantas facilidades na vida o jovem ficasse cada vez mais orgulhoso e vaidoso. O sofrimento nos tira de nosso “eu”, pois nos desestrutura e desestabiliza. Essa é a situação para a realização espiritual. Em geral a maior dificuldade dos alunos e Monges Budistas é o ego e a vaidade. É possível perceber claramente o desejo de reconhecimento e prestígio.

O objetivo dos treinos em um mosteiro é quebrar esse ego, as pessoas dormem no chão, comem a mesma comida, vestem o mesmo tipo de roupa, não são permitidos uso de jóias ou perfumes, a comunicação é restrita para evitar que alguém se destaque, algo bem próximo do que temos no nosso sesshin. O sofrimento tem a virtude de demolir o ego e é uma grande oportunidade de descobrir nossa verdadeira natureza, algo que está além das lantejoulas do ego. Aproveite o sofrimento, mas se ele for tanto que você não consiga pensar em mais nada, ele está perdendo seu objetivo, mude de posição ou pegue uma cadeira. A vergonha que você sente por se mexer e incomodar o colega ao seu lado é bem vinda, desistir de ser bom, de sentar perfeitamente, de ser bom praticante é muito bom, reconheçam, vocês não são bons praticantes. Quem pensa que é bom e pode ensinar, está no caminho errado. Saikawa Roshi disse que o melhor sentimento de um praticante é: “Eu sou um tolo”.