quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Use o sistema mas não se confunda com ele


Pergunta – Então é muita perda de tempo ter raiva, pois tudo faz parte do sistema, faz parte de uma ilusão.

Monge Genshô – Exato e se você puder abandonar tudo está livre. Mas mesmo assim nunca se estará totalmente livre, veja, a pessoa se torna Monge e os seus alunos esperam algo de você. Então é outro tipo de sistema, mas ainda é um sistema, pois você tem obrigações, tem que cumprir com cronogramas de retiros, sangha e etc.

Pergunta – Mas o sistema é necessário para a sobrevivência de todas as pessoas, pois se todos resolvem burlar o sistema, a sociedade para e do que as pessoas viveriam?

Monge Genshô – Exato, mas onde está a grande questão? Eu tenho um nome, mas tenho que entender que ele apenas serve para que eu transite nesse sistema, é só uma fantasia, não uma realidade. Você possui um numero de CPF que lhe é útil para que você consiga uma série de coisas, mas deve entender que esse número não é você, é apenas uma fantasia criada dentro de uma instituição. Se você tiver a consciência clara de que é uma fantasia, poderá perdê-lo sem desejar se matar. A pessoa que se mata porque perdeu o crédito acreditou que ela fosse a fantasia, o nome ou o número. A pessoa pode usar o sistema e seus rótulos como algo útil, desde que não se confunda com eles. É como usar uma roupa, você não pode pensar que você é a roupa. Essa compreensão é muito importante.

Pergunta – Eu fico pensando nessa pessoa e se ela fez algo para que isso acontecesse realmente ou se foram as circunstâncias que o colocaram nessa situação. O problema de ser o caloteiro é quando a própria pessoa cria as condições de ser chamado de tal.

Monge Genshô – Essa é outra situação. Isso é usar de artifícios dentro do sistema para levar vantagens. Mas de qualquer forma esta pessoa também está presa ao sistema. O que eu quero é fazer com que vocês olhem para o sistema e seus rótulos como instrumentos para transitar no mundo, mas não se confundam com eles. Você não é o “eu”, pois nada tem um “eu” inerente, todos os “eus” são construídos e tudo que estamos falando sobre sistema faz parte das atribuições criadas pelo sistema. É funcional? Sim, mas é uma ilusão, não é a realidade e por isso não tem sentido, por qualquer coisa que aconteça dentro desse sistema, você se matar. A grande lição disso tudo é a existência de uma liberdade fundamental da qual você pode usufruir. Você pode usufruir de todo o sistema desde que não perca sua lucidez. O sistema é útil, mas não é a essência da vida. O dinheiro é útil? Sim, mas não somos o dinheiro.