segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Sumedha e as prostrações


 Nas crenças populares o budismo também é assim, quando você vê um documentário de budismo, as crenças populares também são ingênuas, não é aquilo que Buda ensinou, é aquilo em que o povo transformou o budismo, para poder entendê-lo. Então vamos a países budistas e vemos as pessoas fazendo pedidos num pedacinho de papel e pendurando em árvores, e vão dizer que isso é o budismo, isso é outra coisa, isso é aquilo que foi possível para aquele tipo de mente, que precisa fazer pedidos e quer um auxílio externo sempre para si, coisa que, na essência, o ensinamento budista negaria. 

Então, para quem nos inclinamos, se não existe o Buda, não existe o outro? Nós nos inclinamos para combater nosso próprio orgulho, assim a prostração que é muito difícil para muita gente, na sangha leiga mesmo, muito parcimoniosamente é realizada, mas no sesshin no final do dia digo: “voto do Bodhisattva e sampai”. Sam quer dizer três. Sampai, três prostrações, e fazemos prostrações até o chão, cotovelos no chão, joelhos no chão, cabeça, e as mãos na altura das orelhas, para receber os passos de Buda, para servir de ponte sobre a qual Buda caminha.

Esta é a lenda, de que numa outra era, Sumedha, um praticante, viu Buda Dipankara, o Buda da era anterior e havia lama no caminho e ele se jogou no caminho, para que Buda caminhasse sobre ele. Aí Buda Dipankara colocou os pés sobre as costas e as mãos dele, e passou sobre ele, virou-se, Sumedha olhou pra trás e Dipankara disse: “daqui a 500 vidas, você será um Buda”. Então, 500 vidas de Bodhisattva depois, Sumedha tornou-se Shakyamuni Buda. Então esta é a lenda que justifica a tradição da prostração. Então nós fazemos prostrações para dizer: “eu sou uma ponte, caminhe sobre mim”. E isso exige que você abandone a si mesmo para ser ponte para os outros seres.

É interessante nós notarmos que um dos títulos do Papa é “pontifex” em latim, pontífice em português, o que quer dizer, “construtor de pontes”. Então nós vemos as similaridades, as mesmas idéias se entremeando, não é? Nós temos que ter a clareza de olhar as coisas “vendo” através, e não vendo apenas a superfície, vendo mais fundo, aí o mundo nos parecerá diferente.

Então fazemos reverências para nós mesmos e, quanto mais profunda, quanto mais prostrações, mais é um remédio para nosso próprio orgulho. Enquanto você tiver resistência, é porque na realidade você precisa fazer.