quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Sutra do Coração da Sabedoria


Pirogravura realizada por Cassio Dias, Saikawa Roshi à esquerda.


Saikawa Roshi: Durante o zazen eu falei um pouco sobre o Sutra do Coração da Sabedoria. Sei que alguns de vocês estão fazendo sesshin (retiro) pela primeira vez e outros são bem mais iniciantes no Zen, por isso eu gostaria de falar sobre esse texto básico. No título “Maka Hannya Haramita Shingyo”, “Maka” significa grande, mas não como oposição a pequeno.

Quando falamos em “grande” no Budismo, estamos nos referindo ao infinito, sem fronteiras, sem limites. “Hannya” é o mesmo que “Prajna” que significa sabedoria, mas não a sabedoria da vida diária. Na vida diária uma pessoa sábia é uma pessoa que parece ter bastante conhecimento e é muito inteligente. No budismo sabedoria é saber como somos no momento presente, você abrir seus olhos e perceber-se um com todo o universo. Isso é sabedoria para o budismo.

Os ouvidos podem ser um com o som, o nariz pode ser um com o aroma, a língua pode ser um com o sabor, não importa se você gosta ou não, seja um. O corpo pode ser uno com o suave, duro, quente ou frio e a atividade da mente também pode ser uma com tudo que aparece, esse tipo de percepção é chamado de sabedoria, é “Prajna”. 

“Paramita” significa ir para o outro lado, a outra margem. Historicamente esse lado e o outro lado são uma representação simbólica. O outro lado é o nirvana. O caractere para “Shingyo” é mente, mas pode ser lido de outras maneiras e, portanto ter outros significados como, por exemplo, essência.

O Sutra “Hannya Shingyo” é normalmente traduzido como o Sutra do Coração, mas na verdade eu traduzo como o “Sutra da Essência da Coleção dos Sutras do Prajna Paramita”. O Sutra Prajna Paramita é uma coleção de seiscentos volumes. Aquele Sutra que eu recitei na purificação do Dojo é o quinquagésimo septuagésimo oitavo (578°) Sutra. O Sutra do Coração fala sobre a essência de passar para o outro lado.

**Colocação do tradutor, Monge Genshô - “O Roshi (venerável mestre) está explicando que os ideogramas têm muito mais significados em cada símbolo do que lemos na tradução, então, quando lemos em português o “kanji Shin”, temos que entender que por trás da tradução simples que fazemos, no caso mente, existem outras possíveis como sentimento, coração, essência etc., logo, o sutra quando lido no seu original com ideogramas, tem mais interpretações do que em um idioma fonético.” (continua)