sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Temos que usar os olhos de Buda

 
Aluno: Nós vivemos em uma sociedade que já possui algumas estruturas estabelecidas. É como se no rio do carma houvessem barreiras que não podemos desviar, quando comemos, por exemplo, por mais que nós tenhamos preferência por comer alimentos de cultivo e não animais, mesmo esses alimentos causam sofrimentos, existem pessoas que morrem, que são exploradas e tudo mais. Não há como fugir disso.

Monge Genshô:
Acontece que a iluminação não é resolver os problemas do mundo. A iluminação é um despertar para ter lucidez, se você vê com clareza como as coisas são, essa mudança de olhar te permite ver sem distinção, ver os erros e tentar melhorar o mundo, mas você não vai conseguir fazer este mundo ser perfeito porque ele já é uma manifestação cármica de imperfeição. Você precisa tirar os seus olhos e colocar os de Buda. O mundo é imperfeito por sua própria condição, os problemas são muito complexos. Se você tirasse a agricultura e dissesse: “vamos viver somente com coleta e vamos causar o menor impacto possível”, tudo bem, mas quantas pessoas iriam conseguir viver dessa forma? Muito poucas. Se fôssemos optar por viver de outra forma neste momento, não seria possível alimentar toda a população da Terra, teríamos que diminuir a população para 2 bilhões. Então o discurso da inconformidade cai no vazio por conta da falta de praticidade. Não é para a humanidade recuar para tempos primitivos, o que falta é desenvolvermos mais e melhores tecnologias que possibilitem diminuir esse impacto de outras formas.

Esses dias que ficamos aqui, nós não comemos carne. 70% do território brasileiro destinado para produção de alimentos tem gado. Agora se você determinar que ninguém mais come carne, então 70% do território pode ser devolvido para a floresta, mas para isso precisamos tomar a decisão e isso parte de dentro. Não há suficiente clareza mental para as pessoas entenderem esse impacto, elas vão dizer que não, que é impossível, que não dá, etc. Embora nós, passo a passo, venhamos melhorando a nossa visão e as nossas condutas, ainda estamos muito longe de um mundo justo e sem maldade.