sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
A Dimensão Suprema
Palestra dada no Jisui Zendô de P. Alegre, a convite da grande professora Isshin Sensei.
Não pense, apenas faça
(Continuação) Muitas
vezes os alunos dizem “mas eu quero explicações”. Nós ocidentais sempre
queremos muitas explicações, no Japão somos conhecidos por fazer isso. O
professor dá a instrução e o ocidental diz: “mas por quê?”, “por que dessa
forma?”. Quando eu estava em um mosteiro no Japão eu tinha tarefas muito
desagradáveis e cansativas para fazer, então eu dizia para mim mesmo “não
pense, apenas faça” e essa é a maneira de fazer. Se você pensar por que está
fazendo ou em maneiras melhores de fazer, todo o ensinamento fica perdido. É
como no sesshin. Há uma disciplina e essa disciplina parece militar, de fato
tem semelhanças, se você não fizer de certa forma será corrigido, mas o Zen é
diferente. Espera-se que você se aperceba por si mesmo. (Continua)
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
O treinamento ideal ocorre além das palavras
(Continuação) Voltando à questão dos rituais: você faz oryoki, mas por que faz isso dessa forma? Por que são três tigelas? Por que abrir a aba primeiro para frente? Quando eu abro para frente eu devo pensar: primeiro os outros, depois eu. Cada pequeno detalhe do ritual está cheio de ensinamentos, mas os ensinamentos devem ser compreendidos idealmente através de insights e não através de explicações.
Agora que eu expliquei isso, o insight para vocês está perdido, então eu fiz algo que o Mestre não deve fazer, porque o aluno tem que descobrir sozinho. O treinamento ideal é através do insight, de uma compreensão além das palavras, porque compreensão com as palavras é pequena. É tudo que nós temos, mas é pequena, limitada, não é grande como uma compreensão de um insight.
Uma boa comparação com esse momento é uma anedota: você conta uma anedota, a pessoa não entende e então você explica, mas ela não ri. Por quê? Porque não tem insight. Só tem riso se tiver insight. A mente só dá uma descarga de energia quando ela tem um salto de compreensão que é completo e absoluto. (Continua)
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
Mente apegada não tem abrigo seguro
(Continuação) A seção 14 do Vajracchedika Sutra se chama: “a paz perfeita está na libertação das distinções características”. Escolhi um trecho: “portanto, Subhuti, os bodhisattvas deveriam deixar para trás todas as distinções fenomenais e deveriam despertar em si o pensamento da realização do incomparável esclarecimento, pelo esforço de não permitir à mente depender de noções desencadeadas pelo mundo sensório, por sons, odores, sabores, contatos ou qualquer qualidade. A mente deve ser mantida independente de qualquer pensamento que surgir. Se a mente apega-se a qualquer coisa, ela não terá nenhum abrigo seguro”. Ele está explicando que a verdadeira compreensão é uma compreensão sem palavras. (Continua)
sábado, 24 de dezembro de 2016
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
A sabedoria da outra margem
(Continuação) No budismo
tibetano eles têm um treinamento inicial de completar 100 mil prostrações. Você
faz 500 por dia até completar 100 mil. No início você não consegue fazer 500,
fazer 100 já deixam as pernas doendo. Então uma pessoa normalmente leva meses
para conseguir completar suas 100 mil prostrações e quando completa vai até o
Mestre e ele pergunta: “e agora o que você sente quando faz prostrações?”. A
pessoa diz “não sinto nada, os sentimentos foram embora”, e o Mestre: “ah, muito
bem, agora vou lhe dar um mantra para recitar”. Nós não
temos no Zen essa prática de acumulações, mas nós temos as prostrações e as
repetições. Você fala o Sutra e pensa “isso não tem sentido”, você não sabe o
significado, mas repete, repete, repete, até que um dia você se pergunta: “o
que é isso que estou dizendo?”. Então lhe dão uma tradução do Sutra do Coração
e você vê que está escrito no Sutra: “vazio é forma, forma é vazio, vazio nada
mais é do que forma e forma nada mais é do que vazio”. Depois de ler você não
entende, porque tudo está sendo negado e é assim também que acontece com este Sutra
que estamos lendo, este também faz parte da coleção Prajnaparamita. Mas o que
significa Prajnaparamita? Prajna significa “sabedoria”, paramita significa
“outra margem”, então é “a sabedoria da outra margem”. Significa que existe um
rio da ignorância e eu estou na margem dos perdidos e iludidos, se eu
atravessar o rio, na outra margem vou encontrar a sabedoria. Por isso se chamam
Sutras da sabedoria da outra margem, é esse o significado. (Continua)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
O orgulho atrapalha a nossa prática
(Continuação) Na nossa
prática, nós fazemos oryoki, temos rituais de manhã e eu que não gostava de
reverências agora faço prostrações. Confesso para vocês que agora faço
prostrações e não sinto coisa alguma de resistência. Percebi com o tempo que
quando alguém resiste a algo no treinamento é porque tem algo escondido dentro
dele. Alguma coisa que está lá. Por que eu me incomodava com a reverência?
Orgulho. Tinha a ideia de que “não me inclino perante nada”. Então quando uma
pessoa tem muito orgulho e detesta prostrações a receita do professor é: “faça
prostrações”. (Continua)
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
As palavras não são a verdade
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
O despertar não precisa de crenças
O despertar não precisa de crenças, nós não temos
deuses e só o budismo tem chance num mundo assim. Nós temos dificuldade de
entender isso, porque também precisa ser esta forma de budismo cética e não é
bem o que encontramos. Isto aqui ainda é raro, mas este é o futuro espiritual
da humanidade, porque não é através de crenças e milagres que nós vamos fazer
com que a humanidade cresça espiritualmente. Caso contrário vamos ficar
perdidos e presos em busca de prazeres momentâneos. O fato de vocês estarem
sentados aqui ouvindo isso é uma demonstração desse futuro.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
"Não acredite em mim, teste e experimente"
A
questão do despertar é um problema porque as pessoas têm uma educação hoje que
não tinham em 1910, 90% da população do Brasil era analfabeta, hoje a proporção
se inverteu. Nos países do Norte da Europa o número de pessoas que se declaram
sem religião, ateus, está ultrapassando 50% e as igrejas são vendidas para
outras coisas. Na Holanda existem igrejas que agora são usadas como academias
de esportes. Se o mundo continuar assim, só esta forma de religiosidade que nós
estamos ouvindo aqui tem chance de sobrevivência, porque ela exige um determinado
tipo de pensamento, exige uma mente cética e só o budismo diz “não acredite em
mim, teste e experimente”.
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